Manny Fernandez - NYT
Ao longo de um rastro de quase 30 km de prédios desmoronados, carros revirados e destroços lamacentos, havia outra visão impressionante na quarta-feira (22) –um proprietário, de vassoura na mão, varrendo a entrada da garagem, tentando deixar pelo menos um pedaço de chão da forma que era.
Veja onde fica Oklahoma City (EUA)
Por mais de um século, este subúrbio de Oklahoma City tem sofrido no caminho dos tornados. Pelo menos 22 tornados atingiram Moore ou passaram por perto, matando mais de 100 pessoas desde que a cidade foi incorporada, em 1893, de acordo com o Serviço Nacional do Clima. O tornado que destruiu dezenas de casas, lojas e escolas na segunda-feira (20), traçou um caminho de destruição por 27 km e matou pelo menos 24 pessoas, mas aquele que ocorreu no dia 3 de maio de 1999, deixou um rastro ainda maior e mais mortífero, tocando o solo por 60 km e matando 36 pessoas.
Apesar da destruição contínua, as pessoas não fugiram de Moore. Elas ficaram e reconstruíram a cidade, e outras ainda se mudaram para cá. Em 1970, a cidade tinha 19 mil habitantes; já em 2011, eram 56 mil.
Moore é um subúrbio de classe operária no limite sul de Oklahoma City, onde as igrejas superam os bares e os republicanos superam os democratas. Na década de 189o, um funcionário das ferrovias chamado Al Moore, que morava em um vagão antigo, teve dificuldades em receber sua correspondência em um assentamento local. Ele pintou seu nome em uma tábua e pregou-a no vagão, e assim nasceu o nome da cidade, segundo as autoridades.
A maior parte dos habitantes é branca, e a cidade tem uma renda média por residência de US$ 56.601 ao ano, mais alta que a média de Oklahoma City, de US$ 44.973. As pessoas estacionam seus trailers na porta da garagem, ao lado de carros e barcos. Elas trabalham nas indústrias de petróleo e energia, têm pequenas empresas, cortam cabelo, cuidam de crianças, trabalham em restaurantes. O prefeito há muito tempo é Glenn Lewis, proprietário de uma joalheria. O congressista republicano que representa a região na Assembleia Legislativa do Estado, Mark McBride, tem uma empresa de construção de casas e telhados.
"É uma cidade de colarinho azul", disse ele. "Somos bem simples. Pagamos em dinheiro pelas coisas".
McBride, 52, nasceu e se criou em Moore e ainda mora aqui. Com seu chapéu de caubói, botas e jeans, personifica o jeito pouco pretensioso da cidade. Em uma conferência com a imprensa, ele anunciou na televisão ao vivo que, se alguém precisasse de lugar para ficar, ele tinha espaço na casa dele. Depois, divulgou seu telefone celular.
"Eu não estava brincando", disse McBride. "Tenho camas extra e um sofá".
Ken e Doris Saxon mudaram-se para uma casa de tijolinho, a poucas quadras da prefeitura em 1962, com seus quatro filhos pequenos. Poucos anos depois, um tornado atingiu a Escola de Ensino Médio de Moore, onde o irmão de Saxon era diretor da banda. Houve outros momentos de perigo: o tornado de 1999 passou a apenas umas 10 quadras ao norte e, na segunda-feira, eles tiveram que se agachar no banheiro, segurando travesseiros na cabeça. Sua casa, assim como as de seus vizinhos, foi poupada.
Na tarde de quarta-feira (22), o casal –os filhos já cresceram, e eles são avós- estava ocupado no quintal, retirando os galhos de árvores caídos. A sra. Saxon, 78, gerente de escritório aposentada, estava com suas luvas de jardinagem vermelhas, enquanto seu marido, 80, mecânico de automóveis aposentado, descansava na sombra. Ela se lembra do tornado que atingiu a escola décadas atrás, quando o irmão dela estava dirigindo uma apresentação da banda. O telhado cedeu, e a chuva caiu dentro da sala. Ele pediu à banda para que continuasse tocando.
"Na Califórnia, você tem terremotos", disse Saxon. "Em Nova York, você tem furacões. Em todo lugar tem alguma coisa. Nós escolhemos isso. É um bom lugar para se morar. É a nossa casa".
