quinta-feira, 23 de maio de 2013

Alusão ao regime nazista prejudica relações entre Hungria e Alemanha
Juan Gómez - El Pais
Tamas Kovacs/Efe

O premiê húngaro, Viktor Orbán
O premiê húngaro, Viktor Orbán
As declarações do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, desaconselhando a Alemanha de enviar tanques à Hungria como fez Hitler na Segunda Guerra Mundial, provocaram tensões diplomáticas que a Hungria se apressa a desativar.
Orbán negou na terça-feira ter comparado o Executivo de Angela Merkel com o regime nazista, segundo explicou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores de Budapeste. Uma autoridade do ministério afirma que as declarações de Orbán foram "lamentavelmente mal interpretadas" porque este, na realidade, replicava ao líder alemão da oposição, o social-democrata Peer Steinbrück (SPD), e não ao governo de Merkel.
Na sexta-feira, Orbán disse em uma rádio pública húngara: "Os alemães já enviaram uma vez a cavalaria, na forma de tanques; nosso desejo é que não voltem a fazê-lo, porque na época já foi uma má ideia que não funcionou". Referia-se à ocupação da Hungria em 1944 por parte da Alemanha de Hitler. Com a calmaria política do feriado prolongado de Pentecostes, a frase de Orbán bastou para causar escândalo na Alemanha.
Merkel havia dito na quinta-feira em um debate público que a Europa fará "o possível para levar a Hungria pelo bom caminho, mas não se trata de lhes enviar agora a cavalaria". Além de uma crítica a Orbán, a frase contém uma zombaria a Steinbrück. Este havia indicado pouco antes a possibilidade de expulsar legalmente a Hungria da UE se Orbán continuar em sua linha "claramente antidemocrática".
A expressão "enviar a cavalaria" é célebre na Alemanha desde que Steinbrück a utilizou, quando era ministro da Fazenda na Grande Coalizão presidida pela democrata-cristã Merkel (CDU) até 2009, para admoestar a Suíça pelas facilidades que seus bancos oferecem aos evasores fiscais alemães. Se Orbán conhece essa história, com certeza estaria aplaudindo os panos quentes de Merkel, e não comparando-a com os nazistas. Um comunicado oficial diz que Orbán está "completamente de acordo" com a chanceler. A Hungria, salientam seus diplomatas, "não aceita que os partidos alemães a utilizem em sua campanha" para as eleições gerais de setembro.
Um artigo no site "Spiegel Online" intitulado "Orbán atribui a Merkel métodos nazistas" fez a proverbial montanha do grão de areia. Feridas as suscetibilidades alemãs com o nazismo, a tensão cresceu com a intervenção do ministro das Relações Exteriores alemão, o liberal Guido Westerwelle. Este é muito escrupuloso com suas palavras desde que sua propensão a soltar a língua acabou com sua própria liderança no Partido Liberal, há mais de dois anos. Mas o muito conservador Orbán é tão impopular na Alemanha que Westerwelle cedeu aos tons ásperos para desqualificar "o lamentável despropósito" de Orbán, que a Alemanha "rejeita claramente".
A formação política de Orbán, Fidesz, pertence ao Partido Popular Europeu (PPE), assim como a CDU que Merkel preside. A polêmica reforma constitucional promovida por Orbán na Hungria preocupa muitos observadores europeus, que identificam tons autoritários na Lei Fundamental e outras normas aprovadas com a arrasadora maioria de dois terços que o Fidesz tem na Câmara Legislativa de Budapeste.
O social-democrata húngaro László Kovács, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-comissário europeu, qualificou as palavras de Orbán de "piada grosseira". Na Alemanha, o deputado democrata-cristão Ruprecht Polenz disse ao Spiegel Online que Orbán "prejudica cada vez mais as boas relações entre os dois países; essa indigna comparação com os nazistas, até agora coisa de manifestantes na Grécia, demonstra que perdeu o senso da realidade".
A oposição alemã embarcou nas críticas ao direitista Orbán. O chefe do grupo parlamentar dos Verdes, Jürgen Trittin, reforçou as críticas do democrata-cristão Polenz, mas as estendeu a Merkel. A chefe de governo "deve admitir que sua política de diplomacia silenciosa fracassou diante da marcha de Orbán para a autocracia". Seu companheiro de partido no Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, pediu uma reação por parte do PPE em Estrasburgo: "Pergunto-me quanto tempo vão contemplar as gestões de Orbán sem fazer nada". O Fidesz conta com 14 deputados no PPE em Estrasburgo, onde a centro-direita tem maioria.
O vice-presidente do grupo parlamentar social-democrata no Parlamento alemão, Axel Schäfer, acredita que "está na hora de alguém dizer as coisas claramente para Orbán". Se quiser, Merkel terá a oportunidade nesta quarta-feira, na cúpula europeia de Bruxelas.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Nenhum comentário: