Reinaldo Azevedo - VEJA
Os
petistas gostam de acusar o que eles chamam “mídia” de perseguir o
partido. Na Folha de domingo, Miruna, a filha de José Genoino, sugere
que essa tal “mídia” é responsável até pelos problemas cardíacos de seu
pai. Tenham paciência, né? Essa pressão, no entanto, surte efeito. Neste
fim de semana, aconteceu uma coisa realmente incrível: veio a público a
informação de que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, manteve há
coisa de uns 10 anos — quem sabe em 2002… — encontros com o empresário
Arthur Teixeira, consultor da área de transportes que a Polícia Federal e
o PT chamam de “lobista”.
Procurado,
Eduardo Carnelós confirmou que os encontros aconteceram. E se deram A
PEDIDO DE CARDOZO. O petista procurou Teixeira, não o contrário. E para
quê? Parece que o então deputado ou quase-deputado queria informações
justamente sobre a área de transportes. O advogado de Teixeira,
evidentemente, diz que nada de anormal ou ilegal aconteceu nessas
ocasiões. Não estou duvidando da afirmação, mas me parece óbvio que ele
jamais diria o contrário ainda que tivesse acontecido.
O fato
relevante aí, e isto é o que interessa, é que Teixeira certamente
mantinha contatos suprapartidários. Para o caso em espécie, tanto faz
ser lobista ou consultor. Não lhe cumpre escolher o partido das pessoas
com as quais conversa. Uma coisa é certa: se Cardozo está no comando da
investigação do suposto cartel (é o chefe do Cade e da PF) e se manteve
encontros estreitos com Teixeira — tornado uma das personagens da
investigação —, é claro que essa relação não poderia ter sido omitida
nem do público nem da presidente Dilma.
Muito bem!
Que eu saiba, só este blog — com destaque na homepage da VEJA.com — e o
Correio Braziliense noticiaram o fato. No resto, fez-se um silêncio
sepulcral. E todos os veículos tinham a informação. Ninguém estava
acusando — tampouco eu — o ministro de ter cometido um crime. O que se
deve estanhar é o fato de ele ter escondido essas relações. E ele
certamente se lembra do encontro.
Poder-se-ia
objetar: “Mas o que se transformaria em notícia? Um encontro do agora
ministro Cardozo com um dos investigados do suposto esquema de formação
de cartel?”. A resposta é “sim!”. Só não seria notícia se o ministro não
fosse o chefe da investigação e não se comportasse de modo tão
heterodoxo no caso.
A
propósito: quatro secretários da gestão Alckmin foram acusados, numa
terceira carta anônima, de envolvimento direto com um suposto esquema
criminoso. O papel transitou pelo Cade e foi parar na PF (segundo
Cardozo, por iniciativa sua). E nesse caso? Por que isso é notícia, e os
encontros mantidos pelo ministro, confirmados por um dos lados, não
são? Só há uma resposta: ora,
porque Cardozo é petista, e os outros são tucanos. E, como sabemos,
segundo a máxima petralha, petistas são sempre inocentes mesmo quando
são culpados — vejam o caso do mensalão —, e seus adversários são sempre
culpados mesmo quando são inocentes.
A patrulha que o PT exerce sobre a imprensa não é inócua, não! Funciona! E a prova está aí.
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