Corine Lesnes - Le Monde
28.mai.2013 - Saul Loeb/AFP
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama
28.mai.2013 - Saul Loeb/AFP
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama
O desencanto foi consumado entre a imprensa e o presidente americano. Em 2008, e em menor medida em 2012, a mídia enfatizava sobretudo o candidato "cool" que era Barack Obama. Hoje, seu governo é apresentado como adepto do segredo e da intimidação, perseguindo os autores de vazamentos com aquilo que Leonard Downie, o vice-presidente do "Washington Post", chama de "vigor sem precedentes desde a administração Nixon".
George W. Bush não era particularmente carinhoso com a imprensa, que lhe era recíproca. Mas, para os jornalistas, a surpresa foi ver que a administração Obama havia "continuado e até mesmo acentuado a repressão aos vazamentos", disse ao "New York Times" a repórter da "New Yorker" Jane Mayer, que revelou ao público os memorandos do departamento de Justiça que autorizavam o uso de tortura em 2002.
Antes da publicação, a AP havia consultado oficiais da administração, como geralmente faz a imprensa americana sobre os assuntos que envolvem a segurança nacional, e esperou por cinco dias pela autorização. Portanto, foi com grande surpresa que a direção da agência descobriu, através de uma carta datada de 10 de maio, que suas linhas telefônicas tinham sido alvo de um monitoramento secreto durante dois meses. Milhares de números de telefone foram apreendidos.
Uma semana mais tarde, o "Washington Post" revelou que um jornalista da Fox News, James Rosen, também havia sido alvo de um monitoramento sem precedentes em 2010 por ter publicado informações sigilosas sobre a preparação de um teste nuclear norte-coreano. Pela primeira vez, um jornalista foi processado como "coautor" de um vazamento e foi alvo de processos criminais. O FBI havia obtido do departamento de Estado o detalhamento de suas entradas e saídas do prédio e entrou em sua conta particular do Gmail. Mas eles são proibidos de vasculhar os documentos de jornalistas, a menos que sejam acusados de algum crime.
O próprio Barack Obama percebeu que não podia ficar por muito tempo contra a imprensa, uma vez que sua administração é criticada por várias outras controvérsias. Em seu discurso sobre a segurança nacional, no dia 23 de maio, ele se declarou "perturbado" com as repercussões dessas investigações sobre a missão da informação. "Os jornalistas não deveriam correr riscos judiciários só por estarem fazendo seu trabalho", ele disse. "Devemos nos concentrar naqueles que infringem a lei."
O presidente pediu a Holder que consultasse os órgãos de imprensa e que lhe fizesse um relatório antes do dia 12 de julho, sem se preocupar com o fato de que foi o próprio ministro que assinou a autorização para monitorar o repórter da Fox News. No caso da AP, Eric Holder afirmou ter negado, sendo que ele mesmo questionou a origem do vazamento, mas ele não o fez por escrito --uma leviandade espantosa, que os republicanos pretendem investigar. Holder, cuja cabeça já vem sendo pedida pelos republicanos há anos, é o primeiro procurador-geral afroamericano. Ele faz parte do círculo mais próximo de Barack Obama.
Barack Obama é o presidente que menos realizou coletivas de imprensa desde Ronald Reagan (79 durante seu primeiro mandato, contra 89 de George W. Bush e 133 de Bill Clinton). No lugar desse exercício sempre arriscado, ele prefere as entrevistas individuais a canais de TV, se possível regionais. "A ironia com Obama é que ele maltrata a imprensa, mas esta não contra-ataca", observa Tobe Berkovitz, professor de comunicação na Boston University. "É quase uma relação abusiva."
Mas os casos de escutas poderão mudar a situação. "O presidente deve entender que o comportamento comumente chamado de 'jornalismo' não pode ser confundido com 'espionagem'", repreende o cronista do "Washington Post", Eugene Robinson, que, no entanto, está entre os mais fiéis defensores de Barack Obama.
Tradutor: UOL
George W. Bush não era particularmente carinhoso com a imprensa, que lhe era recíproca. Mas, para os jornalistas, a surpresa foi ver que a administração Obama havia "continuado e até mesmo acentuado a repressão aos vazamentos", disse ao "New York Times" a repórter da "New Yorker" Jane Mayer, que revelou ao público os memorandos do departamento de Justiça que autorizavam o uso de tortura em 2002.
