Thomas L. Friedman - NYT
7.mai.2013 - Mohammed Huwais/AFP
Ativista pró-regime sírio segura cartaz do presidente Bashar Assad em Sanaa, no Iêmen
Nos últimos tempos, eu tenho viajado para Iêmen, Síria e Turquia para filmar um documentário sobre como os vários tipos de estresse ambiental contribuíram para a Primavera Árabe. Ao pensar sobre as minhas viagens, me ocorreu que três de nossos personagens principais --os líderes das duas aldeias iemenitas que estavam brigando por um único poço de água e o líder do Exército Sírio Livre da província de Raqqa, cuja fazenda de algodão foi arrasada pela seca-- têm 36 filhos no total: 10, 10 e 16.
É por isso que não dá para encerrar uma viagem como essa sem saber não apenas quem vai governar esses países, mas também como é que alguém vai conseguir governar esses países.
É claro que deveríamos esperar que as pessoas com aspirações democráticas sinceras prevalecessem, mas é evidente que a visão delas não é a única que está sendo colocada sobre a mesa. Esses aspirantes a democratas estão tendo que competir com grupos islâmicos de oposição sectários e tribais, que também têm raízes profundas nessas sociedades. Mas, independentemente de qual tendência triunfará, a verdadeira questão aqui é descobrir se os 50 anos de explosão demográfica, a má gestão ambiental e a estagnação educacional tornaram alguns desses países ingovernáveis por parte de qualquer grupo ou ideologia.
No Egito, no Iêmen e na Síria é comum observar classes do ensino primário com 60 a 70 alunos e um único professor pouco qualificado, sem nenhum computador e sem aulas de ciências. Como é que os 36 filhos dos líderes que eu conheci terão alguma chance em um mundo onde não apenas robôs estão substituindo os trabalhadores braçais, mas também onde softwares estão, cada vez mais, preenchendo postos de trabalho administrativos? Como é que eles terão alguma chance se alguns deles não podem retornar à fazenda de sua família, uma vez que a água e o solo foram totalmente exauridos?
E, então, após atravessar a fronteira turca a caminho de Tel Abyad, no nordeste da Síria, e ver edifícios em escombros, linhas de energia elétrica no chão, casas semiacabadas e um buraco em uma torre de armazenamento de grãos, eu pensei: eles não apenas estão atrasados como também a guerra está destruindo o pouco que lhes resta. Eles estão no buraco e continuam cavando.
A única maneira de esses países avançarem e tentarem alcançar outras nações é por meio da união das pessoas, para que elas consigam mobilizar todas as suas forças. Os sunitas, cristãos e alauítas da Síria precisam trabalhar juntos. As tribos do Iêmen e da Líbia precisam trabalhar juntas, A Irmandade Muçulmana, os salafistas e os liberais do Egito também precisam fazer o mesmo, especialmente em relação à implementação das reformas econômicas propostas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). No mundo globalizado de hoje, fica-se para trás mais rapidamente do que nunca caso não se construa uma base educacional, econômica e de infraestrutura para tirar proveito desse mesmo mundo --mas é possível avançar mais rapidamente se essa base for realmente erguida.
Mas reunir todos esses grupos diferentes requer confiança --aquela coisa intangível que diz que você pode me governar mesmo que você seja de uma tribo, seita ou partido político diferente do meu--, e é isso que está faltando aqui. Na ausência de líderes como Nelson Mandela, capazes e ansiosos por construir confiança, eu não vejo como qualquer uma dessas primaveras conseguirá ser bem-sucedida. Eu fico pensando no comandante do Exército Livre da Síria, que citei no domingo passado, me apresentando a sua equipe de liderança: "meu sobrinho, meu primo, meu irmão, meu primo, meu sobrinho, meu filho, meu primo..." O que isso lhe diz?
Só é possível responder essa questão corretamente --deveríamos estar armando os rebeldes sírios?-- se primeiro nós definirmos que tipo de Síria queremos ver emergir e o que será necessário, além de armas, para chegar lá.
