Garotos marotos
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Não servem rigorosamente para nada que tenha prazo de
validade de longa duração as tratativas formais entre PT e PMDB, com
vista à eleição de 2014.
Os dois partidos querem manter a aliança nacional, mas cada qual faz
seu jogo individual nem sempre revelando ao outro as respectivas
intenções. Ao mesmo tempo, ambos sabem qual o interesse que os une: o
vice-presidente Michel Temer pretende repetir a chapa com Dilma Rousseff
que, do partido dele, quer mesmo é o tempo de televisão.
Daí que não tem muita importância o resultado - qualquer que tenha
sido - da reunião de ontem em Brasília para que PT e PMDB se acertassem
em relação às alianças estaduais. Entre outros motivos porque não é hora
de decisões definitivas.
Profissionais, petistas e pemedebistas no momento ganham tempo e vão
se levando mutuamente na conversa até o cenário
político-partidário-eleitoral ficar mais nítido.
Um exemplo? O pedido que o ex-presidente Lula da Silva fez ao PT do
Rio de Janeiro para que adiasse o desembarque do governo Sérgio Cabral
Filho, marcado para ontem. Lula achou que não ficava bem esse gesto de
ruptura no mesmo dia do encontro para dirimir conflitos regionais com o
PMDB.
Para todos os efeitos (formais), seria um sinal ao parceiro de que
ainda haveria possibilidade de o PT abrir mão da candidatura própria ao
governo do Rio em prol do nome apoiado pelo governador, o vice Luiz
Fernando Pezão.
Na prática não há essa hipótese. É o que se conclui do telefonema do
ex-presidente ao candidato fluminense, senador Lindbergh Farias. Pediu o
adiamento como uma "simbologia" e na mesma ligação informou a Lindbergh
que a candidatura dele estava "consolidada".
O que interpretar? Só há um jeito: Lula espera que o problema se
resolva por si. Como Cabral está desgastado e Pezão aparece com 4% nas
pesquisas, a ideia é que o PMDB abandone a ideia de condicionar o apoio à
reeleição de Dilma à retirada do PT da disputa no Rio, por
insuficiência de capital eleitoral para bancar a jogada.
O problema aí nem é Sérgio Cabral, o valor de seu apoio a Dilma ou a
amizade que o une ao ex-presidente. A preocupação do PT é não deixar
escapar o tempo de televisão do PMDB.
Como é grande o número de delegados do Estado na convenção que
decidirá sobre a renovação ou não da aliança nacional, os votos deles
precisam ser preservados. O espaço no horário eleitoral só passa de um
partido para outro quando há coligação formal.
O PMDB, por sua vez, não tem como prometer nada ao PT numa reunião de
cúpula. O resultado da convenção estará ligado às conveniências
regionais, à realidade de cada seção; essas é que decidirão a parada de
acordo com as circunstâncias mais adiante, lá por volta de abril ou
maio.
E ainda que se renove a aliança, desde já os pemedebistas deixam bem
claro que nada será como foi em 2010, quando o partido ficou unido por
Dilma com o aval de Lula. À vista no horizonte das disputas estaduais
está a terra de murici. Nela, cada um trata de si.
Para ambos, a formalidade interessa mesmo é no âmbito nacional. Com
uma diferença: no caso do PMDB, se Dilma e a economia estiverem firmes e
fortes.
Caso pensado. Assim como surgiram na carona das
manifestações de junho, os arruaceiros desapareceram quando ficou
evidente a rejeição da sociedade expressa nas pesquisas e o poder
público deu sinais de que não ficaria mais assistindo à barbárie inerte.
Tanto a entrada quanto a saída de cena - de forma, digamos,
organizada - demonstram que aquelas ações tinham muita orquestração e
nenhuma espontaneidade. Se os governos quiserem evitar a repetição
daquelas cenas, basta chegar aos maestros.
Que eles existem, não resta dúvida, e o sumiço ensaiado da turba diante da reação negativa deixa isso patente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário