domingo, 1 de dezembro de 2013

Boa governança, desde o início
Richard Branson - NYT
Pergunta: Qual deve ser o papel de uma grande empresa na promoção de uma responsabilidade social corporativa significativa e uma boa governança em todo o mundo?
–Dani, Uganda
Resposta: Quando eu tinha 16 anos, eu abandonei a escola para abrir uma pequena revista chamada "Student". Era o auge dos turbulentos anos 60, e meus amigos e eu queríamos dar uma voz mais forte à nossa geração. Nós não paramos aí. Após o sucesso da revista, nós abrimos um centro de orientação ao estudante, onde os jovens podiam obter orientações sobre questões que variavam de controle da natalidade até saúde mental. Olhando para trás, está claro que sempre sentimos que uma empresa --pequena ou grande-- tem a oportunidade e a responsabilidade de fazer o bem em uma comunidade.
Abusos são comuns, tanto por empresas quanto na esfera pública. Logo, muitos leitores desta coluna me enviam perguntas sobre como lidar com a corrupção e os pedidos de propina ao tentarem iniciar pequenos negócios em países onde essas práticas acontecem o tempo todo. Ao longo de mais de quatro décadas realizando negócios por todo o mundo, eu vi o que acontece quando empresas e autoridades corruptas conspiram para atender seus próprios interesses mesquinhos: elas causam estragos em nosso planeta e em seus frágeis ecossistemas, destroem comunidades e perpetuam o ciclo de pobreza. Em consequência, muitas pessoas passam a ver as empresas e as instituições públicas com desconfiança. E por que não veriam?
Essas práticas não são apenas moralmente erradas, mas também ruins para os negócios. As empresas deveriam ser as campeãs da boa governança, adotando uma posição forte contra a corrupção e fazendo lobby por um mundo melhor. Nós deveríamos estar lutando para construir e apoiar comunidades mais fortes e mais saudáveis, porque as pessoas que vivem nelas são nossos funcionários e nossos clientes, nossos fornecedores e investidores; uma empresa e a comunidade a qual ela serve são interdependentes.
Atualmente, a Virgin é muito maior --nós lançamos mais de 400 negócios ao longo dos anos-- e aprendemos um bocado sobre as formas com que as grandes empresas podem fazer a diferença.
Uma é pela simples escala. Muitas grandes corporações controlam vastas cadeias de suprimentos que envolvem milhares de empresas menores operando em dezenas de países. As escolhas feitas por uma equipe de gestão no topo da cadeia --qualquer coisa, do uso de matéria-prima mais sustentável à promoção da diversidade de gênero-- afetam todo o sistema e podem promover mudanças mais rapidamente do que os governos são capazes.
Um exemplo que aprendi foi a decisão do Wal-Mart há poucos anos de vender mais lâmpadas fluorescentes compactas econômicas. Seus fornecedores não ficaram contentes, é claro, mas acataram e começaram a mudar a produção em questão de meses. Em comparação, foram necessários anos para os legisladores europeus chegarem a um consenso a respeito da eliminação gradual das lâmpadas ineficientes. Regulações ambientais eficazes são necessárias, com certeza, mas as grandes empresas podem abrir o caminho.
Assumir uma posição a respeito de algo que você sabe que é certo pode levar a inovação e maiores oportunidades de negócios. Considere o que a Safaricom e a Vodafone realizaram no Quênia e na Tanzânia com o M-Pesa, um sistema móvel de pagamento e serviços bancários. Ao fornecerem serviços bancários sem a necessidade de uma agência para pessoas que antes tinham pouco acesso a instituições financeiras, o sistema forneceu novas oportunidades a milhões, o que está promovendo crescimento econômico e reduzindo a pobreza.
Há muito o que grandes empresas podem fazer. Há poucos anos, nós lançamos a Sala de Guerra ao Carbono, uma iniciativa para identificar e aumentar em escala soluções de mercado para a mudança climática. A equipe da SGC sabia que a indústria naval podia economizar até US$ 70 bilhões por ano e reduzir as emissões de carbono e de outros poluentes em até 30% se adotasse tecnologias e navios de transporte mais eficientes em energia. Consequentemente, a equipe começou a trabalhar com alguns dos maiores membros do setor, governos e ONGs para derrubar as barreiras regulatórias e sistêmicas para tornar os navios mais eficientes.
O resultado: mais de 4 milhões de toneladas em emissões de gases do efeito estufa eliminadas até o momento --com potencial de muito mais.
Direitos humanos, igualdade de gênero, estado de direito e transparência, ação climática decisiva --essas são apenas algumas áreas onde as grandes empresas podem promover mudanças, e ao mesmo tempo moldar seu próprio sucesso a longo prazo.
Mas o que tudo isso significa para os pequenos empreendedores? A longo prazo, os empreendedores movidos por um propósito ou valor tem uma melhor chance de sucesso no mercado global. À medida que os reguladores por toda parte endurecem as regras, e à medida que os consumidores exigem mais produtos e serviços sustentáveis, as marcas globais farão sua parte para encontrar fornecedores e parceiros que possam demonstrar que valorizam tanto as pessoas e o planeta quanto o lucro.
Isso já está acontecendo, o que é uma ótima notícia para empreendedores determinados a ser uma força pelo bem do mundo. Essa é uma excelente notícia para nossa sociedade e para o planeta.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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