Se quisermos que o regime de Bashar al-Assad seja derrubado e uma democracia pluralista surja na Síria, não apenas precisaremos armar os rebeldes, mas também teremos que organizar uma força de paz internacional, que entraria na Síria assim que o regime caísse para ajudar a gerenciar a transição. Caso contrário, quando Assad for derrubado, haverá pelo menos mais duas guerras na Síria. Primeiro, haverá uma guerra entre sunitas e alauítas, a seita que Assad representa. Os alauítas lutarão para defender suas regalias e seu território. Depois disso, haverá uma guerra dentro da oposição – entre radicais islâmicos e as forças de combate mais seculares, que têm visões muito diferentes sobre o futuro da Síria. Apenas uma força de paz externa poderia compensar a falta de confiança e de visão compartilhada e tentar forjar uma nova Síria. E isso só ocorreria no longo, no longuíssimo prazo.
Se o nosso objetivo for armar os rebeldes apenas para servir aos nossos interesses estratégicos --que são derrubar o regime de Assad e acabar com a influência do Irã e do Hezbollah em Damasco, sem nos importar com o que virá a seguir--, então temos que estar prontos para a provável fragmentação da Síria em três zonas: uma sunita, uma alauíta e uma curda.
Isso pode, no final das contas, resolver os problemas relacionados à confiança e à guerra civil, pois todos iriam viver "com seus pares". Mas eu não tenho certeza se isso habilitaria os sírios a resolver seus desafios de desenvolvimento.
Uma terceira opção seria armar os rebeldes apenas para garantir a criação de um impasse --na esperança de que as partes pudessem, por fim, ficar exaustas o suficiente para chegar a um acordo por conta própria. Mas, mais uma vez, eu acho difícil visualizar como qualquer acordo capaz de colocar a Síria no longo e difícil caminho rumo a um sistema político decente e inclusivo poderia ser implementado sem ajuda externa para atuar como árbitro em território sírio.
Então, façamos algo novo: pensemos dois passos à frente. Antes de começar a enviar armas para mais pessoas, vamos nos perguntar para quais finalidades exatamente queremos que essas armas sejam utilizadas e o que mais seria exigido dessas pessoas e de nós mesmos para que esses objetivos se tornem realidade.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
Ativista pró-regime sírio segura cartaz do presidente Bashar Assad em Sanaa, no Iêmen
Nos últimos tempos, eu tenho viajado para Iêmen, Síria e Turquia para filmar um documentário sobre como os vários tipos de estresse ambiental contribuíram para a Primavera Árabe. Ao pensar sobre as minhas viagens, me ocorreu que três de nossos personagens principais --os líderes das duas aldeias iemenitas que estavam brigando por um único poço de água e o líder do Exército Sírio Livre da província de Raqqa, cuja fazenda de algodão foi arrasada pela seca-- têm 36 filhos no total: 10, 10 e 16.
É por isso que não dá para encerrar uma viagem como essa sem saber não apenas quem vai governar esses países, mas também como é que alguém vai conseguir governar esses países.
É claro que deveríamos esperar que as pessoas com aspirações democráticas sinceras prevalecessem, mas é evidente que a visão delas não é a única que está sendo colocada sobre a mesa. Esses aspirantes a democratas estão tendo que competir com grupos islâmicos de oposição sectários e tribais, que também têm raízes profundas nessas sociedades. Mas, independentemente de qual tendência triunfará, a verdadeira questão aqui é descobrir se os 50 anos de explosão demográfica, a má gestão ambiental e a estagnação educacional tornaram alguns desses países ingovernáveis por parte de qualquer grupo ou ideologia.
No Egito, no Iêmen e na Síria é comum observar classes do ensino primário com 60 a 70 alunos e um único professor pouco qualificado, sem nenhum computador e sem aulas de ciências. Como é que os 36 filhos dos líderes que eu conheci terão alguma chance em um mundo onde não apenas robôs estão substituindo os trabalhadores braçais, mas também onde softwares estão, cada vez mais, preenchendo postos de trabalho administrativos? Como é que eles terão alguma chance se alguns deles não podem retornar à fazenda de sua família, uma vez que a água e o solo foram totalmente exauridos?
