Parar a cidade?
O Estado de S.Paulo
Os proprietários de automóveis tiveram, em 2013, um
custo mensal para estacionar em regiões de boom imobiliário (Brooklin,
Vila Olímpia e Itaim), em média, 11,41% maior do que o de 2012. Em São
Paulo, conforme estudo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Econômico
(Ipea), os deslocamentos entre casa e trabalho são pelo menos 31% mais
longos do que em outras metrópoles brasileiras. Com trajetos longos,
ilógicos e demorados, os serviços de ônibus estão muito aquém do que
grande parte da população precisa. A malha de metrô é insuficiente e,
assim, o carro continua sendo o único transporte viável para milhares de
pessoas.
São motoristas que, diariamente, enfrentam congestionamentos e não
têm onde estacionar quando chegam aos seus destinos. Levantamento da
consultoria Colliers compara a mensalidade de R$ 298, paga em 2012 pelos
motoristas por vagas de estacionamento nos corredores centrais da
cidade de São Paulo, e as cobradas em 2013, que saltaram para R$ 332. A
primeira hora passou de R$ 13 para R$ 15. São aumentos substanciais que,
em algumas regiões, como Vila Olímpia, chegam a seis vezes a inflação
oficial, de 6,27%, no período de julho de 2012 a julho de 2013.
Cada vaga oficial de estacionamento existente no Município é
disputada por 14 carros registrados na cidade. A frota ultrapassou os
7,4 milhões de veículos e as vagas não chegam a 600 mil, sendo 36 mil em
áreas de Zona Azul e o restante em estacionamentos privados. Desde que
assumiu o cargo, em janeiro, o prefeito Fernando Haddad tem demonstrado
claramente a intenção de dificultar a vida dos motoristas com planos de
reduzir vagas em estacionamentos públicos e, não bastasse, em
estacionamentos privados, num intervencionismo que pouco considera o
bem-estar da população, suas dificuldades e seus direitos.
Nas redondezas dos corredores comerciais mais nobres da cidade, como
as Avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitschek e Luís Carlos Berrini, é
comum motoristas enfrentarem a ação dos flanelinhas que se apropriam de
vagas da Zona Azul e vendem os cartões de estacionamento com ágio de até
300%. Muito deles recebem remuneração de empresas da região para
bloquearem vagas nas ruas que são usadas por funcionários.
A Prefeitura de São Paulo abandonou os planos de construção de
garagens subterrâneas discutidos há décadas, omite-se diante da
necessidade de fiscalizar a Zona Azul, de regulamentar a atividade dos
estacionamentos da cidade, na maior parte clandestinos, e instalou
faixas exclusivas de ônibus nos corredores comerciais, impedindo que a
clientela das lojas estacione nas vias. A medida provocou protestos dos
comerciantes que, no último dia 9, conseguiram fazer o prefeito recuar
de decisão anterior, permitindo que as faixas em alguns pontos fossem
liberadas ao estacionamento fora dos horários de pico.
Tais medidas restritivas prejudicam não só os comerciantes e seus
clientes, mas uma infinidade de outras pessoas que prestam serviços em
residências e empresas. Dados do Sindicato das Empresas de Garagens e
Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark) mostram a existência
de 6 mil estacionamentos na cidade, que somam 573 mil vagas. Há quatro
anos, havia 1 milhão de vagas na região metropolitana. O impacto dessa
redução na economia precisa ser calculado. Além do maior custo das
mensalidades dos estacionamentos, quanto mais os carros rodam até
encontrar uma vaga disponível?
É verdade que em países desenvolvidos vagas de estacionamento são
raras e um conforto quase inexistente nos dias de hoje, tanto nas ruas
quanto nas garagens dos prédios residenciais. A diferença é a
infraestrutura de transporte público existente naqueles países e a
disponível em São Paulo. Enquanto a administração pública não puder
oferecer condições para que as pessoas possam usar um transporte público
de qualidade, capaz de atender integralmente à demanda, medidas como as
que o prefeito Haddad está tomando são injustificáveis. A menos que ele
queira parar a cidade.
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