segunda-feira, 27 de maio de 2013

Índios Navajo enfrentam aumento nos casos de infecção por HIV
Dan Frosch - NYT 
Uma onda de infecções por HIV na reserva Navajo de Gallup, Novo México, deixou os médicos e os profissionais de saúde pública cada vez mais alarmados de que o vírus que causa a Aids tenha ressurgido com intensidade nesta região empobrecida.
Um relatório divulgado no mês passado pelo Serviço Federal de Saúde Indígena descobriu que havia 47 novos diagnósticos do vírus da imunodeficiência humana na reserva em 2012, um aumento de 20%em relação a 2011. Desde 1999, novos casos de HIV subiram quase cinco vezes, revelou o relatório. O número de novos casos no ano passado representa a maior taxa anual registrada na tribo pela agência de saúde.
"Estou morrendo de medo", disse o dr. Jonathan Iralu, especialista em doenças infecciosas que dirige uma clínica de tratamento para o HIV nesta cidade empoeirada onde antigos postos comerciais e motéis em ruínas se estendem pela estrada principal que beira as terras dos Navajo, não distante da fronteira com o Arizona. "Os números mostram que há um aumento perigoso, e o momento de agir é agora, antes que seja tarde demais."
O dr. Iralu, que compilou o relatório, lembra-se de ouvir as histórias de antigos colegas sobre o final dos anos 1980, quando a Aids atingiu a reserva pela primeira vez. Homens Navajo entravam no Centro Médico Indígena em Gallup com febre ou tosse, e alguns dias mais tarde estavam mortos.
Depois desse período, o Dr. Iralu, médico formado em Harvard que se mudou de Boston para o local, tratou um pequeno número de homens Navajo com HIV a cada ano e perdeu quase um terço deles.
Tal como acontece com outros grupos nos Estados Unidos, as taxas de infecção na reserva se estabilizaram e o número de mortes caiu, com a ajuda de novos tratamentos e da educação que buscam acabar com o estigma associado à AIDS entre os membros da tribo.
Mas ao longo dos últimos anos, os números de casos de HIV nas terras Navajo aumentaram lentamente. Esse aumento, disse Iralu, pode ser atribuído em parte ao fato de a infecção ser detectada mais cedo, graças a anos de existência de programas de educação sobre o HIV e exames de rotina.
Mas Iralu e outros profissionais de saúde também dizem que o vírus agora é transmitido de um membro da tribo para outro, numa tendência inquietante. Nos últimos anos, acreditava-se que os Navajo contraíam a doença principalmente nas cidades e voltavam para a tribo com ela.
E embora os números ainda sejam relativamente baixos – há cerca de 200 pacientes Navajo diagnosticados pelas clínicas da região – os desafios da prevenção são maiores num lugar onde o sexo ainda é pouco discutido publicamente e a infecção costuma ser escondida dos entes queridos.
Melvin Harrison, diretor-executivo da Rede Aids Navajo, que presta serviços para os membros da tribo com HIV, disse que das 65 pessoas que são tratadas por seu grupo, a maioria não contou à família ou aos amigos.
"Este é o tamanho do estigma aqui", disse ele. "Eles têm medo da rejeição."
Harrison disse que quando ele começou a trabalhar com educação para o HIV na década de 1980, os anciãos Navajo o advertiram para não falar abertamente sobre o HIV temendo que ele "atraísse" o vírus para a tribo.
Mesmo agora, disse ele, os velhos costumes culturais prevalecem, e os gays Navajo, que compõem cerca de 75% dos pacientes da rede, mantém seus relacionamentos em segredo.
De acordo com um relatório recente, homens que fazem sexo com outros homens representam quase metade dos novos casos.
Um homem Navajo, que contraiu HIV de seu parceiro em 2001, contou que sua mãe se recusou a abraçá-lo e passou a servir-lhe comida em pratos de plástico quando descobriu que ele estava infectado.
O homem, de 48 anos, que não quis ser identificado porque não tinha contado à toda a sua família, disse que sua mãe finalmente voltou a abraçá-lo depois que ele explicou como o HIV era e não era transmitido.
Mas o homem não contou a seus três irmãos que tem HIV por medo de que eles passem a evitá-lo. "Acho que eu nunca vou contar a eles", disse. "Eu não quero ser excluído de suas vidas."
A intimidade da vida na reserva, onde uma recepcionista de hospital pode ser da família ou uma enfermeira pode ser uma amiga próxima, pode ser uma barreira para o tratamento rápido e a prevenção. Ciente desses desafios, o Serviço de Saúde Indígena destinou US$ 5 milhões ao longo dos últimos três anos para as comunidades para criar HIV programas de prevenção, tratamento e educação.
"O HIV na reserva indígena é muito diferente do que no resto do mundo", disse a dra. Susan V. Karol, diretora médica da agência. "As nossas comunidades são muito pequenas, e isso pode fazer com que as pessoas evitem o estigma, em vez de buscarem o tratamento de que precisam."
O departamento de saúde da tribo, a Rede Aids Navajo e a clínica do dr. Iralu começaram esforços de informação, divulgando mensagens de serviço público em Navajo, promovendo a conscientização através da mídia social e distribuindo preservativos.
Philene S. Herrera, que dirige o programa de prevenção ao HIV da tribo, disse que o relatório recente mostra que mais pessoas estavam sendo testadas. Mas, segundo ela, ele também revela a necessidade de trabalhar para reduzir a taxa de infecção.
Dados do Serviço de Saúde Indígena e dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças mostram porque a detecção precoce é essencial. Entre 1998 e 2005, as taxas de novos casos de infecção entre os índios norte-americanos não eram muito maiores do que entre os brancos e eram mais baixas do que entre negros e hispânicos. Mas as chances de sobrevivência após o diagnóstico de Aids eram menores entre os índios do que em qualquer outro grupo racial.
Não está claro por que essa dinâmica existe, disse Iralu. Mas menores taxas de exames de HIV de rotina e maiores taxas de co-morbidades, como diabetes e abuso de drogas e álcool são fatores prováveis.
Numa parede do corredor da clínica, um cartaz implora às pessoas para fazerem exames. Um jovem Navajo com chapéu de caubói olha solenemente à frente, homem Navajo fresco-enfrentado em um chapéu de caubói olha solenemente para frente. Atrás dele, uma estrada vazia desaparece no horizonte.
"Tenho medo de que, se esperarmos muito tempo, isso possa se transformar numa verdadeira epidemia", diz Iralu.
Tradução: Eloise De Vylder

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