Reinaldo Azevedo - VEJA
O
ministro José Eduardo Cardozo, o Garboso, opera, sem dúvida, segundo
métodos bastante heterodoxos. E o mais encantador é que ele insiste
estar apenas cumprindo a sua obrigação. Tá. Eu, agora, kantianamente,
vou propor que o método Cardozo se transforme numa régua e numa regra.
Todos agiremos segundo o entendimento que tem este patriota do que seja
“obrigação”. Se a noção é tão boa, tem de ser generalizada.
Ele diz
ter recebido do deputado estadual Simão Pedro, hoje secretário de
Fernando Haddad, três documentos, todos anônimos, acusando a formação de
cartel em São Paulo. Ele os teria encaminhado para a Polícia Federal —
já que é um homem sabidamente reto. A VEJA desta semana informa que há
outra operação em curso.
Uma carta,
também anônima, teria sido entregue à embaixada do Brasil no Japão
relatando que a Mitsui também estaria envolvida em um esquema de
pagamento de propina em São Paulo — é claro! O texto foi remetido ao
Itamaraty, que o repassou a Cardozo. E o ministro fez o quê? Como ele
diz, cumpriu a sua “obrigação”: entregou à Polícia Federal.
Então estamos diante de um método, que consiste no seguinte:
1: “alguém” faz uma denúncia anônima;
2: a denúncia anônima chega a Cardozo;
3: Cardozo envia para a PF investigar;
4: vaza-se o caso para a imprensa. E pronto!
O que há
de errado com esse “método” no que diz respeito ao estado de direito?
Não que o ministro o fizesse, porque é probo, mas notem que, a rigor, se
carta anônima dá origem a investigação, então os petistas investigam
quem lhes der na telha. Basta redigir um troço qualquer, enviar à PF e
vazar para a imprensa que fulano está sendo investigado. O sujeito que
se vire.
É claro
que as coisas não podem ser feitas dessa maneira, especialmente porque
os “anônimos” parecem ter especial predileção por denunciar os
adversários do PT não é mesmo?
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