E, então, após atravessar a fronteira turca a caminho de Tel Abyad, no nordeste da Síria, e ver edifícios em escombros, linhas de energia elétrica no chão, casas semiacabadas e um buraco em uma torre de armazenamento de grãos, eu pensei: eles não apenas estão atrasados como também a guerra está destruindo o pouco que lhes resta. Eles estão no buraco e continuam cavando.
A única maneira de esses países avançarem e tentarem alcançar outras nações é por meio da união das pessoas, para que elas consigam mobilizar todas as suas forças. Os sunitas, cristãos e alauítas da Síria precisam trabalhar juntos. As tribos do Iêmen e da Líbia precisam trabalhar juntas, A Irmandade Muçulmana, os salafistas e os liberais do Egito também precisam fazer o mesmo, especialmente em relação à implementação das reformas econômicas propostas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). No mundo globalizado de hoje, fica-se para trás mais rapidamente do que nunca caso não se construa uma base educacional, econômica e de infraestrutura para tirar proveito desse mesmo mundo --mas é possível avançar mais rapidamente se essa base for realmente erguida.
Mas reunir todos esses grupos diferentes requer confiança --aquela coisa intangível que diz que você pode me governar mesmo que você seja de uma tribo, seita ou partido político diferente do meu--, e é isso que está faltando aqui. Na ausência de líderes como Nelson Mandela, capazes e ansiosos por construir confiança, eu não vejo como qualquer uma dessas primaveras conseguirá ser bem-sucedida. Eu fico pensando no comandante do Exército Livre da Síria, que citei no domingo passado, me apresentando a sua equipe de liderança: "meu sobrinho, meu primo, meu irmão, meu primo, meu sobrinho, meu filho, meu primo..." O que isso lhe diz?
Só é possível responder essa questão corretamente --deveríamos estar armando os rebeldes sírios?-- se primeiro nós definirmos que tipo de Síria queremos ver emergir e o que será necessário, além de armas, para chegar lá.
Se quisermos que o regime de Bashar al-Assad seja derrubado e uma democracia pluralista surja na Síria, não apenas precisaremos armar os rebeldes, mas também teremos que organizar uma força de paz internacional, que entraria na Síria assim que o regime caísse para ajudar a gerenciar a transição. Caso contrário, quando Assad for derrubado, haverá pelo menos mais duas guerras na Síria. Primeiro, haverá uma guerra entre sunitas e alauítas, a seita que Assad representa. Os alauítas lutarão para defender suas regalias e seu território. Depois disso, haverá uma guerra dentro da oposição – entre radicais islâmicos e as forças de combate mais seculares, que têm visões muito diferentes sobre o futuro da Síria. Apenas uma força de paz externa poderia compensar a falta de confiança e de visão compartilhada e tentar forjar uma nova Síria. E isso só ocorreria no longo, no longuíssimo prazo.
Se o nosso objetivo for armar os rebeldes apenas para servir aos nossos interesses estratégicos --que são derrubar o regime de Assad e acabar com a influência do Irã e do Hezbollah em Damasco, sem nos importar com o que virá a seguir--, então temos que estar prontos para a provável fragmentação da Síria em três zonas: uma sunita, uma alauíta e uma curda.
Isso pode, no final das contas, resolver os problemas relacionados à confiança e à guerra civil, pois todos iriam viver "com seus pares". Mas eu não tenho certeza se isso habilitaria os sírios a resolver seus desafios de desenvolvimento.
Uma terceira opção seria armar os rebeldes apenas para garantir a criação de um impasse --na esperança de que as partes pudessem, por fim, ficar exaustas o suficiente para chegar a um acordo por conta própria. Mas, mais uma vez, eu acho difícil visualizar como qualquer acordo capaz de colocar a Síria no longo e difícil caminho rumo a um sistema político decente e inclusivo poderia ser implementado sem ajuda externa para atuar como árbitro em território sírio.
