Scott Shane - NYT
Timothy Walter/Marinha americana/AFP
EUA fazem exercício militar com o veículo aéreo não tripulado X-47B, no porta aviões George W. Bush, no litoral do Estado da Virgínia
O presidente Barack Obama adotou os ataques por aviões não tripulados em seu primeiro mandato, e a morte de suspeitos de terrorismo passou a definir sua presidência.
Entretanto, apesar do acalorado debate sobre a legalidade, a moralidade e a eficácia da nova arma, o fato é que o número de ataques de fato está em declínio. Os ataques pelos chamados "drones" no Paquistão tiveram um pico em 2010 e caíram fortemente desde então; o índice no Iêmen caiu para a metade do ano anterior e nenhum ataque foi registrado na Somália em mais de um ano.
Em um discurso muito esperado na quinta-feira (22), na Universidade Nacional de Defesa, Obama fará sua tentativa mais ambiciosa até hoje de justificar os ataques e explicar seu resultado. É provável que ele acompanhe o andamento de suas promessas públicas, inclusive aquela que fez em seu discurso do Estado da União em fevereiro, de definir uma "arquitetura legal" na escolha dos alvos, possivelmente transferindo mais ataques da CIA para os militares. Ele deve também explicar por que acredita que os presidentes devem ser "restringidos" em seu exercício do poder letal; e tomar passos para tornar um programa secreto mais transparente.
No último final de semana, um membro do governo que viu o discurso, falando em condição de anonimato, disse que Obama também "vai rever a política de detenção e os esforços para fechar a prisão da Baía de Guantánamo; e ele vai expor como será o futuro dos esforços contra a Al Qaeda seus afiliados". Alguns dos partidários de Obama instaram-no a usar a ocasião para anunciar que uma parte de um estudo do Senado de 6.000 páginas sobre o antigo programa de interrogatórios da CIA será tornada pública.
Obama, que insistiu no início de sua presidência em ter um papel pessoal nas decisões de ataques, pode também lançar luz sobre o uso decrescente dos ataques por drones. As autoridades dizem que as razões incluem a redução da lista de alvos importantes da Al Qaeda, graças ao sucesso dos ataques anteriores, e fatores transitórios que vão desde o mau tempo até solicitações diplomáticas. Mais amplamente, contudo, o declínio pode refletir um cálculo diferente entre os custos de longo prazo e benefícios das mortes.
Algumas vezes, os membros do governo Obama compararam a precisão relativa do programa, a economia e a segurança para os americanos com o enorme custo em vidas e em dinheiro das duas guerras no Iraque e no Afeganistão. Com o tempo, contudo, os custos dos próprios ataques de drones se tornaram mais evidentes.
Boletins de morte de civis inocentes pelos ataques não tripulados –reais ou, como afirmam as autoridades americanas, exagerados- abalaram as alegações sobre a precisão dessas armas. Os ataques por drones se tornaram material para a propaganda da Al Qaeda, que os usou para defender a noção que os EUA estão em guerra com o islã. Eles foram descritos por terroristas condenados como motivação para seus crimes, inclusive o ataque fracassado a um avião que ia para Detroit em 2009 e a tentativa de explosão de um carro na Times Square em 2010.
Notavelmente, uma lista crescente de ex-funcionários dos governos Bush e Obama expressou preocupação que os ganhos de curto prazo dos ataques pelos aviões não tripulados na eliminação de militantes específicos talvez sejam superados pelos custos estratégicos de longo prazo. Entre as vozes de cautela estão Michael V. Hayden, que, como diretor da CIA em 2008, supervisionou a primeira série de ataques no Paquistão; Stanley A. McChrystal, general reformado que comandou as forças americanas no Afeganistão; James E. Cartwright, que foi vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas; e Dennis C. Blair, ex-diretor de inteligência nacional.
"Acho que os ataques foram tremendamente eficazes", disse Hayden, general reformado da Aeronáutica, falando em geral e não de uma operação em particular. "Mas as circunstâncias mudam. Estamos em um ponto muito mais seguro do que antes, e talvez seja hora de recalibrar".
Hayden disse que, em 2008, o "efeito de primeira ordem dessas operações –a morte de um homem perigoso"- era considerado tão importante que as outras consequências eram postas de lado. Mas com a ameaça terrorista reduzida, os efeitos negativos dos ataques merecem maior consideração. Entre eles, a alienação dos líderes dos países onde ocorrem os ataques; a perda de dados de inteligência de aliados cujas leis proíbem o apoio aos ataques dirigidos; uma erosão do consenso político nos EUA; e a "criação de propaganda de recrutamento para a Al Qaeda".
Uma das ambições de Obama ao assumir era forjar uma nova imagem mais positiva dos EUA no mundo muçulmano. Mas os ataques por aviões não tripulados, junto com o fracasso do presidente em cumprir sua promessa de fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, ajudaram por reduzir ainda mais o índice de aprovação dos EUA em muitos países muçulmanos. No Paquistão, por exemplo, 19% dos pesquisados pelo Pew Research Center tinham uma opinião positiva dos Estados Unidos no último ano da presidência de George W. Bush. No ano passado, o índice de aprovação tinha caído para 12%.
"Globalmente, essas operações são odiadas", disse Micah Zenko, acadêmico do Conselho de Relações Exteriores, que escreveu um importante estudo dos ataques programados neste ano. "É a cara da política externa norte-americana, e é uma cara feia".
É possível correlacionar o aumento e declínio dos ataques por drones no Paquistão e Iêmen com mudanças nas condições políticas. No Paquistão, por exemplo, a CIA cortou os ataques quando as relações pioraram –por exemplo, depois da prisão de Raymond Davis, contratado pela CIA, em janeiro de 2011, e depois da incursão de uma unidade Seal para matar Osama Bin Laden, em maio de 2011. O recente hiato nos ataques no Paquistão pode ter sido levado pelo desejo de não alimentar os sentimentos antiamericanos durante a campanha para as eleições gerais de 11 de maio.
Bruce Riedel, que foi analista da CIA e acadêmico da Brookings Institution, disse que havia muitas razões para a queda do número de ataques no Paquistão.
"Mas a crescente consciência do custo dos ataques por drones nas relações entre os EUA e o Paquistão provavelmente está no topo da lista", disse Riedel. "Eles são fatais para qualquer esperança de reverter o declínio dos laços com o Estado com armas nucleares que mais cresce no mundo".
No Iêmen, os ataques aumentaram fortemente no ano passado, com o apoio dos EUA aos esforços das autoridades iemenitas para recuperar territórios tomados pelo braço local da Al Qaeda após a tumultuada Primavera Árabe, disse Bill Roggio, editor do "Long War Journal", um site que acompanha esse tipo de ataque. Os números caíram desde então, e não houve ataques no Iêmen em fevereiro e março.
Roggio disse que o coro crescente de críticos –inclusive um jovem jornalista iemenita que criticou apaixonadamente os ataques em uma audiência recente no Senado- podem estar influenciando a política americana. "Tenho a sensação que a forte atenção sobre o programa está provocando maior seletividade ao ordenar os ataques", disse ele.
Tradutora: Deborah Weinberg
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