Bairro com casas construídas pelo narcotraficante ganha escola e infraestrutura, mas ainda enfrenta violência
Cidade colombiana reduz crimes, mas taxa de homicídios, de 38 por 100 mil habitantes, é alta, segundo OMS
FABIANO MAISONNAVE - FSP
Em 1984, dezenas de moradores da favela Moravia, erguida em cima e ao redor de uma montanha de lixo de 40 metros, ganharam casas construídas por Pablo Escobar. Para os que ficaram, o narcotraficante colombiano iluminou o campo de futebol.
Vinte anos depois da morte de Escobar, rememorada hoje, Moravia é um dos
símbolos da "renascença" de Medellín, hoje referência na redução da
violência e em soluções urbanas criativas como o teleférico em favelas,
copiado pelo Rio de Janeiro.
FABIANO MAISONNAVE - FSP
Em 1984, dezenas de moradores da favela Moravia, erguida em cima e ao redor de uma montanha de lixo de 40 metros, ganharam casas construídas por Pablo Escobar. Para os que ficaram, o narcotraficante colombiano iluminou o campo de futebol.
O campo de futebol, sempre lotado, passou de terra a grama sintética e foi ampliado pela prefeitura. Os últimos moradores que ainda vivem sobre a montanha onde funcionava o lixão estão sendo removidos, e as ruas ganharam pavimento e iluminação.
Mas o orgulho do bairro é um complexo de arquitetura arrojada formado pela escola e pelo centro cultural.
Parte do programa "Bom Começo", a escola atende 352 crianças de até seis anos. Recebem ali até oito horas de atenção e 85% da alimentação diária.
Ao lado, o Centro Cultural Moravia tem média diária de 1.200 usuários, em atividades que incluem shows e cursos.
O cotidiano de Moravia, porém, continua difícil.
"A violência diminuiu muito, mas há focos e épocas violentas", diz a professora Paula Andrea Echeverri, 38.
Entre os alunos, conta, a maioria sofreu algum tipo de violência, e a metade foi abandonada pelos pais, que também recebem atenção "não para que se sintam julgados, mas acompanhados".
Echeverri lembra que várias famílias da região de cerca de 30 mil moradores vivem em situação precária --17,7% dos 2,4 milhões de habitantes de Medellín são pobres.
"Muitas casas não têm luz. A mãe diz que precisa da vaga porque não tem comida para dar ao filho."
REDUÇÃO RELATIVA
A atual taxa de homicídios de Medellín, 38 por 100 mil habitantes, é um décimo de 1992, quando era a cidade mais violenta do mundo.
Mas o índice ainda é relativamente alto: para a Organização Mundial da Saúde, os assassinatos são epidêmicos quando acima de 10 por 100 mil habitantes.
Outubro foi o mês mais tranquilo da cidade em 30 anos, mas investigações da imprensa local revelaram um "pacto de fuzis" entre as duas maiores organizações criminosas da região, a Oficina de Envigado e os Urabeños.
A cidade sofre ainda com a prática amplamente disseminada da "vacuna" (vacina), extorsão a comerciantes feitas por grupos criminosos: 25 mil pequenos lojistas são coagidos a pagar mensalmente entre R$ 12 e R$ 120, diz a Federação Nacional dos Comerciantes da Colômbia.
Para o especialista em violência da Universidade de Antioquia, Pablo Angarita, Medellín "mimetizou" as atividades criminosas. "Desde a morte de Pablo Escobar, houve mudanças muito importantes, grandes, e outras situações que permanecem, mas transformadas."
Sobre o narcotráfico, Angarita diz ser difícil saber se diminuiu, mas que se tornou mais discreto, diversificado e pulverizado entre vários grupos, liderados por chefes que sobrevivem em média dois anos à frente do negócio.
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