sábado, 28 de dezembro de 2013

Venezuela é 3º país mais violento do mundo, diz ONG
Segundo o Observatório Venezuelano de Violência, taxa de homicídios em 2013 é de 79 por 100 mil habitantes
Governo afirma que, na verdade, houve queda no número de assassinatos
O GLOBO

Homem assassinado é encontrado em rua de Caracas
Foto: 8-9-2010 / AP 
CARACAS - O governo venezuelano e a sociedade civil local divergem sobre o tamanho de uma mesma tragédia que, seja qual for a estatística de referência, não há como ser ignorada ou considerada um problema menor. Seguidos os números oficiais ou os divulgados pela ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), a Venezuela chega ao fim de mais um ano entre os dez países com as maiores taxas de homicídio no mundo. Para as autoridades, o índice é de 39 assassinatos por 100 mil habitantes; para a ONG, mais que o dobro: 79 por 100 mil habitantes.
O fato de que muita gente é morta na Venezuela talvez seja o único consenso na abordagem do tema. O governo admite a taxa de homicídios elevada na comparação com outros países, mas afirma que ela está caindo graças ao programa Pátria Segura, lançado este ano, no qual milhares de militares foram destacados para municípios perigosos. O levantamento do OVV, por sua vez, aponta como única melhora uma desaceleração no avanço deste tipo de crime.
Seis mil mortes ignoradas
Com isso, há duas Venezuelas, ambas extremamente violentas. Na das estatísticas do governo, pouco mais de 12 mil pessoas foram assassinadas em 2013. Na do OVV, mais que o dobro: quase 25 mil. Segundo a ONG, o chavismo usa uma metodologia que deixa de fora milhares de mortos. O governo, por sua vez, afirma que os números do OVV são falsos - mas não esclarece como faz seus cálculos.
Na semana passada, o ministro de Interior e Justiça venezuelano, Miguel Rodríguez Torres, alardeou que o programa Pátria Segura foi o principal instrumento para uma queda de 17% no número de assassinatos no país, o que levaria a taxa de homicídios venezuelana a 39 para cada 100 mil habitantes, a menor em quatro anos.
- A insegurança é inalcançável e permanente, os delinquentes não descansam. Sem dúvida temos problemas com a criminalidade, nunca negamos isso, mas estamos enfrentando com toda a força do governo - disse o ministro a um canal de TV venezuelano.
A violência quase sempre é um tabu para o governo chavista, e o próprio lançamento do programa Pátria Segura -- para o OVV, fator importante para que a taxa de homicídios não fosse ainda maior -- foi um raro reconhecimento da gravidade do problema. A divulgação de números oficiais costuma ser escassa, e a falta de transparência sobre a metodologia adotada abala a credibilidade das poucas cifras que vêm à público.
Além disso, ao contrário de outros países, o governo não coloca à disposição da população dados sobre criminalidade, algo que segundo o OVV ocorre desde dezembro de 2003. Naquele ano, diz a ONG, mais de 11 mil venezuelanos foram assassinados, o dobro em relação a cinco anos antes. Agora, de acordo com os números da entidade, a taxa de homicídios no país quadruplicou em 15 anos: em 1998, era de 19 para cada 100 mil habitantes. Hoje, é de 79 - o que deixa a Venezuela como o terceiro mais violento do mundo, atrás apenas de Honduras e El Salvador. Em 2012, pelos relatórios da organização, a taxa foi de 73 assassinatos por 100 mil habitantes, e o número de homicídios chegou a 21.692. Em 2011, fora de 19.336.
Segundo o diretor da ONG, Roberto Briceño, a disparidade entre os números oficiais e os do relatório independente se deve ao fato de que o governo leva em conta uma definição bastante restrita e formal do que é um homicídio.
- O governo não inclui uma imensa categoria, a de mortes sob investigação, na qual há seis mil pessoas que foram vítimas fatais de disparos de armas de fogo com intenção indeterminada - afirmou.
Pesquisadores de sete universidades venezuelanas fazem parte do OVV. Sem ter acesso a dados oficiais, Briceño explicou que os números da ONG são, na verdade, projeções baseadas em entrevistas feitas com vítimas, informações passadas por autoridades regionais, notícias publicadas na imprensa e dados vazados por funcionários públicos.
O governo venezuelano desacredita os números do OVV. Um porta-voz oficial disse, sob condição de anonimato - alegou não ter autorização para comentar o tema - que são “totalmente falsos”. Para o ministro Rodríguez Torres, há erros na contagem dos mortos que chegam a necrotérios e também má-fé de opositores.
- Eles sempre mantêm a percepção (de violência) muito acima da realidade - alegou.

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