Paul Krugman - NYT
A Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível, também conhecida como "Obamacare", entrará plenamente em vigor no início do ano que vem, e previsões de desastre já são ouvidas em toda parte.
Haverá um "descarrilamento" administrativo, dizem; os consumidores enfrentarão um choque terrível. Os republicanos, dizem, já estão contando que os problemas da lei lhes fornecerão uma grande vantagem eleitoral.
Sem dúvida haverá problemas, assim como ocorre em qualquer grande nova iniciativa do governo, e, neste caso, nós teremos a complicação adicional de que muitos governadores e legisladores republicanos estão fazendo todo o possível para sabotar a reforma. Mas nova evidência importante --especialmente na Califórnia, o teste mais importante da nova lei-- sugere que o verdadeiro choque do Obamacare será o sucesso inesperado.
Antes de explicar o que essa notícia significa, eu preciso apresentar um ponto crucial: o Obamacare é uma reforma profundamente conservadora, não no sentido político (apesar de ter sido originalmente uma proposta republicana), mas em termos de não afetar o atendimento de saúde da maioria das pessoas.
Os americanos que recebem plano de saúde de seus empregadores, do Medicare (o seguro-saúde público para idosos e inválidos) e do Medicaid (o seguro-saúde público para pessoas de baixa renda) –que representam a grande maioria daqueles que têm algum tipo de seguro-saúde– praticamente não verão mudanças quando a lei entrar em vigor.
Entretanto, há milhões de americanos que não recebem cobertura de saúde seja de seus empregadores, seja de programas do governo. Eles só têm cobertura se comprarem um plano de saúde por conta própria e muitos deles estão excluídos desse mercado. Em alguns Estados, como a Califórnia, as seguradoras rejeitam os interessados em adquirir um plano que possuem histórico de problemas de saúde. Em outros, como Nova York, as seguradoras não podem rejeitar os interessados e devem oferecer cobertura semelhante independentemente do histórico médico pessoal ("community rating", risco médio de grupo comunitário); infelizmente, isso leva a uma situação em que os preços dos planos são muito altos porque apenas as pessoas com problemas de saúde os adquirem, enquanto as pessoas com saúde preferem arriscar a ficar sem plano.
O Obamacare elimina essa diferença com uma abordagem em três partes. Primeiro, "community rating" para todos –chega de exclusão baseada em condições pré-existentes. Segundo, a "obrigatoriedade" –você precisa ter um plano de saúde mesmo que tenha saúde. Terceiro, subsídios para tornar o seguro saúde acessível às pessoas de renda mais baixa.
Massachusetts conta basicamente com esse sistema desde 2006; como resultado, quase todos os cidadãos contam com plano de saúde e o programa permanece muito popular. Logo, nós sabemos que o Obamacare –ou, como alguns de nós o chamam, ObamaRomneyCare– pode funcionar.
Mas os céticos argumentam que Massachusetts foi um caso especial; ele já contava com poucos cidadãos não segurados antes da reforma e já contava com "community rating". O que aconteceria em outros lugares? Em particular, o que aconteceria na Califórnia, onde mais de um quinto da população não idosa não é segurada e o mercado de planos de saúde individuais é em grande parte não regulamentado? Haveria um "choque" com a alta das apólices individuais?
Bem, as propostas foram submetidas na Califórnia –isto é, as seguradoras apresentaram os preços pelos quais estão dispostas a oferecer cobertura na recém-criada bolsa estadual do Obamacare. E os preços são surpreendentemente baixos. Um punhado de pessoas com saúde pode se ver pagando mais por cobertura, mas parece que o primeiro ano do Obamacare na Califórnia será uma experiência altamente positiva.
O que ainda pode dar errado? Bem, o Obamacare é um programa complicado, basicamente porque opções mais simples, como Medicare para todos, não eram consideradas politicamente viáveis. Logo, provavelmente haverá muita confusão administrativa quando a lei entrar em vigor, especialmente nos Estados onde os republicanos estão se esforçando para sabotar o processo.
