sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ataque em Londres faz ressurgir temor do "lobo solitário"
Laurent Borredon - Le Monde
22.mai.2013 - Reuters/ITV News

Suspeito de participar do ataque que matou um soldado em Londres aparece com as mãos sujas de sangue em vídeoSuspeito de participar do ataque que matou um soldado em Londres aparece com as mãos sujas de sangue em vídeo
O assassinato de um militar britânico perto de um quartel em Londres, na quarta-feira (22), por dois homens supostamente islâmicos, materializou um dos maiores temores dos serviços de inteligência ocidentais: os ataques aleatórios de terroristas que agem sozinhos ou como parte de microcélulas: os "lobos solitários". O fenômeno é impalpável e indetectável.
O alvo atingido inevitavelmente lembra o caso Merah. No dia 11 de março de 2012, Mohamed Merah havia começado seu surto sangrento matando friamente um militar, Imad Ibn-Ziaten, em Toulouse. Depois, em 15 de março, ele atacou três soldados em Montauban, nas proximidades de um quartel. E, no dia 19 de março, ele quis alvejar novamente um militar, antes de se contentar com a escola judaica Ozar-Hatorah, pois o homem estava ausente. Mohamed Merah, assim como os dois homicidas de Londres, teve o cuidado de deixar um rastro de seus assassinatos, todos filmados por ele. Em fevereiro, o ministro do Interior, Manuel Valls, havia estimado que havia "dezenas de Merah em potencial" na França.
Mas o terrorista de Toulouse havia preparado minuciosamente sua ação, reuniu armas de fogo, veículos, determinou alvos. Assim como os irmãos Tsarnaev, autores do atentado de Boston, que resultou em 3 mortos e 260 feridos no dia 15 de abril.
O assassinato de Londres, explica um especialista, pareceria com uma espécie de "lúmpen terrorismo", um terrorismo dos pobres. Muito menos letal, mas não necessariamente menos preocupante, pois esse tipo de ataque funciona por ondas e por ciclos.

"Terrorismo de Estado" preocupa

Desse ponto de vista, o ataque a facadas mais ou menos aleatório não é inédito. Do final dos anos 1980 até o início dos anos 1990, durante a primeira Intifada, Israel foi tomado pela "guerra das facas". Palestinos atacavam sozinhos civis judeus na rua, em pontos de ônibus. Mas os militares, em serviço ou não, eram particularmente visados. O método foi amplamente utilizado, sobretudo após acontecimentos específicos: tiroteios na esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, ou Guerra do Golfo. Os atentados às vezes eram reivindicados sem que fosse possível identificar um verdadeiro mandante.
Mais recentemente, em 2005, um estudante de Montauban havia sido morto com facadas no coração por um homem que gritava "Alá Akbar" na medina de Fez, no Marrocos. A Justiça marroquina não aceitou a motivação terrorista por considerar que o culpado era louco --para evitar prejuízos sobre o turismo local, conforme denunciou a família da vítima. Às vezes a linha é tênue.
O ataque de Londres ocorreu num momento em que os serviços de inteligência ocidentais, sobretudo os franceses, sempre vigilantes quanto à ameaça interna, também estão se preocupando com um possível ressurgimento de um "terrorismo de Estado" muito mais clássico, vindo de Damasco, através do Hezbollah libanês.
Na terça-feira, Londres pediu à União Europeia que incluísse o braço militar da organização na lista de grupos terroristas em razão de seu envolvimento nos combates na Síria. E, na quarta-feira, o Reino Unido conseguiu o apoio do ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius.
Tradutor: Lana Lim

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