Miguel Mora - El Pais
A Europa deu na terça-feira um primeiro passo de forte significado político para colocar os 6 milhões de jovens desempregados do continente (dos quais 2 milhões são espanhóis) no centro da agenda pública. Convocadas em Paris pelo grupo de pensadores do investidor e mecenas Nicolas Berggruen, as quatro maiores economias da zona do euro se comprometeram a implementar em algumas semanas um "new deal pelo emprego dos jovens".
O plano vai acelerar os investimentos e sugerir as reformas necessárias para modernizar e unificar o mercado de trabalho europeu, com o fim de incorporar uma geração indignada e quase perdida ao ciclo produtivo da qualidade e da inovação. Alemanha, França, Itália e Espanha dão assim o primeiro passo para tentar sanar as profundas feridas sociais abertas pelo explosivo coquetel de recessão, austeridade, má gestão, tecnocracia, afasia institucional e desunião que sofrem os 27.
"O debate Europa: as próximas etapas" reuniu no anfiteatro do Instituto de Estudos Políticos, popularmente conhecido como Sciences Po, o presidente francês e o chefe de governo espanhol e os ministros da Economia e Trabalho de Berlim, Paris e Roma. Junto deles, 400 representantes da sociedade europeia: empresários, líderes de opinião, políticos e ex-políticos, especialistas em comunicação e muitos estudantes, que acompanharam as discussões com entusiasmo.
François Hollande abriu a jornada reafirmando a intermitente febre europeísta da França e seu compromisso com o "new deal" (em referência ao plano de inspiração keynesiana implementado pelo presidente americano Theodore Roosevelt contra a Grande Depressão). O mandatário francês confirmou que o plano será discutido na cúpula europeia em 28 de junho e apresentado em 3 de julho, em Berlim, durante um encontro dos ministros do Trabalho europeus, presidido pela chanceler alemã, Angela Merkel, e por ele próprio.
Nicolas Berggruen, fundador do Instituto Berggruen e um investidor internacional com destacada participação na Prisa, editora de "El País", havia salientado ao apresentar o debate a necessidade de "buscar novas ideias europeias para entrar em um novo ciclo que permita deixar para trás a fase de austeridade", e Hollande reiterou que é preciso dar à zona do euro um governo econômico estável, e propôs dotá-lo de um orçamento que sairia de impostos como a taxa Tobin e seria dedicado a promover o emprego jovem.
"Trata-se de recuperar o crescimento em médio e longo prazo", disse Hollande. "Mas estamos diante de uma emergência e é preciso agir já." "A geração da pós-crise vai pedir contas aos governantes de hoje. Vão nos lembrar que nós tivemos a esperança de que, uma vez terminados nossos estudos, poderíamos ter um trabalho, uma vida bem-sucedida. Não podemos deixar essa geração sem perspectivas, porque senão os jovens sentirão só rancor e ingratidão em relação à Europa."
O plano englobará, em princípio, três injeções de capital diferentes, já programadas pela EU, mas que continuavam bloqueadas por falta de vontade política, por mera negligência burocrática ou para não violar o fervor da austeridade. Por um lado, a UE entregará € 10 bilhões ao Banco Europeu de Investimentos (BEI), que permitirão à entidade garantir cerca de € 60 bilhões em empréstimos para as pequenas e médias empresas (PMEs) que contratem jovens. Além disso, 16 bilhões de fundos de coesão paralisados há 18 meses serão destinados ao emprego juvenil, à inovação e à educação. Segundo a comissão, 55 mil PMEs e 780 mil jovens receberão ajudas.
Finalmente, um crédito europeu de € 6 bilhões será repartido até 2020 pelo BEI entre os sócios, em colaboração com o setor privado, para melhorar a capacitação dos que procuram seu primeiro emprego: no 25º aniversário do programa Erasmus, pretende-se expandir a ideia aos não universitários, sobretudo no deprimido sul, onde as cifras de desemprego superam --e em alguns casos mais que duplicam-- os 25%.
