Presidente cobra de ministros meta factível em 2014 para acabar com ceticismo
Dilma trabalha com economia de 2% do PIB; neste ano, meta é de 2,3%, mas superavit não deve passar de 1,7%
VALDO CRUZ/NATUZA NERY - FSP
Preocupada com o risco de turbulências na economia em 2014, a presidente Dilma Rousseff fez uma reunião secreta no Palácio da Alvorada, no domingo passado, para definir os rumos da política fiscal no próximo ano e construir a "narrativa econômica" de seu governo a ser usada na eleição presidencial.
Durante a reunião, que começou por volta das 18h e só foi terminar perto da meia-noite, Dilma pediu à sua equipe simulações para analisar a viabilidade de fixar uma meta de superavit primário --a economia de gastos para pagamento da dívida pública-- de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014.
A decisão final sobre a meta não foi tomada no encontro no Alvorada, para o qual foram convocados os ministros Guido Mantega (Fazenda), Aloizio Mercadante (Educação) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
Dilma, segundo assessores, quer ter a certeza de que terá condições de entregar o que vai prometer, depois de seu governo perder a credibilidade na área fiscal justamente por promessas não cumpridas --neste ano, sua equipe econômica se comprometeu a economizar o equivalente a 2,3% do PIB, mas, na melhor das hipóteses, o valor atingirá 1,7%.
Segundo a Folha apurou, a presidente considera que 2% do PIB pode ser uma meta factível, suficiente para garantir uma redução gradual da dívida pública e, assim, desidratar críticas do mercado financeiro, evitando o risco de rebaixamento da nota brasileira pelas agências de classificação de risco.
Dentro de sua equipe, contudo, há quem defenda um percentual menor, de 1,8%. Técnicos, por outro lado, consideram que, sem medidas de contenção de gastos e ajustes de receitas, a economia para pagamento de juros da dívida ficará em 1,5% do PIB.
Daí a encomenda presidencial de simulações sobre a viabilidade de fixar um percentual de 2% e de medidas que possam garantir o seu cumprimento.
TEMPESTADE PERFEITA
A presidente também ainda não decidiu se vai assumir, pessoal e
publicamente, que seu governo irá cumprir a nova meta. Parte de sua
equipe considera que apenas ela teria credibilidade para convencer
definitivamente o mercado de que, a partir de agora, a meta será
cumprida.
A tese vem sendo defendida pelo ex-ministro Delfim Netto, conselheiro informal da presidente, como a única forma de proteger o país do que ele chama de "tempestade perfeita" --um rebaixamento da nota brasileira e uma disparada do dólar por causa do fim dos estímulos à economia dos EUA em 2014.
Essa combinação poria em risco o controle da inflação no ano da eleição.
Na avaliação de Delfim, a presidente Dilma tem confiabilidade e deveria usá-la para assumir uma meta nesse patamar, uma crítica indireta à equipe econômica, na qual o mercado já não acredita mais quando o assunto é credibilidade fiscal.
Durante a reunião no Alvorada, a presidente e seus ministros fizeram a avaliação de que 2013 foi um ano "muito difícil" na economia.
A inflação chegou a estourar o teto da meta, de 6,5%, o desempenho fiscal foi fraco e os leilões de concessão demoraram a deslanchar.
No final do ano, porém, Dilma acredita que o clima mudou. A inflação começou a recuar, as concessões de aeroportos foram consideradas um sucesso e o ritmo da economia deve melhorar no último trimestre, após provável recuo no período anterior.
ANO MELHOR
Para a equipe presidencial, o ano que vem será melhor do que 2013 por
causa dos investimentos que serão gerados pelos leilões de concessão e
porque, até junho, a inflação não deve ser problema.
O risco está concentrado em julho e agosto, quando a taxa anualizada corre o risco de subir, exatamente nos meses que antecedem a eleição presidencial.
Neste ano, a inflação foi muito baixa nesses dois meses, desempenho que não deverá se repetir em 2014.
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