Em algumas áreas atingidas de Moore, é difícil dizer como era a cidade. Em uma zona residencial perto do Moore Medical Center, as casas na rua Sudoeste Seis foram reduzidas a pilhas de madeira, concreto e tijolo. Pelo horizonte, havia algumas carcaças de casas, árvores sem casca e chaminés sem casa.
Na noite de terça-feira (21), essa parte nivelada de Moore não era a verdadeira Moore: não havia moradores pegando seus pertences, só repórteres e equipes de televisão e seus caminhões. Ali perto, havia bloqueios dos membros da Guarda Nacional, no que antes eram cruzamentos movimentados.
Na quarta-feira, a verdadeira Moore estava em torno da praça Madison, onde os proprietários estacionaram seus trailers e caminhonetes e começaram a limpeza. O bairro foi fortemente danificado, mas ainda era reconhecível, apesar dos toques surreais. Um estilhaço grosso de madeira perfurava como uma adaga um escorrega azul em um playground; um motorista da UPS fazia suas entregas em casas que mal ficavam de pé.
Em uma casa de tijolos de dois andares no final de uma rua sem saída, você tinha que imaginar o quarto no andar de cima onde os filhos de Crystal Sheppard costumavam dormir. Não havia mais andar de cima. Havia apenas uma janela e o céu aberto. Sheppard, 26, mudou-se para Moore em abril de 2011 com o marido, um filho de 4 anos e duas meninas que está cuidando, atraídos pela fama do distrito escolar. Ela é dona de casa. O marido, Daunte, 27, é gerente de finanças de uma revendedora Chevrolet.
Na segunda-feira, Sheppard estava em casa com as duas meninas quando o tornado se aproximou. O filho estava na pré-escola, e o marido, no trabalho. Ela agarrou as meninas e fugiu, junto com uma vizinha. "Vinha atrás de nós, e tentávamos ficar à frente", disse ela. "Foi literalmente pé na tábua".
Na quarta-feira, ela e o marido removeram os móveis e eletrodomésticos que não estavam destruídos. Por baixo dos destroços no pátio, ela pegou um retrato do filho de graduação da creche.
Eles vão permanecer na cidade. "Não vamos sair de Moore", disse ela. "Vamos simplesmente construir um abrigo".
Tradução: Deborah Weinberg
Veja onde fica Oklahoma City (EUA)
Por mais de um século, este subúrbio de Oklahoma City tem sofrido no caminho dos tornados. Pelo menos 22 tornados atingiram Moore ou passaram por perto, matando mais de 100 pessoas desde que a cidade foi incorporada, em 1893, de acordo com o Serviço Nacional do Clima. O tornado que destruiu dezenas de casas, lojas e escolas na segunda-feira (20), traçou um caminho de destruição por 27 km e matou pelo menos 24 pessoas, mas aquele que ocorreu no dia 3 de maio de 1999, deixou um rastro ainda maior e mais mortífero, tocando o solo por 60 km e matando 36 pessoas.
Apesar da destruição contínua, as pessoas não fugiram de Moore. Elas ficaram e reconstruíram a cidade, e outras ainda se mudaram para cá. Em 1970, a cidade tinha 19 mil habitantes; já em 2011, eram 56 mil.
Moore é um subúrbio de classe operária no limite sul de Oklahoma City, onde as igrejas superam os bares e os republicanos superam os democratas. Na década de 189o, um funcionário das ferrovias chamado Al Moore, que morava em um vagão antigo, teve dificuldades em receber sua correspondência em um assentamento local. Ele pintou seu nome em uma tábua e pregou-a no vagão, e assim nasceu o nome da cidade, segundo as autoridades.
A maior parte dos habitantes é branca, e a cidade tem uma renda média por residência de US$ 56.601 ao ano, mais alta que a média de Oklahoma City, de US$ 44.973. As pessoas estacionam seus trailers na porta da garagem, ao lado de carros e barcos. Elas trabalham nas indústrias de petróleo e energia, têm pequenas empresas, cortam cabelo, cuidam de crianças, trabalham em restaurantes. O prefeito há muito tempo é Glenn Lewis, proprietário de uma joalheria. O congressista republicano que representa a região na Assembleia Legislativa do Estado, Mark McBride, tem uma empresa de construção de casas e telhados.
