terça-feira, 28 de maio de 2013

A não-campanha de Angela Merkel
Frédéric Lemaître - Le Monde
tro meses das eleições legislativas, no dia 22 de setembro, todos os partidos já estão preparados. Do Die Linke (esquerda radical) até o Partido Democrático Liberal (FDP), cada um reuniu seus militantes e decidiu seu programa durante um congresso. Com uma exceção: a CDU (democratas-cristãos). O partido de Angela Merkel só apresentará seu programa no dia 24 de junho, dez semanas depois do Partido Socialdemocrata (SPD). Sem se dar ao trabalho de organizar um congresso.
Os partidários podem aproveitar este mês de maio para expor "aquilo que é importante" para eles no site da CDU. A direção fará a síntese no dia 23 de junho e apresentará depois o fruto de suas reflexões. Um procedimento "moderno", segundo a CDU. Um meio de esconder certas divisões sobre questões da sociedade, observa a oposição. Na verdade, a parte essencial do programa do partido foi escrita há muito tempo. Ele se baseia em duas palavras: Angela Merkel. Em razão de sua popularidade que ultrapassa de longe as fronteiras de seu partido, a chanceler mal precisa fazer campanha.
Assim como seus antecessores em circunstâncias similares, basta-lhe exercer suas funções para conduzir uma campanha sem parecer. Não foi ela recebida em uma longa audiência privada pelo papa Francisco em Roma, no dia 18 de maio, sendo que em princípio este não concede encontros a um dirigente político que esteja envolvido em uma eleição nos seis meses seguintes? Angela Merkel tem "orgulho da Alemanha". Não dela, é claro. Por acaso, a conversa tratou, entre outras coisas, dos excessos do capitalismo financeiro, o terreno predileto de Peer Steinbrück, candidato socialdemocrata. Não houve nenhum milagre romano por trás, mas sim a aplicação daquilo que analistas políticos alemães chamam de "desmobilização assimétrica". Uma estratégia que consiste em tomar para si os temas do adversário para que os eleitores deste considerem inútil sair para votar.

Nova imagem "social"

A chanceler é a melhor nesse jogo, todos concordam. Ainda que seja equivocado reduzir a decisão que Angela Merkel tomou de abandonar o uso de energia nuclear a uma simples manobra política, essa virada estratégica também era o melhor meio de cortar as asas dos Verdes, em plena ascensão após Fukushima. Além disso, é difícil neste momento ser mais ecológico que Angela Merkel.
Foi sobre o tema do desenvolvimento sustentável que a chanceler falou na sexta-feira (3) em Hamburgo, durante o congresso anual da Igreja protestante. Diante de 7 mil pessoas, Angela Merkel "abafou". Algumas horas mais tarde, Peer Steinbrück, seu adversário do SPD, decidiu falar sobre o domínio do capitalismo. Ele também foi aplaudido... mas havia somente 2.500 pessoas para escutá-lo.
Na segunda-feira (27), o meio ambiente também figurava no programa da chanceler. Depois de ter exaltado pela manhã os méritos da "ecomobilidade" diante dos profissionais do setor de transporte, Angela Merkel receberia na chancelaria alunos de uma escola de Hamburgo para falar sobre proteção ambiental. É preciso falar mais? Uma sessão de fotos estava prevista para o final do encontro.
Nem François Hollande escapa dessa estratégia de "desmobilização assimétrica". Ao participar, no dia 3 de julho, de uma grande conferência europeia em Berlim organizada em torno de Angela Merkel sobre a questão do emprego dos jovens, o presidente sabe perfeitamente que estará contribuindo para a nova imagem "social" que a chanceler quer adotar para superar o SPD.
Seu candidato parece conformado. Convidada recentemente por um cinema berlinense para apresentar seu filme preferido, a chanceler escolheu "A lenda de Paul e Paula", um filme romântico, extremamente kitsch, que teve um sucesso inacreditável na Alemanha Oriental nos anos 1970. O filme consensual por excelência. A escolha de Peer Steinbrück? "O Franco Atirador", de Michael Cimino: um filme sobre o trauma da guerra do Vietnã nos Estados Unidos, conhecido na Alemanha pelo título: "Viagem ao inferno". Isso diz muito sobre a moral do candidato socialdemocrata.
Tradução: UOL

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