Christophe Ayad e Serge Michel - Der Spiegel
17.abr.2013 - EFE
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei
E no final, é sempre o guia que vence.
Ao barrar os dois candidatos mais ameaçadores para a autoridade do guia supremo, aiatolá Ali Khamenei, o Conselho dos Guardiões da Constituição bloqueou a eleição presidencial do dia 14 de junho e tirou boa parte de seu interesse. A instância encarregada de examinar o histórico dos candidatos, composta de religiosos e juristas, invalidou Akbar Hashemi Rafsandjani, ex-presidente da República Islâmica (1989-1997), e Esfandiar Rahim Mashaei, braço direito do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Se a eliminação de Mashaei não é surpreendente, de tão desprezado que ele é pelo clero conservador xiita, a de Rafsandjani foi mais audaciosa. Esse alto dignitário da República Islâmica foi presidente por duas vezes e candidato derrotado em 2005. Como justificar sua invalidação em 2013?
Mas, entre o risco de ver chegar à presidência um homem que disponha de uma certa legitimidade, de redes estendidas e diversificadas e de um reconhecimento internacional, e o de transformar a eleição do dia 14 de junho em uma mera paródia, o regime preferiu controlar tudo desde a raiz. Ainda que houvesse o risco de chocar até os meios religiosos que apoiam Rafsandjani. Prova indiscutível do trauma de 2009, quando milhões de iranianos contestaram nas ruas a suposta fraude que permitiu a reeleição logo no primeiro turno de Ahmadinejad, obrigando o guia a ordenar uma cruel repressão, que lhe custou uma considerável perda de popularidade.
Para evitar possíveis problemas, as autoridades bloquearam o envio de SMS na noite de terça-feira (21) em Teerã, segundo o website próximo da oposição, "Sahamnews". Ainda segundo esse veículo, era possível ver forças policiais nos principais eixos da capital, e diversos militantes da campanha de Rafsandjani foram presos preventivamente desde sábado.
A imprensa reformista recebeu a notícia da eliminação de Rafsandjani com incredulidade. O jornal moderado "Ebtekaar" deu como manchete "O grande choque", publicando uma foto de costas do candidato invalidado. Segundo sua filha Fatemeh, ele não vai recorrer. "Nesta manhã [terça-feira, 21 de maio] eles lhe pediram que se retirasse, e ele lhes respondeu: 'Não vou me retirar. As pessoas confiaram em mim e me pediram para vir. Como podem me pedir para renunciar? Não posso traí-las'", ela relatou.
Rafsandjani, frequentemente criticado por sua cobiça e ambiguidades, possuía vários trunfos em 2013. Seu oportunismo era então considerado uma qualidade para tirar o país da crise econômica na qual havia sido afundado pelas sanções ocidentais e pela gestão errática de Mahmoud Ahmadinejad. Sua suposta ou verdadeira simpatia pelo "movimento verde" de 2009 fazia dele o candidato dos jovens e da classe média urbana. Seu pragmatismo trazia a esperança de que ele poderia reconciliar por fim o Irã com os Estados Unidos, assim como em 1988 ele havia convencido o aiatolá Khomeini a colocar um fim à guerra contra o Iraque.
Mas a ele faltou o essencial: o apoio do guia supremo Ali Khamenei, que no entanto recebera sua contribuição para chegar ao trono em 1989, após a morte de Khomeini, e que ele procurou nunca criticar diretamente. Entre os dois homens aparentemente reinava uma "amizade de 50 anos", que hoje parece mais com uma apunhalada nas costas.
"A meu ver, não haverá nenhum problema, graças ao guia, e eu defenderei sua reintegração até o último minuto", ele declarou. "Estou confiante de que esse problema pode ser resolvido". Uma declaração que só irritaria Ali Khamenei, mas que também soa como uma ameaça. O presidente na verdade controla o Ministério do Interior, encarregado de organizar as eleições, e poderia mostrar seu poder de dano nas próximas semanas, para vingar a eliminação de Mashaei.
Portanto, na disputa permanecem somente oito candidatos, todos próximos do número um iraniano, com exceção de um reformista sem envergadura, Mohamed-Reza Aref, e de Hassan Rohani, um moderado próximo de Rafsandjani.
