domingo, 1 de dezembro de 2013

O fantasma de Pablo Escobar 
Vinte anos após ter sido morto, narcotraficante colombiano ainda é uma celebridade na sua cidade natal, Medellín  
FABIANO MAISONNAVE - FSP 
Vinte anos após sua morte, que se completam amanhã, o megatraficante Pablo Escobar sobrevive como um fantasma que ainda assombra a Colômbia --e como um cadáver insepulto na casa de seu irmão mais velho, Roberto.
Ex-traficante, Roberto, conhecido como Osito (ursinho), é um dos poucos integrantes do Cartel de Medellín que, milagrosamente, sobreviveram à violência daquela época para contá-la.
Literalmente: após cumprir pena de 14 anos, ele agora abre a turistas a sua casa, convertida num pequeno museu em homenagem ao irmão.
A procura pelo "narcotour" revela um fascínio que Escobar nunca deixou de exercer. No ano passado, a série de TV "O Patrão do Mal" bateu recordes de audiência e causou um imenso debate entre os que criticam a glorificação de um criminoso cruel e os que argumentam que seus feitos mudaram a história do país.
"Depois da sua morte, o narcotráfico acabou penetrando e infeccionando tudo: o campo, a cidade, a guerrilha, o Estado, o sistema financeiro, a política: Pablo Escobar já não é o único narcoparlamentar", escreveu Antonio Caballero, colunista da revista "Semana", para quem o traficante, mesmo morto, "ganhou a guerra".
"O exemplo vai se espalhando pela chamada colombianização --ou seja, escobarização-- do México, da América Central, da Argentina, do pacífico Uruguai, do Brasil."
É difícil superestimar os crimes de Escobar: contrabandeou centenas de tonelada de cocaína para os EUA, mandou assassinar, a tiros ou em atentados a bomba, dezenas de políticos e altos funcionários do governo e dominou a agenda de três presidentes colombianos.
Mas em Medellín, a cidade mais violenta do mundo na época em que Escobar reinava, muitos continuam vendo nele o benfeitor que ajudava os bairros mais pobres, onde iluminou cerca de cem quadras de futebol e distribuiu mil casas populares.
MEMORIAL
Após acerto por telefone na véspera, uma van identificada "escolar" pega o repórter da Folha em um supermercado, na região do Poblado.
O ingresso de R$ 70 por pessoa é uma ninharia perto da fortuna estimada em US$ 25 bilhões de Escobar, no final dos anos 1980. Hoje, resta só a casa onde mora Roberto, única propriedade onde não se provou a compra com dinheiro do narcotráfico.
O motorista-guia se identifica como Jaime. Desinibido, conta que conhece a família há 32 anos e que trabalhou como segurança de um laboratório de cocaína, entre outras funções.
Minutos depois, repete a mesma história para quatro turistas mexicanos. Completam o grupo ainda três norte-americanas, atendidas por um guia que fala inglês.
Depois de visitar o túmulo de Escobar no elegante cemitério Montesacro e o prédio Dallas, que pertencia ao traficante e foi atingido por um atentado, é a hora de visitar a casa de Roberto.
No caminho, Jaime orienta: "Não perguntem coisas como: Por que Pablo matou tanta gente'? É o irmão dele."
A casa, ampla, fica em bairro nobre e com uma bela vista para Medellín. Roberto, 66, recebe o grupo pessoalmente, cumprimenta um a um e convida a todos para um café no final da visita.
De perto, as cicatrizes da guerra são nítidas. Dias depois da morte do irmão, em dezembro de 1993, Roberto, que estava preso, abriu uma carta-bomba. Perdeu um olho e parte da audição --é preciso gritar para que escute.
Na parte da casa convertida em museu, várias fotos de Escobar: em cima de um jet-ski, descendo de um avião e sobre uma moto presenteada a ele por Frank Sinatra.
Uma delas, em que aparece em traje típico colombiano, chama mais a atenção -- está perfurada por uma bala.
"Em 2011, um empregado da casa contratou pistoleiros para sequestrar o Roberto. Queriam que ele contasse onde o Escobar enterrou caixas com dólares, mas ele não sabe", explica Jaime.
Avisada, a polícia trocou tiros com os invasores. Um deles morreu, dois foram baleados e dois capturados.
Numa sala, há também fotos e troféus da juventude de Roberto: ele foi campeão colombiano de ciclismo, um esporte popular na Colômbia, antes de trabalhar para Escobar --segundo ele, para defender a família.
No final da visita, Roberto posa para fotos e autografa pôsteres e DVDs piratas vendidos por R$ 12. Para arrematar, molha o dedo indicador em tinta e imprime a digital. 


Traficante contratou Roberto Carlos para fazer show, diz irmão 
FABIANO MAISONNAVE - FSP 
Sem limites para extravagâncias, Pablo Escobar enviou o seu avião particular ao Rio apenas para buscar mulheres e, segundo o irmão, contratou Roberto Carlos para cantar em Medellín.
"Roberto Carlos veio a Medellín para um show trazido por nós, mas em uma discoteca", disse Roberto Escobar, irmão mais velho do traficante, à reportagem da Folha.
Foi numa rápida conversa durante o tour em sua casa --em troca de uma entrevista exclusiva, seu guia de turismo havia pedido US$ 5.000.
Fanático por Roberto Carlos, Escobar tinha em sua fazenda uma jukebox apenas com canções do brasileiro, conforme relatado no livro "Killing Pablo" (matando Pablo), de Mark Bowden.
O Rei fez dois shows em Medellín em fevereiro de 1988. O primeiro ocorreu no luxuoso hotel Intercontinental, alvo de um carro-bomba dois anos depois.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa de Roberto informou que ele "está em turnê pelo Nordeste e, por esse motivo, não será possível fazer esta consulta".
A reportagem também perguntou a Roberto Escobar sobre uma passagem do seu livro, "Mi Hermano, el Patrón Escobar". Ali, descreve uma festa com "cinco hermosas garotas", escolhidas "por meio de um amigo no Brasil".
"É um famoso cirurgião plástico brasileiro", disse.
A fascinação com as brasileiras começou em 1982, quando Escobar e outros dez integrantes da cúpula do Cartel de Medellín passaram o Carnaval no Rio.
Segundo o livro "La Parábola de Pablo", de Alonso Salazar, o grupo gastou US$ 500 mil durante a estadia.
De volta, Escobar ordenou que o seu piloto fosse ao Rio buscar "garotas". A ordem foi cumprida em 15 horas.
Mas surgiu um problema: a mulher de Escobar, Victoria, estava chegando de helicóptero à fazenda.
"Quando a sua mulher chegou, tudo estava em ordem. E quando finalmente partiu, Pablo ordenou que o avião, que havia dado voltas por três horas sobre os céus da [fazenda] Nápoles com as cabareteiras, aterrissasse de novo".

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