"É uma cidade de colarinho azul", disse ele. "Somos bem simples. Pagamos em dinheiro pelas coisas".
McBride, 52, nasceu e se criou em Moore e ainda mora aqui. Com seu chapéu de caubói, botas e jeans, personifica o jeito pouco pretensioso da cidade. Em uma conferência com a imprensa, ele anunciou na televisão ao vivo que, se alguém precisasse de lugar para ficar, ele tinha espaço na casa dele. Depois, divulgou seu telefone celular.
"Eu não estava brincando", disse McBride. "Tenho camas extra e um sofá".
Ken e Doris Saxon mudaram-se para uma casa de tijolinho, a poucas quadras da prefeitura em 1962, com seus quatro filhos pequenos. Poucos anos depois, um tornado atingiu a Escola de Ensino Médio de Moore, onde o irmão de Saxon era diretor da banda. Houve outros momentos de perigo: o tornado de 1999 passou a apenas umas 10 quadras ao norte e, na segunda-feira, eles tiveram que se agachar no banheiro, segurando travesseiros na cabeça. Sua casa, assim como as de seus vizinhos, foi poupada.
Na tarde de quarta-feira (22), o casal –os filhos já cresceram, e eles são avós- estava ocupado no quintal, retirando os galhos de árvores caídos. A sra. Saxon, 78, gerente de escritório aposentada, estava com suas luvas de jardinagem vermelhas, enquanto seu marido, 80, mecânico de automóveis aposentado, descansava na sombra. Ela se lembra do tornado que atingiu a escola décadas atrás, quando o irmão dela estava dirigindo uma apresentação da banda. O telhado cedeu, e a chuva caiu dentro da sala. Ele pediu à banda para que continuasse tocando.
"Na Califórnia, você tem terremotos", disse Saxon. "Em Nova York, você tem furacões. Em todo lugar tem alguma coisa. Nós escolhemos isso. É um bom lugar para se morar. É a nossa casa".
Em algumas áreas atingidas de Moore, é difícil dizer como era a cidade. Em uma zona residencial perto do Moore Medical Center, as casas na rua Sudoeste Seis foram reduzidas a pilhas de madeira, concreto e tijolo. Pelo horizonte, havia algumas carcaças de casas, árvores sem casca e chaminés sem casa.
Na noite de terça-feira (21), essa parte nivelada de Moore não era a verdadeira Moore: não havia moradores pegando seus pertences, só repórteres e equipes de televisão e seus caminhões. Ali perto, havia bloqueios dos membros da Guarda Nacional, no que antes eram cruzamentos movimentados.
Na quarta-feira, a verdadeira Moore estava em torno da praça Madison, onde os proprietários estacionaram seus trailers e caminhonetes e começaram a limpeza. O bairro foi fortemente danificado, mas ainda era reconhecível, apesar dos toques surreais. Um estilhaço grosso de madeira perfurava como uma adaga um escorrega azul em um playground; um motorista da UPS fazia suas entregas em casas que mal ficavam de pé.
Em uma casa de tijolos de dois andares no final de uma rua sem saída, você tinha que imaginar o quarto no andar de cima onde os filhos de Crystal Sheppard costumavam dormir. Não havia mais andar de cima. Havia apenas uma janela e o céu aberto. Sheppard, 26, mudou-se para Moore em abril de 2011 com o marido, um filho de 4 anos e duas meninas que está cuidando, atraídos pela fama do distrito escolar. Ela é dona de casa. O marido, Daunte, 27, é gerente de finanças de uma revendedora Chevrolet.
Na segunda-feira, Sheppard estava em casa com as duas meninas quando o tornado se aproximou. O filho estava na pré-escola, e o marido, no trabalho. Ela agarrou as meninas e fugiu, junto com uma vizinha. "Vinha atrás de nós, e tentávamos ficar à frente", disse ela. "Foi literalmente pé na tábua".
Na quarta-feira, ela e o marido removeram os móveis e eletrodomésticos que não estavam destruídos. Por baixo dos destroços no pátio, ela pegou um retrato do filho de graduação da creche.
Eles vão permanecer na cidade. "Não vamos sair de Moore", disse ela. "Vamos simplesmente construir um abrigo".
Tradução: Deborah Weinberg
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