A maior novidade, entretanto, não é monetária e sim de método. A Alemanha vai incorporar ao "new deal" juvenil seu sistema de aprendizado vocacional misto, que permite aos jovens frequentar cursos públicos de formação em 340 ofícios diferentes, enquanto fazem estágios em empresas privadas para adaptar a oferta do mercado de trabalho à demanda.
A grande defensora desse programa é a ministra do Trabalho alemã, Ursula von der Leyen, que em Paris se revelou um modelo de dinamismo e rigor. Mãe de sete filhos, fala inglês e francês fluentemente e já soa como futura sucessora de Merkel. Embora seu tom seja mais suave, seu ímpeto não parece menor que o da chanceler; ouvindo-a, pareceu que seu afã é resolver o problema de desemprego do norte antes que o do sul.
"A Europa precisa de pessoal qualificado. Já temos as verbas e agora devemos mobilizar as empresas e os governos. Queremos mais mobilidade", disse. "Na Alemanha, Áustria e Holanda temos um milhão de postos de trabalho vagos."
A lista de intervenções foi longa e luxuosa. Mario Monti, o ex-primeiro-ministro italiano; Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia, e Felipe González, ex-primeiro-ministro espanhol, entre muitos outros, lembraram a necessidade de continuar aperfeiçoando o maravilhoso sonho europeu. A Europa irrita, dói, às vezes parece adormecida e desunida. Mas, apesar de tudo --e nisso todos pareceram concordar outra vez--, continua sendo um fabuloso artefato político e a única solução de longo prazo para os problemas de seus velhos e cansados países-nações.
Medidas contra o desemprego juvenil
- Crédito de € 6 bilhões será distribuído até 2020 entre os países para os jovens que procuram o primeiro emprego. O plano é transferir o bem-sucedido programa Erasmus --que completa 25 anos-- também para os não universitários, para que possam se formar em empresas em países da UE.
- 16 bilhões de fundos estruturais, ainda não utilizados há 18 meses, para emprego juvenil, inovação e educação: 55 mil pequenas e médias empresas e 780 mil jovens receberão essas ajudas.
- Serão entregues 10 bilhões ao Banco Europeu de Investimentos para que garanta 60 bilhões em empréstimos para PMEs que contratarem jovens.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O plano vai acelerar os investimentos e sugerir as reformas necessárias para modernizar e unificar o mercado de trabalho europeu, com o fim de incorporar uma geração indignada e quase perdida ao ciclo produtivo da qualidade e da inovação. Alemanha, França, Itália e Espanha dão assim o primeiro passo para tentar sanar as profundas feridas sociais abertas pelo explosivo coquetel de recessão, austeridade, má gestão, tecnocracia, afasia institucional e desunião que sofrem os 27.
"O debate Europa: as próximas etapas" reuniu no anfiteatro do Instituto de Estudos Políticos, popularmente conhecido como Sciences Po, o presidente francês e o chefe de governo espanhol e os ministros da Economia e Trabalho de Berlim, Paris e Roma. Junto deles, 400 representantes da sociedade europeia: empresários, líderes de opinião, políticos e ex-políticos, especialistas em comunicação e muitos estudantes, que acompanharam as discussões com entusiasmo.
François Hollande abriu a jornada reafirmando a intermitente febre europeísta da França e seu compromisso com o "new deal" (em referência ao plano de inspiração keynesiana implementado pelo presidente americano Theodore Roosevelt contra a Grande Depressão). O mandatário francês confirmou que o plano será discutido na cúpula europeia em 28 de junho e apresentado em 3 de julho, em Berlim, durante um encontro dos ministros do Trabalho europeus, presidido pela chanceler alemã, Angela Merkel, e por ele próprio.
Nicolas Berggruen, fundador do Instituto Berggruen e um investidor internacional com destacada participação na Prisa, editora de "El País", havia salientado ao apresentar o debate a necessidade de "buscar novas ideias europeias para entrar em um novo ciclo que permita deixar para trás a fase de austeridade", e Hollande reiterou que é preciso dar à zona do euro um governo econômico estável, e propôs dotá-lo de um orçamento que sairia de impostos como a taxa Tobin e seria dedicado a promover o emprego jovem.
