sábado, 28 de dezembro de 2013

Parar a cidade? 
O Estado de S.Paulo
Os proprietários de automóveis tiveram, em 2013, um custo mensal para estacionar em regiões de boom imobiliário (Brooklin, Vila Olímpia e Itaim), em média, 11,41% maior do que o de 2012. Em São Paulo, conforme estudo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Econômico (Ipea), os deslocamentos entre casa e trabalho são pelo menos 31% mais longos do que em outras metrópoles brasileiras. Com trajetos longos, ilógicos e demorados, os serviços de ônibus estão muito aquém do que grande parte da população precisa. A malha de metrô é insuficiente e, assim, o carro continua sendo o único transporte viável para milhares de pessoas.
São motoristas que, diariamente, enfrentam congestionamentos e não têm onde estacionar quando chegam aos seus destinos. Levantamento da consultoria Colliers compara a mensalidade de R$ 298, paga em 2012 pelos motoristas por vagas de estacionamento nos corredores centrais da cidade de São Paulo, e as cobradas em 2013, que saltaram para R$ 332. A primeira hora passou de R$ 13 para R$ 15. São aumentos substanciais que, em algumas regiões, como Vila Olímpia, chegam a seis vezes a inflação oficial, de 6,27%, no período de julho de 2012 a julho de 2013.
Cada vaga oficial de estacionamento existente no Município é disputada por 14 carros registrados na cidade. A frota ultrapassou os 7,4 milhões de veículos e as vagas não chegam a 600 mil, sendo 36 mil em áreas de Zona Azul e o restante em estacionamentos privados. Desde que assumiu o cargo, em janeiro, o prefeito Fernando Haddad tem demonstrado claramente a intenção de dificultar a vida dos motoristas com planos de reduzir vagas em estacionamentos públicos e, não bastasse, em estacionamentos privados, num intervencionismo que pouco considera o bem-estar da população, suas dificuldades e seus direitos.
Nas redondezas dos corredores comerciais mais nobres da cidade, como as Avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitschek e Luís Carlos Berrini, é comum motoristas enfrentarem a ação dos flanelinhas que se apropriam de vagas da Zona Azul e vendem os cartões de estacionamento com ágio de até 300%. Muito deles recebem remuneração de empresas da região para bloquearem vagas nas ruas que são usadas por funcionários.
A Prefeitura de São Paulo abandonou os planos de construção de garagens subterrâneas discutidos há décadas, omite-se diante da necessidade de fiscalizar a Zona Azul, de regulamentar a atividade dos estacionamentos da cidade, na maior parte clandestinos, e instalou faixas exclusivas de ônibus nos corredores comerciais, impedindo que a clientela das lojas estacione nas vias. A medida provocou protestos dos comerciantes que, no último dia 9, conseguiram fazer o prefeito recuar de decisão anterior, permitindo que as faixas em alguns pontos fossem liberadas ao estacionamento fora dos horários de pico.
Tais medidas restritivas prejudicam não só os comerciantes e seus clientes, mas uma infinidade de outras pessoas que prestam serviços em residências e empresas. Dados do Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark) mostram a existência de 6 mil estacionamentos na cidade, que somam 573 mil vagas. Há quatro anos, havia 1 milhão de vagas na região metropolitana. O impacto dessa redução na economia precisa ser calculado. Além do maior custo das mensalidades dos estacionamentos, quanto mais os carros rodam até encontrar uma vaga disponível?
É verdade que em países desenvolvidos vagas de estacionamento são raras e um conforto quase inexistente nos dias de hoje, tanto nas ruas quanto nas garagens dos prédios residenciais. A diferença é a infraestrutura de transporte público existente naqueles países e a disponível em São Paulo. Enquanto a administração pública não puder oferecer condições para que as pessoas possam usar um transporte público de qualidade, capaz de atender integralmente à demanda, medidas como as que o prefeito Haddad está tomando são injustificáveis. A menos que ele queira parar a cidade.

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