Boa governança, desde o início
Richard Branson - NYT
Pergunta: Qual deve ser o papel de uma grande empresa na promoção de
uma responsabilidade social corporativa significativa e uma boa
governança em todo o mundo?
–Dani, Uganda
Resposta:
Quando eu tinha 16 anos, eu abandonei a escola para abrir uma pequena
revista chamada "Student". Era o auge dos turbulentos anos 60, e meus
amigos e eu queríamos dar uma voz mais forte à nossa geração. Nós não
paramos aí. Após o sucesso da revista, nós abrimos um centro de
orientação ao estudante, onde os jovens podiam obter orientações sobre
questões que variavam de controle da natalidade até saúde mental.
Olhando para trás, está claro que sempre sentimos que uma empresa
--pequena ou grande-- tem a oportunidade e a responsabilidade de fazer o
bem em uma comunidade.
Abusos são comuns, tanto por empresas
quanto na esfera pública. Logo, muitos leitores desta coluna me enviam
perguntas sobre como lidar com a corrupção e os pedidos de propina ao
tentarem iniciar pequenos negócios em países onde essas práticas
acontecem o tempo todo. Ao longo de mais de quatro décadas realizando
negócios por todo o mundo, eu vi o que acontece quando empresas e
autoridades corruptas conspiram para atender seus próprios interesses
mesquinhos: elas causam estragos em nosso planeta e em seus frágeis
ecossistemas, destroem comunidades e perpetuam o ciclo de pobreza. Em
consequência, muitas pessoas passam a ver as empresas e as instituições
públicas com desconfiança. E por que não veriam?
Essas práticas
não são apenas moralmente erradas, mas também ruins para os negócios.
As empresas deveriam ser as campeãs da boa governança, adotando uma
posição forte contra a corrupção e fazendo lobby por um mundo melhor.
Nós deveríamos estar lutando para construir e apoiar comunidades mais
fortes e mais saudáveis, porque as pessoas que vivem nelas são nossos
funcionários e nossos clientes, nossos fornecedores e investidores; uma
empresa e a comunidade a qual ela serve são interdependentes.
Atualmente, a Virgin é muito maior --nós lançamos mais de 400 negócios
ao longo dos anos-- e aprendemos um bocado sobre as formas com que as
grandes empresas podem fazer a diferença.
Uma é pela simples
escala. Muitas grandes corporações controlam vastas cadeias de
suprimentos que envolvem milhares de empresas menores operando em
dezenas de países. As escolhas feitas por uma equipe de gestão no topo
da cadeia --qualquer coisa, do uso de matéria-prima mais sustentável à
promoção da diversidade de gênero-- afetam todo o sistema e podem
promover mudanças mais rapidamente do que os governos são capazes.
Um exemplo que aprendi foi a decisão do Wal-Mart há poucos anos de
vender mais lâmpadas fluorescentes compactas econômicas. Seus
fornecedores não ficaram contentes, é claro, mas acataram e começaram a
mudar a produção em questão de meses. Em comparação, foram necessários
anos para os legisladores europeus chegarem a um consenso a respeito da
eliminação gradual das lâmpadas ineficientes. Regulações ambientais
eficazes são necessárias, com certeza, mas as grandes empresas podem
abrir o caminho.
Assumir uma posição a respeito de algo que
você sabe que é certo pode levar a inovação e maiores oportunidades de
negócios. Considere o que a Safaricom e a Vodafone realizaram no Quênia e
na Tanzânia com o M-Pesa, um sistema móvel de pagamento e serviços
bancários. Ao fornecerem serviços bancários sem a necessidade de uma
agência para pessoas que antes tinham pouco acesso a instituições
financeiras, o sistema forneceu novas oportunidades a milhões, o que
está promovendo crescimento econômico e reduzindo a pobreza.
Há
muito o que grandes empresas podem fazer. Há poucos anos, nós lançamos a
Sala de Guerra ao Carbono, uma iniciativa para identificar e aumentar
em escala soluções de mercado para a mudança climática. A equipe da SGC
sabia que a indústria naval podia economizar até US$ 70 bilhões por ano e
reduzir as emissões de carbono e de outros poluentes em até 30% se
adotasse tecnologias e navios de transporte mais eficientes em energia.
Consequentemente, a equipe começou a trabalhar com alguns dos maiores
membros do setor, governos e ONGs para derrubar as barreiras
regulatórias e sistêmicas para tornar os navios mais eficientes.
O resultado: mais de 4 milhões de toneladas em emissões de gases do
efeito estufa eliminadas até o momento --com potencial de muito mais.
Direitos humanos, igualdade de gênero, estado de direito e
transparência, ação climática decisiva --essas são apenas algumas áreas
onde as grandes empresas podem promover mudanças, e ao mesmo tempo
moldar seu próprio sucesso a longo prazo.
Mas o que tudo isso
significa para os pequenos empreendedores? A longo prazo, os
empreendedores movidos por um propósito ou valor tem uma melhor chance
de sucesso no mercado global. À medida que os reguladores por toda parte
endurecem as regras, e à medida que os consumidores exigem mais
produtos e serviços sustentáveis, as marcas globais farão sua parte para
encontrar fornecedores e parceiros que possam demonstrar que valorizam
tanto as pessoas e o planeta quanto o lucro.
Isso já está
acontecendo, o que é uma ótima notícia para empreendedores determinados a
ser uma força pelo bem do mundo. Essa é uma excelente notícia para
nossa sociedade e para o planeta.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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