Então, façamos algo novo: pensemos dois passos à frente. Antes de começar a enviar armas para mais pessoas, vamos nos perguntar para quais finalidades exatamente queremos que essas armas sejam utilizadas e o que mais seria exigido dessas pessoas e de nós mesmos para que esses objetivos se tornem realidade.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
A guerra que Obama não quer
Jorge Ramos - NYT
Jorge Ramos - NYT
Barack Obama não é um pacifista.
Quando ganhou (prematuramente) o Prêmio Nobel da Paz, o presidente dos EUA falou em seu discurso de aceitação em Oslo, Noruega, sobre os momentos em que é necessário iniciar uma guerra. "Não vamos erradicar os conflitos violentos durante nossas vidas", disse Obama em dezembro de 2009, quando tinha apenas 11 meses de presidência. "E haverá ocasiões em que as nações verão o uso da força como algo necessário e moralmente justificável."
A pergunta que Obama tem de responder agora é se é "necessário e moralmente justificável" atacar ou invadir a Síria para terminar com o regime sanguinário de Bashar Assad. Nos últimos dois anos, o ditador sírio causou a morte de milhares de seus compatriotas que se levantaram contra seu governo. Seus métodos de tortura são violentos e muitas vezes terminam com a morte do interrogado. E, recentemente, a Casa Branca passou a investigar relatos sobre o uso de armas químicas contra a população.
É compreensível o temor de Obama de iniciar uma nova guerra para os EUA. As pesquisas dizem que os americanos não querem mais se envolver em um conflito armado. Quando Obama tomou posse, em janeiro de 2009, também se transformou em comandante de um exército que lutava em duas guerras: Iraque e Afeganistão. Hoje os EUA se retiraram do Iraque e até o final de 2014 deixarão o Afeganistão. Mas o custo foi altíssimo em vidas humanas, em dólares e em credibilidade.
Obama aprendeu com os terríveis e fatais erros de George W. Bush. Bush empreendeu uma guerra no Iraque em 2003 por simples questões ideológicas --não porque fosse algo necessário. Saddam Hussein era um líder brutal e assassino, mas não esteve envolvido nos atos terroristas de 11 de setembro de 2001, nem tinha armas de destruição em massa no momento da invasão. Mais ainda, o regime de Bagdá não era uma ameaça direta para os EUA.
O governo taleban no Afeganistão, por sua vez, sim, era. Ajudou e deu refúgio a Osama bin Laden e à sua organização terrorista, Al Qaeda, e teria sido impensável para os líderes americanos não atacar.
A Síria, por outro lado, não representa uma ameaça direta para os EUA neste momento. Seu governo autoritário e repressivo luta para sobreviver diante de uma rebelião crescente.
Em agosto de 2012, Obama disse em uma entrevista coletiva que, se o governo sírio usasse armas químicas contra a população, cruzaria "uma linha vermelha" e, portanto, poderia obrigá-lo a tomar uma decisão militar. O próprio governo americano relatou o uso de certos tipos de armas químicas na Síria --cruzando, de fato, essa "linha vermelha"--, mas aparentemente não tem confirmação absoluta de que se tratam de fatos recentes e ordenados por Assad.
Certo ou não, o governo sírio está efetuando um massacre de enormes proporções contra sua população, e os EUA --além de pressões diplomáticas por meio da Rússia-- nada fizeram para evitá-lo. Até o momento, a Casa Branca preferiu ser criticada por inação do que por se envolver em mais uma guerra no Oriente Médio. E isso só é compreensível pelas duras e tristes experiências nos últimos dois conflitos bélicos.
A lição para os EUA no Iraque e no Afeganistão é perturbadora: se você entra em um país, mesmo que ganhe a guerra, vai perdê-la. Os EUA efetivamente terminaram com o governo taleban e com Saddam, mas a ameaça terrorista não desapareceu --nem fora, nem dentro dos EUA (como ficou comprovado há pouco tempo na Maratona de Boston). Centenas de milhares de combatentes americanos e suas famílias continuam sofrendo os efeitos dessas guerras. E a economia do país ainda não se recuperou de duas guerras que mal conseguiu financiar, com muitas dívidas públicas.