"Trata-se de recuperar o crescimento em médio e longo prazo", disse Hollande. "Mas estamos diante de uma emergência e é preciso agir já." "A geração da pós-crise vai pedir contas aos governantes de hoje. Vão nos lembrar que nós tivemos a esperança de que, uma vez terminados nossos estudos, poderíamos ter um trabalho, uma vida bem-sucedida. Não podemos deixar essa geração sem perspectivas, porque senão os jovens sentirão só rancor e ingratidão em relação à Europa."
O plano englobará, em princípio, três injeções de capital diferentes, já programadas pela EU, mas que continuavam bloqueadas por falta de vontade política, por mera negligência burocrática ou para não violar o fervor da austeridade. Por um lado, a UE entregará € 10 bilhões ao Banco Europeu de Investimentos (BEI), que permitirão à entidade garantir cerca de € 60 bilhões em empréstimos para as pequenas e médias empresas (PMEs) que contratem jovens. Além disso, 16 bilhões de fundos de coesão paralisados há 18 meses serão destinados ao emprego juvenil, à inovação e à educação. Segundo a comissão, 55 mil PMEs e 780 mil jovens receberão ajudas.
Finalmente, um crédito europeu de € 6 bilhões será repartido até 2020 pelo BEI entre os sócios, em colaboração com o setor privado, para melhorar a capacitação dos que procuram seu primeiro emprego: no 25º aniversário do programa Erasmus, pretende-se expandir a ideia aos não universitários, sobretudo no deprimido sul, onde as cifras de desemprego superam --e em alguns casos mais que duplicam-- os 25%.
A maior novidade, entretanto, não é monetária e sim de método. A Alemanha vai incorporar ao "new deal" juvenil seu sistema de aprendizado vocacional misto, que permite aos jovens frequentar cursos públicos de formação em 340 ofícios diferentes, enquanto fazem estágios em empresas privadas para adaptar a oferta do mercado de trabalho à demanda.
A grande defensora desse programa é a ministra do Trabalho alemã, Ursula von der Leyen, que em Paris se revelou um modelo de dinamismo e rigor. Mãe de sete filhos, fala inglês e francês fluentemente e já soa como futura sucessora de Merkel. Embora seu tom seja mais suave, seu ímpeto não parece menor que o da chanceler; ouvindo-a, pareceu que seu afã é resolver o problema de desemprego do norte antes que o do sul.
"A Europa precisa de pessoal qualificado. Já temos as verbas e agora devemos mobilizar as empresas e os governos. Queremos mais mobilidade", disse. "Na Alemanha, Áustria e Holanda temos um milhão de postos de trabalho vagos."
A lista de intervenções foi longa e luxuosa. Mario Monti, o ex-primeiro-ministro italiano; Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia, e Felipe González, ex-primeiro-ministro espanhol, entre muitos outros, lembraram a necessidade de continuar aperfeiçoando o maravilhoso sonho europeu. A Europa irrita, dói, às vezes parece adormecida e desunida. Mas, apesar de tudo --e nisso todos pareceram concordar outra vez--, continua sendo um fabuloso artefato político e a única solução de longo prazo para os problemas de seus velhos e cansados países-nações.
Medidas contra o desemprego juvenil
- Crédito de € 6 bilhões será distribuído até 2020 entre os países para os jovens que procuram o primeiro emprego. O plano é transferir o bem-sucedido programa Erasmus --que completa 25 anos-- também para os não universitários, para que possam se formar em empresas em países da UE.
- 16 bilhões de fundos estruturais, ainda não utilizados há 18 meses, para emprego juvenil, inovação e educação: 55 mil pequenas e médias empresas e 780 mil jovens receberão essas ajudas.
- Serão entregues 10 bilhões ao Banco Europeu de Investimentos para que garanta 60 bilhões em empréstimos para PMEs que contratarem jovens.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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