Além disso, aqui está o que aparentemente acontecerá: milhões de americanos repentinamente ganharão cobertura de saúde, e outros milhões se sentirão mais seguros, cientes de que essa cobertura estará disponível caso percam seus empregos ou sofram algum infortúnio. Apenas um punhado relativo de pessoas será prejudicada. E à medida que surgirem os contrastes entre a experiência de Estados como a Califórnia, que estão tirando máximo proveito da nova política, e a de Estados como o Texas, cujos políticos estão se forçando para miná-la, a simples má fé dos oponentes do Obamacare se tornará ainda mais óbvia.
Então, sim, parece que o Obamacare provocará um choque: o choque de saber que um programa público criado para ajudar muitas pessoas pode, estranhamente, acabar ajudando muitas pessoas –especialmente quando as autoridades públicas de fato tentarem fazê-lo funcionar.
A outra surpresa do Obamacare
Haverá um "descarrilamento" administrativo, dizem; os consumidores enfrentarão um choque terrível. Os republicanos, dizem, já estão contando que os problemas da lei lhes fornecerão uma grande vantagem eleitoral.
Sem dúvida haverá problemas, assim como ocorre em qualquer grande nova iniciativa do governo, e, neste caso, nós teremos a complicação adicional de que muitos governadores e legisladores republicanos estão fazendo todo o possível para sabotar a reforma. Mas nova evidência importante --especialmente na Califórnia, o teste mais importante da nova lei-- sugere que o verdadeiro choque do Obamacare será o sucesso inesperado.
Antes de explicar o que essa notícia significa, eu preciso apresentar um ponto crucial: o Obamacare é uma reforma profundamente conservadora, não no sentido político (apesar de ter sido originalmente uma proposta republicana), mas em termos de não afetar o atendimento de saúde da maioria das pessoas.
Os americanos que recebem plano de saúde de seus empregadores, do Medicare (o seguro-saúde público para idosos e inválidos) e do Medicaid (o seguro-saúde público para pessoas de baixa renda) –que representam a grande maioria daqueles que têm algum tipo de seguro-saúde– praticamente não verão mudanças quando a lei entrar em vigor.
Entretanto, há milhões de americanos que não recebem cobertura de saúde seja de seus empregadores, seja de programas do governo. Eles só têm cobertura se comprarem um plano de saúde por conta própria e muitos deles estão excluídos desse mercado. Em alguns Estados, como a Califórnia, as seguradoras rejeitam os interessados em adquirir um plano que possuem histórico de problemas de saúde. Em outros, como Nova York, as seguradoras não podem rejeitar os interessados e devem oferecer cobertura semelhante independentemente do histórico médico pessoal ("community rating", risco médio de grupo comunitário); infelizmente, isso leva a uma situação em que os preços dos planos são muito altos porque apenas as pessoas com problemas de saúde os adquirem, enquanto as pessoas com saúde preferem arriscar a ficar sem plano.
O Obamacare elimina essa diferença com uma abordagem em três partes. Primeiro, "community rating" para todos –chega de exclusão baseada em condições pré-existentes. Segundo, a "obrigatoriedade" –você precisa ter um plano de saúde mesmo que tenha saúde. Terceiro, subsídios para tornar o seguro saúde acessível às pessoas de renda mais baixa.
Massachusetts conta basicamente com esse sistema desde 2006; como resultado, quase todos os cidadãos contam com plano de saúde e o programa permanece muito popular. Logo, nós sabemos que o Obamacare –ou, como alguns de nós o chamam, ObamaRomneyCare– pode funcionar.
Mas os céticos argumentam que Massachusetts foi um caso especial; ele já contava com poucos cidadãos não segurados antes da reforma e já contava com "community rating". O que aconteceria em outros lugares? Em particular, o que aconteceria na Califórnia, onde mais de um quinto da população não idosa não é segurada e o mercado de planos de saúde individuais é em grande parte não regulamentado? Haveria um "choque" com a alta das apólices individuais?
