sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cervejarias alemãs espumam de raiva com risco de contaminação da água
Esqueça as preocupações ambientais: quando se trata de fraturação hidráulica, a preocupação dos alemães é como isso pode afetar a qualidade da cerveja. Numa carta a vários ministérios em Berlim, os cervejeiros expressaram seus temores de que a exploração de gás de xisto possa contaminar suas fontes de água e, portanto, violar a lei da pureza da cerveja de 1516.
A luta contra a fraturação hidráulica na Alemanha tomou um rumo inesperado: cervejarias alemãs estão agora advertindo que o método controverso de extração de gás natural a partir de camadas de rochas profundas da terra iria afetar sua capacidade de produzir a melhor cerveja.
O processo ameaça contaminar a água potável, de acordo com uma carta escrita pela Federação de Cervejeiros Alemães para o governo federal, e citado pelo tablóide Bild.
As normas que controlam a produção de cerveja na Alemanha existem desde a lei da pureza da cerveja, ou Reinheitsgebot, de 1516 – a primeira lei de pureza dos alimentos do mundo. De acordo com a Federação de Cervejeiros, ainda hoje a cerveja alemã só pode ser feita a partir de malte, lúpulo, levedura e água.
A coalizão de governo da chanceler Angela Merkel esboçou regulações para a fraturação hidráulica, mas os cervejeiros dizem que as leis propostas não são suficientes.

Necessidade de água limpa

Na carta, que foi enviada a seis ministros federais, os cervejeiros disseram: "as mudanças legais previstas pelo governo federal até o momento não são suficientes para garantir a segurança da água potável e para cumprir com as exigências da Reinheitsgebot". Um porta-voz da federação confirmou o conteúdo da carta para a Spiegel Online.
A carta continua argumentando que a indústria cervejeira depende de água potável de alta qualidade, e que a fraturação hidráulica pode reduzir ou até eliminar completamente a segurança do fornecimento de água. A federação apela ao governo para continuar o debate sobre o assunto antes de chegar a uma decisão final.
As tentativas de introduzir uma legislação sobre o fraturamento hidráulico em Berlim foram adiadas várias vezes. Em meados de maio, o gabinete de Merkel concordou com uma proposta para proibir o fraturamento nas áreas de captação dos lagos, como o Lago de Constança no sul da Alemanha, que são fontes de água potável. Mas várias áreas ficariam isentas da proibição.
Berlim quer desenvolver uma lei para definir as condições sob as quais a tecnologia poderá ser usada na Alemanha. O procedimento de fraturamento hidráulico é usado para liberar o gás de xisto dos depósitos de pedra nas profundezas da terra. O processo é controverso porque, entre outras razões, envolve o uso de produtos químicos que poderiam contaminar o abastecimento de água.
Enquanto isso, numa reunião de cúpula em Bruxelas na última quarta-feira (22), os líderes europeus discutiram o futuro do gás de xisto e do fraturamento hidráulico no continente. O primeiro-ministro britânico David Cameron disse aos repórteres que a Europa "não deve ficar para trás na corrida global. A Europa tem 75% da quantidade de xisto que os Estados Unidos têm, mas nos EUA a perfuração é 100 vezes mais rápida do que na Europa."
Até o momento, não houve acordo na UE sobre a forma como o gás de xisto deve ser explorado. O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, disse que a Europa deve investir em todos os recursos energéticos, mas cabe a cada país decidir como fazer isto.
"Sim, isso inclui o gás de xisto, que pode se tornar parte da matriz energética de alguns Estados-membro, talvez menos em outros", disse ele.
Tradutor: Eloise de Vylder

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