Grosso,
mas eficiente
Sandro Vaia - O Globo
Aquele homem grosso e inadequado, que tem dor nas costas,
nunca senta e está sempre de pé atrás de uma cadeira dando esporro nos
outros?
Pois é, que homem ríspido e grosseiro. Não é um sujeito de bons modos. Não
cursou mesmo nenhuma escola de etiqueta.
Longe de ter a fleugma de um lorde inglês ou a finesse de uma dama
vitoriana, o ministro Joaquim Barbosa é um rústico que incomoda quando condena
mensaleiros, maltrata jornalistas e mais ainda quando maltrata juízes que
representam os supremos interesses da importante classe dos juízes.
Nesta semana ele montou uma armadilha para tornar pública a sua ira contra a
criação de quatro novos tribunais federais que, segundo ele, custarão aos cofres
públicos 8 bilhões de reais, e não trarão ao contribuinte nenhuma melhora no
funcionamento do Judiciário.
Recebeu uma delegação de representantes classistas da Magistratura-
associações de juízes disso e daquilo - e desandou a criticar a maneira
“sorrateira” como eles teriam apoiado a criação dos 4 novos tribunais, que
provavelmente serão instalados “nalgum resort ou praia”.
A palavra “sorrateira” abespinhou um dos magistrados, que tentou contestá-la
e levou um cala-boca imperial do presidente do Supremo. Que acrescentou,
criticando as delegações que o visitavam, que elas (as entidades) “não
representam a Nação, mas apenas interesses corporativos”.
O ministro de maus bofes seguiu adiante:
“A Constituição não dá poderes à Ajufe (Associação de Juízes Federais). Isso
não faz parte das exigências constitucionais. Não confunda a legitimidade que o
senhor tem como representante sindical com a legitimidade dos órgãos de Estado.
Órgãos importantes do Estado não se pronunciaram sobre a PEC. Vocês participaram
de forma sorrateira na aprovação dela”.
O fato é o seguinte: a PEC vai praticamente duplicar o número de tribunais
federais existentes (os cinco atuais já empregam 36 mil funcionários), violar a
Lei de Responsabilidade Fiscal e pouco ajudará a desafogar a Justiça. Só a
defenderam as entidades classistas da Magistratura e a cúpula do Judiciário não
foi sequer ouvida a respeito.
Uma legitima farra corporativista. Haveria meios mais eficazes e mais baratos
de melhorar a eficiência da Justiça Federal, como a digitalização dos processos
ou a criação de câmaras regionais previstas pela Constituição.
Acontece que o juiz “grosso e inadequado”, como o classificaram em nota de
protesto as entidades de classe, preferiu fazer o barulho de quebrar os cristais
e acordou o país para um assunto que permaneceria ignorado.
Mal educado mas eficiente.
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