Bem, as propostas foram submetidas na Califórnia –isto é, as seguradoras apresentaram os preços pelos quais estão dispostas a oferecer cobertura na recém-criada bolsa estadual do Obamacare. E os preços são surpreendentemente baixos. Um punhado de pessoas com saúde pode se ver pagando mais por cobertura, mas parece que o primeiro ano do Obamacare na Califórnia será uma experiência altamente positiva.
O que ainda pode dar errado? Bem, o Obamacare é um programa complicado, basicamente porque opções mais simples, como Medicare para todos, não eram consideradas politicamente viáveis. Logo, provavelmente haverá muita confusão administrativa quando a lei entrar em vigor, especialmente nos Estados onde os republicanos estão se esforçando para sabotar o processo.
Além disso, aqui está o que aparentemente acontecerá: milhões de americanos repentinamente ganharão cobertura de saúde, e outros milhões se sentirão mais seguros, cientes de que essa cobertura estará disponível caso percam seus empregos ou sofram algum infortúnio. Apenas um punhado relativo de pessoas será prejudicada. E à medida que surgirem os contrastes entre a experiência de Estados como a Califórnia, que estão tirando máximo proveito da nova política, e a de Estados como o Texas, cujos políticos estão se forçando para miná-la, a simples má fé dos oponentes do Obamacare se tornará ainda mais óbvia.
Então, sim, parece que o Obamacare provocará um choque: o choque de saber que um programa público criado para ajudar muitas pessoas pode, estranhamente, acabar ajudando muitas pessoas –especialmente quando as autoridades públicas de fato tentarem fazê-lo funcionar.
A outra surpresa do Obamacare
Thomas L. Friedman - NYT
Autoridades ligadas a Obama insistem que esses críticos estão errados. Só nos resta esperar para ver se a Affordable Care Act (Lei da Assistência Médica Acessível, o Obamacare), como essa lei é oficialmente conhecida em inglês, vai nos surpreender negativamente. Mas há uma área na qual essa lei já parece estar nos surpreendendo positivamente: o número de "start-ups" relacionadas à geração de informações para a área da saúde que ela está estimulando. E isso é ótimo.
A combinação das normas criadas pelo Obamacare com os incentivos da lei de recuperação (Lei de Recuperação e Reinvestimento dos EUA, de 2009) para que médicos e hospitais promovessem a migração para registros médicos eletrônicos, além da divulgação de pilhas de dados mantidos pelo Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos EUA, está criando um novo mercado e uma nova plataforma para a inovação --uma espécie de Vale do Silício do sistema de saúde--, que tem o potencial de criar melhores resultados a custos mais baixos ao alterar a maneira pela qual os dados relacionados à assistência médica são armazenados, compartilhados e extraídos para serem utilizados. Essa é uma indústria completamente nova.
O Obamacare se baseia na premissa de que o principal motivo pelo qual pagamos muito mais do que os cidadãos de qualquer outra nação industrializada por nossa assistência médica --sem obtermos resultados melhores-- deve-se ao fato de que a estrutura de incentivos vigente em nosso sistema está errada.
Médicos e hospitais são pagos principalmente pela realização de procedimentos e exames, e não pelos resultados obtidos, relacionados à boa saúde de seus pacientes. O objetivo da lei de assistência médica de Obama é mudar esse sistema de pagamento de "honorários em troca de serviços" (que algumas empresas de seguros estão copiando), transformando-o em um sistema no qual o governo norte-americano pagará a médicos e hospitais para que eles mantenham saudáveis os pacientes do Medicare (o sistema federal de seguro-saúde dos Estados Unidos para pessoas com mais de 65 anos de idade) e reembolsará os serviços prestados mais de acordo com seu valor do que com seu volume.
Para fazer isso, porém, médicos e hospitais precisam de acesso instantâneo aos dados relacionados aos pacientes --diagnósticos, medicamentos receitados, resultados de exames, procedimentos e possíveis lacunas na assistência médica que precisem ser solucionadas.