Associated Press monitorada
O auge da discórdia foi quando a agência Associated Press revelou, no dia 13 de maio, que o Ministério da Justiça havia obtido, um ano antes, as contas de 20 de suas linhas telefônicas (entre elas a central e a linha da sala de imprensa do Congresso). O FBI estava tentando localizar a origem de uma informação publicada no dia 7 de maio de 2012 pela agência sobre uma tentativa –frustrada-- de atentado contra um avião americano no Iêmen.Antes da publicação, a AP havia consultado oficiais da administração, como geralmente faz a imprensa americana sobre os assuntos que envolvem a segurança nacional, e esperou por cinco dias pela autorização. Portanto, foi com grande surpresa que a direção da agência descobriu, através de uma carta datada de 10 de maio, que suas linhas telefônicas tinham sido alvo de um monitoramento secreto durante dois meses. Milhares de números de telefone foram apreendidos.
Uma semana mais tarde, o "Washington Post" revelou que um jornalista da Fox News, James Rosen, também havia sido alvo de um monitoramento sem precedentes em 2010 por ter publicado informações sigilosas sobre a preparação de um teste nuclear norte-coreano. Pela primeira vez, um jornalista foi processado como "coautor" de um vazamento e foi alvo de processos criminais. O FBI havia obtido do departamento de Estado o detalhamento de suas entradas e saídas do prédio e entrou em sua conta particular do Gmail. Mas eles são proibidos de vasculhar os documentos de jornalistas, a menos que sejam acusados de algum crime.
"Criminalização do jornalismo"
Os defensores da Primeira Emenda, que protege a liberdade de imprensa, condenaram essa "criminalização do jornalismo". Cinquenta e dois veículos de imprensa encaminharam um protesto ao ministro da Justiça, Eric Holder. Para David Brooks, do "New York Times", o Ministério da Justiça ficou "completamente maluco". A tecnologia agora facilita o rastreamento das fontes, ele ressalta. "É grande a tentação de olhar os e-mails dos repórteres. Será necessária uma autodisciplina", explica Brooks. Especialistas em investigação lamentaram o efeito dissuasivo dessas apurações. Suas fontes não se manifestam mais, ainda mais porque as autoridades se recusaram a revelar quem ainda está sendo monitorado.O próprio Barack Obama percebeu que não podia ficar por muito tempo contra a imprensa, uma vez que sua administração é criticada por várias outras controvérsias. Em seu discurso sobre a segurança nacional, no dia 23 de maio, ele se declarou "perturbado" com as repercussões dessas investigações sobre a missão da informação. "Os jornalistas não deveriam correr riscos judiciários só por estarem fazendo seu trabalho", ele disse. "Devemos nos concentrar naqueles que infringem a lei."
O presidente pediu a Holder que consultasse os órgãos de imprensa e que lhe fizesse um relatório antes do dia 12 de julho, sem se preocupar com o fato de que foi o próprio ministro que assinou a autorização para monitorar o repórter da Fox News. No caso da AP, Eric Holder afirmou ter negado, sendo que ele mesmo questionou a origem do vazamento, mas ele não o fez por escrito --uma leviandade espantosa, que os republicanos pretendem investigar. Holder, cuja cabeça já vem sendo pedida pelos republicanos há anos, é o primeiro procurador-geral afroamericano. Ele faz parte do círculo mais próximo de Barack Obama.
"Marca Obama sofre um baque"
"A marca Obama sofre um baque", disse Carl Bernstein, ex-colega de Bob Woodward no caso Watergate. E o caso faz parte de um contexto cada vez mais conflituoso entre a imprensa e a administração. A mídia tradicional se queixa de estar sendo evitada pela Casa Branca, que privilegia as redes sociais e tem criado cada vez mais seu próprio conteúdo, sob forma de fotos e vídeos.Barack Obama é o presidente que menos realizou coletivas de imprensa desde Ronald Reagan (79 durante seu primeiro mandato, contra 89 de George W. Bush e 133 de Bill Clinton). No lugar desse exercício sempre arriscado, ele prefere as entrevistas individuais a canais de TV, se possível regionais. "A ironia com Obama é que ele maltrata a imprensa, mas esta não contra-ataca", observa Tobe Berkovitz, professor de comunicação na Boston University. "É quase uma relação abusiva."
Mas os casos de escutas poderão mudar a situação. "O presidente deve entender que o comportamento comumente chamado de 'jornalismo' não pode ser confundido com 'espionagem'", repreende o cronista do "Washington Post", Eugene Robinson, que, no entanto, está entre os mais fiéis defensores de Barack Obama.
Tradutor: UOL
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