Por isso continuarão morrendo rebeldes e civis sírios em uma guerra civil absolutamente desigual. A Síria é a guerra que Obama não quer começar, embora seja frustrante e quase cúmplice ver de longe um ditador matar impunemente, com o único fim de manter o poder.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Quando ganhou (prematuramente) o Prêmio Nobel da Paz, o presidente dos EUA falou em seu discurso de aceitação em Oslo, Noruega, sobre os momentos em que é necessário iniciar uma guerra. "Não vamos erradicar os conflitos violentos durante nossas vidas", disse Obama em dezembro de 2009, quando tinha apenas 11 meses de presidência. "E haverá ocasiões em que as nações verão o uso da força como algo necessário e moralmente justificável."
A pergunta que Obama tem de responder agora é se é "necessário e moralmente justificável" atacar ou invadir a Síria para terminar com o regime sanguinário de Bashar Assad. Nos últimos dois anos, o ditador sírio causou a morte de milhares de seus compatriotas que se levantaram contra seu governo. Seus métodos de tortura são violentos e muitas vezes terminam com a morte do interrogado. E, recentemente, a Casa Branca passou a investigar relatos sobre o uso de armas químicas contra a população.
É compreensível o temor de Obama de iniciar uma nova guerra para os EUA. As pesquisas dizem que os americanos não querem mais se envolver em um conflito armado. Quando Obama tomou posse, em janeiro de 2009, também se transformou em comandante de um exército que lutava em duas guerras: Iraque e Afeganistão. Hoje os EUA se retiraram do Iraque e até o final de 2014 deixarão o Afeganistão. Mas o custo foi altíssimo em vidas humanas, em dólares e em credibilidade.
Obama aprendeu com os terríveis e fatais erros de George W. Bush. Bush empreendeu uma guerra no Iraque em 2003 por simples questões ideológicas --não porque fosse algo necessário. Saddam Hussein era um líder brutal e assassino, mas não esteve envolvido nos atos terroristas de 11 de setembro de 2001, nem tinha armas de destruição em massa no momento da invasão. Mais ainda, o regime de Bagdá não era uma ameaça direta para os EUA.
O governo taleban no Afeganistão, por sua vez, sim, era. Ajudou e deu refúgio a Osama bin Laden e à sua organização terrorista, Al Qaeda, e teria sido impensável para os líderes americanos não atacar.
A Síria, por outro lado, não representa uma ameaça direta para os EUA neste momento. Seu governo autoritário e repressivo luta para sobreviver diante de uma rebelião crescente.
Em agosto de 2012, Obama disse em uma entrevista coletiva que, se o governo sírio usasse armas químicas contra a população, cruzaria "uma linha vermelha" e, portanto, poderia obrigá-lo a tomar uma decisão militar. O próprio governo americano relatou o uso de certos tipos de armas químicas na Síria --cruzando, de fato, essa "linha vermelha"--, mas aparentemente não tem confirmação absoluta de que se tratam de fatos recentes e ordenados por Assad.
Certo ou não, o governo sírio está efetuando um massacre de enormes proporções contra sua população, e os EUA --além de pressões diplomáticas por meio da Rússia-- nada fizeram para evitá-lo. Até o momento, a Casa Branca preferiu ser criticada por inação do que por se envolver em mais uma guerra no Oriente Médio. E isso só é compreensível pelas duras e tristes experiências nos últimos dois conflitos bélicos.
A lição para os EUA no Iraque e no Afeganistão é perturbadora: se você entra em um país, mesmo que ganhe a guerra, vai perdê-la. Os EUA efetivamente terminaram com o governo taleban e com Saddam, mas a ameaça terrorista não desapareceu --nem fora, nem dentro dos EUA (como ficou comprovado há pouco tempo na Maratona de Boston). Centenas de milhares de combatentes americanos e suas famílias continuam sofrendo os efeitos dessas guerras. E a economia do país ainda não se recuperou de duas guerras que mal conseguiu financiar, com muitas dívidas públicas.
Por isso continuarão morrendo rebeldes e civis sírios em uma guerra civil absolutamente desigual. A Síria é a guerra que Obama não quer começar, embora seja frustrante e quase cúmplice ver de longe um ditador matar impunemente, com o único fim de manter o poder.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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