Enquanto essas informações estavam entulhadas em pastas de papel pardo nos hospitais e consultórios médicos e não eram transformadas em registros eletrônicos, era difícil executar esse tipo de análise. Mas isso está mudando. De acordo com o governo Obama, graças aos incentivos da Lei de Recuperação e Reinvestimento dos EUA, de 2009, o volume de registros médicos eletrônicos usados nos consultórios quase triplicou desde 2008, e os registros eletrônicos utilizados por hospitais quadruplicaram no mesmo período.
O Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos EUA me colocaram em contato com algumas start-ups e médicos que já se beneficiaram de tudo isso, incluindo a dra. Jen Brull, especialista em medicina de família de Plainville, no Estado do Kansas. Segundo a dra. Jen, antes da instalação do sistema eletrônico de informações, ela tinha certeza de estar alertando os pacientes corretos para que eles realizassem exames preventivos de detecção do câncer colo-retal. Mas, quando a dra. Jen analisou os dados usando seu novo sistema eletrônico de informações médicas, ela descobriu que apenas 43% daqueles que deveriam fazer o monitoramento realmente estavam sendo avisados.
Com o novo sistema, ela conseguiu melhorar seu desempenho, elevando o total de pacientes relevantes alertados para 90%, por meio da instalação de avisos em seus registros eletrônicos, e isso levou à detecção precoce do câncer em três pacientes –e a cirurgias precoces que salvaram a vida desses pacientes e que também reduziram substancialmente as despesas relacionadas ao tratamento da doença.
Todd Park, diretor de tecnologia da Casa Branca, disse que muitos dos novos aplicativos que estão sendo desenvolvidos atualmente foram ainda mais estimulados pela decisão do Departamento de Saúde e Serviços Sociais --de disponibilizar grandes quantidades de dados que foram reunidos pelo órgão ao longo dos anos, mas que, em geral, não estavam disponíveis em formulários informatizados que poderiam ser usados para melhorar o sistema de assistência médica dos EUA.
Tudo começou em março de 2010, quando o Departamento de Saúde e Serviços Sociais se reuniu com "45 empresários bastante céticos", disse Park, e "colocou diante deles, de maneira muito suave, uma pilha inicial de dados do próprio departamento --um conjunto de dados sobre a qualidade dos hospitais, o nível de satisfação dos usuários de casas de repouso e o desempenho dos sistemas de saúde regional. Nós perguntamos aos empresários o que eles conseguiriam fazer com esses dados --se é que eles conseguiriam fazer algo com eles--, caso nós facilitássemos ao máximo as tarefas de localizar, baixar e utilizar essas informações". Nós dissemos a eles que, em 90 dias, o departamento iria realizar um "Festival dos Dados para a Área da Saúde" --um evento público para apresentar os inovadores que aproveitaram o poder desses dados para melhorar o sistema de assistência médica nacional.
Noventa dias depois, os empresários apareceram e apresentaram mais de 20 aplicativos novos ou atualizados que eles haviam criado e que utilizavam dados abertos para executar tarefas, que vão desde ajudar os pacientes a encontrar os melhores prestadores de serviços da área de saúde até permitir que líderes comunitários dessa área compreendessem melhor os padrões de desempenho do sistema de assistência médica em diferentes comunidades, disse Park. Em 2012, outro "Festival dos Dados para a Área da Saúde" foi realizado e, dessa vez, Park acrescentou que "1.600 empreendedores e inovadores lotaram as salas do Centro de Convenções de Washington, assistindo às apresentações realizadas por aproximadamente cem empresas, selecionadas entre mais de 230 companhias que haviam se inscrito para apresentar suas propostas". A maioria dessas empresas tinha apenas 24 meses de vida.
