quinta-feira, 23 de maio de 2013

Com determinação, família busca juntar os cacos após tornado
John Eligon - NYT
Acabou, pensou Mark Ellerd.
O revestimento térmico que recheava as paredes começou a despencar sobre a cabeça dele. Ellerd podia ouvir os vidros se quebrando, as paredes desmoronando e o telhado sendo arrancando de sua casa térrea, localizada ao lado de um complexo de cinemas. E, claro, houve aquele estrondo familiar, como um trem.
Tendo vivido na região da cidade de Oklahoma durante todos os seus 49 anos, Ellerd está bem familiarizado com tornados. Mas nunca antes ele havia ficado no olho de um. Quando o tornado atingiu Moore, na tarde de segunda-feira passada, ele estava sozinho em casa, e tudo o que pode fazer foi deitar-se no chão de seu closet e abraçar sua cocker spaniel, Molly, que estava chorando. Ele pensou que ia morrer.
Na terça-feira (21), enquanto as equipes de resgate continuavam procurando sobreviventes freneticamente sob montes de metal retorcido, madeira e outros detritos, moradores como Ellerd tentavam compreender o que eles tinham acabado de passar e vislumbrar o caminho incerto e árduo que terão pela frente.
Havia uma mistura de tristeza, determinação e reflexão no ar. Dezenas de caminhões de equipes de TV estavam estacionados em meio aos destroços, enquanto repórteres transmitiam tudo ao vivo. Carros de polícia com suas luzes piscantes corriam rua acima e rua baixo.
As equipes de resgate se reuniram em volta de caminhões e ônibus parados no estacionamento de um grande cinema, que permaneceu praticamente intacto, enquanto equipes trabalhavam na fachada com um guindaste e pessoas em uniformes militares remexiam o gramado em frente ao cinema. Todos ficavam apreensivos quando relâmpagos e trovões rugiam em meio à tempestade ocasional. Havia uma sensação ruim no ar, um certo temor.
Ellerd tentava verificar o que havia restado da casa que ele dividia com sua esposa, seu filho e sua filha, enquanto as lágrimas escorriam sob seus óculos escuros. Os tijolos vermelhos tinham sido arrancados. A maior parte do telhado tinha sido arrancada, e partes da estrutura de madeira da casa era tudo que restava de pé. A parede em volta da porta marrom que dava para o closet onde Ellerd tinha ficado agachado estava suja. Uma garrafa cor de lavanda de spray feminino para o corpo estava sobre uma cômoda e um conversor de TV a cabo encontrava-se em uma outra cômoda.
Os policiais pediram para que Ellerd ficasse longe de sua casa por enquanto devido ao perigo de desabamentos adicionais e outros riscos ainda existentes.
Ellerd, seu filho e um amigo acamparam em uma barraca montada ao lado do que sobrou de sua casa, temendo os saqueadores.
"Eu quero pegar o que sobrou das minhas coisas, mas eles não estão nos deixando fazer isso", disse ele. "Então, meu pesadelo continua por causa disso. Quando eu conseguir armazenar as minhas coisas em um local seguro, eu poderei descansar. Mas até eu conseguir fazer isso, eu não vou poder descansar".
O filho de 22 anos de Ellerd, Tyler, fez um levantamento de todas as construções que restaram – ou não – ao seu redor. Ele apontou para um quarteirão onde uma fileira de casas e uma loja 7-Eleven foram arrasadas.
"Havia uma pista de boliche ali, mas ela foi totalmente destruída", disse ele, apontando para um estacionamento que parecia uma pilha de destroços despejados aleatoriamente no asfalto. No local, as equipes de resgate não davam mostras de terem abandonado a esperança. Alguns socorristas vestidos com casacos amarelos fluorescentes e capacetes escalaram a pilha irregular na terça-feira de manhã com cães latindo ao seu lado.
Em frente à casa de Ellerd, do outro lado da rua, era possível ver a fachada do Moore Medical Center, toda retalhada e enlameada. Várias letras da fachada cor de areia estavam faltando e vigas de alumínio se encontravam expostas no interior da clínica. Dezenas de carros esmagados estavam empilhados no estacionamento. Um "X" havia sido pintado com spray fluorescente em alguns deles, para marcar os que haviam sido vasculhados.
Ashley Lockerbie procurou por todo o perímetro do estacionamento com seu pai para tentar localizar seu Honda Pilot 2009 prata, dentro do qual ela havia deixado alguns medicamentos de que estava precisando. Pai e filha observaram mais de perto alguns veículos retorcidos, mas depois de andarem por cerca de 15 minutos, eles não conseguiram encontrar o veículo de Ashley.
"Eu não acredito que ainda tenha um carro", disse ela a seu pai.
Mas Ashley, 25, estava simplesmente feliz por estar com saúde suficiente para procurar por seu carro. Quando o tornado atingiu a cidade, ela ficou agachada em uma escadaria do centro médico com dois de seus filhos – um de 9 meses e o outro de 2 anos – e cerca de 15 outros membros da equipe da clínica e pacientes.
"O barulho foi muito alto", disse Ashley, que trabalha como assistente médica. "Era possível sentir o gosto da sujeira que caía do teto. Dava para sentir o cheiro de gás. Dava para ouvir as coisas simplesmente batendo na porta, de modo que apenas mantivemos a porta o mais fechada possível. Foi assustador".
Tradutora: Cláudia Gonçalves

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