Entre as start-ups às quais eu fui apresentado estão a Eviti, que usa tecnologia para ajudar pacientes com câncer a obterem a combinação correta de medicamentos ou radiação a partir do primeiro dia de tratamento, o que pode reduzir os custos e melhorar os resultados; a Teladoc, que detecta os períodos ociosos dos médicos e utiliza esse tempo livre para conectá-los remotamente a pacientes que precisam de consultas médicas, reduzindo, assim, o número de visitas aos serviços de emergência dos hospitais; a Humedica, que ajuda prestadores de serviços da área da saúde a analisar os registros eletrônicos de seus pacientes para monitorar que tipo de procedimento eles sofreram e detectar se eles realmente melhoraram seu estado de saúde; e a Lumeris, que realiza análises de dados médicos usando informações em tempo real sobre todos os aspectos do atendimento dos pacientes para melhorar o processo de tomada de decisão médica e a colaboração, além de promover a redução das despesas.
O Obamacare só será um sucesso se puder oferecer melhores cuidados de saúde para um maior número de pessoas a preços acessíveis. É esperar para ver se essa possibilidade se confirmará. Mas, pelo menos, o novo sistema já está estimulando a inovação necessária para que isso aconteça.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
A combinação das normas criadas pelo Obamacare com os incentivos da lei de recuperação (Lei de Recuperação e Reinvestimento dos EUA, de 2009) para que médicos e hospitais promovessem a migração para registros médicos eletrônicos, além da divulgação de pilhas de dados mantidos pelo Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos EUA, está criando um novo mercado e uma nova plataforma para a inovação --uma espécie de Vale do Silício do sistema de saúde--, que tem o potencial de criar melhores resultados a custos mais baixos ao alterar a maneira pela qual os dados relacionados à assistência médica são armazenados, compartilhados e extraídos para serem utilizados. Essa é uma indústria completamente nova.
O Obamacare se baseia na premissa de que o principal motivo pelo qual pagamos muito mais do que os cidadãos de qualquer outra nação industrializada por nossa assistência médica --sem obtermos resultados melhores-- deve-se ao fato de que a estrutura de incentivos vigente em nosso sistema está errada.
Médicos e hospitais são pagos principalmente pela realização de procedimentos e exames, e não pelos resultados obtidos, relacionados à boa saúde de seus pacientes. O objetivo da lei de assistência médica de Obama é mudar esse sistema de pagamento de "honorários em troca de serviços" (que algumas empresas de seguros estão copiando), transformando-o em um sistema no qual o governo norte-americano pagará a médicos e hospitais para que eles mantenham saudáveis os pacientes do Medicare (o sistema federal de seguro-saúde dos Estados Unidos para pessoas com mais de 65 anos de idade) e reembolsará os serviços prestados mais de acordo com seu valor do que com seu volume.
Para fazer isso, porém, médicos e hospitais precisam de acesso instantâneo aos dados relacionados aos pacientes --diagnósticos, medicamentos receitados, resultados de exames, procedimentos e possíveis lacunas na assistência médica que precisem ser solucionadas.
Enquanto essas informações estavam entulhadas em pastas de papel pardo nos hospitais e consultórios médicos e não eram transformadas em registros eletrônicos, era difícil executar esse tipo de análise. Mas isso está mudando. De acordo com o governo Obama, graças aos incentivos da Lei de Recuperação e Reinvestimento dos EUA, de 2009, o volume de registros médicos eletrônicos usados nos consultórios quase triplicou desde 2008, e os registros eletrônicos utilizados por hospitais quadruplicaram no mesmo período.
O Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos EUA me colocaram em contato com algumas start-ups e médicos que já se beneficiaram de tudo isso, incluindo a dra. Jen Brull, especialista em medicina de família de Plainville, no Estado do Kansas. Segundo a dra. Jen, antes da instalação do sistema eletrônico de informações, ela tinha certeza de estar alertando os pacientes corretos para que eles realizassem exames preventivos de detecção do câncer colo-retal. Mas, quando a dra. Jen analisou os dados usando seu novo sistema eletrônico de informações médicas, ela descobriu que apenas 43% daqueles que deveriam fazer o monitoramento realmente estavam sendo avisados.
Com o novo sistema, ela conseguiu melhorar seu desempenho, elevando o total de pacientes relevantes alertados para 90%, por meio da instalação de avisos em seus registros eletrônicos, e isso levou à detecção precoce do câncer em três pacientes –e a cirurgias precoces que salvaram a vida desses pacientes e que também reduziram substancialmente as despesas relacionadas ao tratamento da doença.
Todd Park, diretor de tecnologia da Casa Branca, disse que muitos dos novos aplicativos que estão sendo desenvolvidos atualmente foram ainda mais estimulados pela decisão do Departamento de Saúde e Serviços Sociais --de disponibilizar grandes quantidades de dados que foram reunidos pelo órgão ao longo dos anos, mas que, em geral, não estavam disponíveis em formulários informatizados que poderiam ser usados para melhorar o sistema de assistência médica dos EUA.
Tudo começou em março de 2010, quando o Departamento de Saúde e Serviços Sociais se reuniu com "45 empresários bastante céticos", disse Park, e "colocou diante deles, de maneira muito suave, uma pilha inicial de dados do próprio departamento --um conjunto de dados sobre a qualidade dos hospitais, o nível de satisfação dos usuários de casas de repouso e o desempenho dos sistemas de saúde regional. Nós perguntamos aos empresários o que eles conseguiriam fazer com esses dados --se é que eles conseguiriam fazer algo com eles--, caso nós facilitássemos ao máximo as tarefas de localizar, baixar e utilizar essas informações". Nós dissemos a eles que, em 90 dias, o departamento iria realizar um "Festival dos Dados para a Área da Saúde" --um evento público para apresentar os inovadores que aproveitaram o poder desses dados para melhorar o sistema de assistência médica nacional.
Noventa dias depois, os empresários apareceram e apresentaram mais de 20 aplicativos novos ou atualizados que eles haviam criado e que utilizavam dados abertos para executar tarefas, que vão desde ajudar os pacientes a encontrar os melhores prestadores de serviços da área de saúde até permitir que líderes comunitários dessa área compreendessem melhor os padrões de desempenho do sistema de assistência médica em diferentes comunidades, disse Park. Em 2012, outro "Festival dos Dados para a Área da Saúde" foi realizado e, dessa vez, Park acrescentou que "1.600 empreendedores e inovadores lotaram as salas do Centro de Convenções de Washington, assistindo às apresentações realizadas por aproximadamente cem empresas, selecionadas entre mais de 230 companhias que haviam se inscrito para apresentar suas propostas". A maioria dessas empresas tinha apenas 24 meses de vida.
Entre as start-ups às quais eu fui apresentado estão a Eviti, que usa tecnologia para ajudar pacientes com câncer a obterem a combinação correta de medicamentos ou radiação a partir do primeiro dia de tratamento, o que pode reduzir os custos e melhorar os resultados; a Teladoc, que detecta os períodos ociosos dos médicos e utiliza esse tempo livre para conectá-los remotamente a pacientes que precisam de consultas médicas, reduzindo, assim, o número de visitas aos serviços de emergência dos hospitais; a Humedica, que ajuda prestadores de serviços da área da saúde a analisar os registros eletrônicos de seus pacientes para monitorar que tipo de procedimento eles sofreram e detectar se eles realmente melhoraram seu estado de saúde; e a Lumeris, que realiza análises de dados médicos usando informações em tempo real sobre todos os aspectos do atendimento dos pacientes para melhorar o processo de tomada de decisão médica e a colaboração, além de promover a redução das despesas.
O Obamacare só será um sucesso se puder oferecer melhores cuidados de saúde para um maior número de pessoas a preços acessíveis. É esperar para ver se essa possibilidade se confirmará. Mas, pelo menos, o novo sistema já está estimulando a inovação necessária para que isso aconteça.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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