"Precisamos parar de acreditar nessa criatura semi-morta que é o regime", exclamava na terça-feira à noite um internauta iraniano no Facebook, após o anúncio das invalidações. "Só falta nos dizerem: 'Você, o povo, não é importante, seu voto não conta. A opinião de um prevalece sobre a de todos os outros".
Tradutor: Lana Lim
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei
E no final, é sempre o guia que vence.
Ao barrar os dois candidatos mais ameaçadores para a autoridade do guia supremo, aiatolá Ali Khamenei, o Conselho dos Guardiões da Constituição bloqueou a eleição presidencial do dia 14 de junho e tirou boa parte de seu interesse. A instância encarregada de examinar o histórico dos candidatos, composta de religiosos e juristas, invalidou Akbar Hashemi Rafsandjani, ex-presidente da República Islâmica (1989-1997), e Esfandiar Rahim Mashaei, braço direito do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Se a eliminação de Mashaei não é surpreendente, de tão desprezado que ele é pelo clero conservador xiita, a de Rafsandjani foi mais audaciosa. Esse alto dignitário da República Islâmica foi presidente por duas vezes e candidato derrotado em 2005. Como justificar sua invalidação em 2013?
Mas, entre o risco de ver chegar à presidência um homem que disponha de uma certa legitimidade, de redes estendidas e diversificadas e de um reconhecimento internacional, e o de transformar a eleição do dia 14 de junho em uma mera paródia, o regime preferiu controlar tudo desde a raiz. Ainda que houvesse o risco de chocar até os meios religiosos que apoiam Rafsandjani. Prova indiscutível do trauma de 2009, quando milhões de iranianos contestaram nas ruas a suposta fraude que permitiu a reeleição logo no primeiro turno de Ahmadinejad, obrigando o guia a ordenar uma cruel repressão, que lhe custou uma considerável perda de popularidade.
Para evitar possíveis problemas, as autoridades bloquearam o envio de SMS na noite de terça-feira (21) em Teerã, segundo o website próximo da oposição, "Sahamnews". Ainda segundo esse veículo, era possível ver forças policiais nos principais eixos da capital, e diversos militantes da campanha de Rafsandjani foram presos preventivamente desde sábado.
A imprensa reformista recebeu a notícia da eliminação de Rafsandjani com incredulidade. O jornal moderado "Ebtekaar" deu como manchete "O grande choque", publicando uma foto de costas do candidato invalidado. Segundo sua filha Fatemeh, ele não vai recorrer. "Nesta manhã [terça-feira, 21 de maio] eles lhe pediram que se retirasse, e ele lhes respondeu: 'Não vou me retirar. As pessoas confiaram em mim e me pediram para vir. Como podem me pedir para renunciar? Não posso traí-las'", ela relatou.
Rafsandjani, frequentemente criticado por sua cobiça e ambiguidades, possuía vários trunfos em 2013. Seu oportunismo era então considerado uma qualidade para tirar o país da crise econômica na qual havia sido afundado pelas sanções ocidentais e pela gestão errática de Mahmoud Ahmadinejad. Sua suposta ou verdadeira simpatia pelo "movimento verde" de 2009 fazia dele o candidato dos jovens e da classe média urbana. Seu pragmatismo trazia a esperança de que ele poderia reconciliar por fim o Irã com os Estados Unidos, assim como em 1988 ele havia convencido o aiatolá Khomeini a colocar um fim à guerra contra o Iraque.
Mas a ele faltou o essencial: o apoio do guia supremo Ali Khamenei, que no entanto recebera sua contribuição para chegar ao trono em 1989, após a morte de Khomeini, e que ele procurou nunca criticar diretamente. Entre os dois homens aparentemente reinava uma "amizade de 50 anos", que hoje parece mais com uma apunhalada nas costas.
"Injustiça"
O outro invalidado famoso, Esfandiar Rahim Mashaei, é o chefe de gabinete do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O fato de ele ter sido cortado evidencia o enfraquecimento do presidente em final de mandato. Mashaei declarou imediatamente após o anúncio de sua eliminação que ele via ali "uma injustiça" e que ia pedir ao guia supremo para intervir e repará-la. O presidente Ahmadinejad contestou, na manhã de quarta-feira, a desqualificação de seu protegido."A meu ver, não haverá nenhum problema, graças ao guia, e eu defenderei sua reintegração até o último minuto", ele declarou. "Estou confiante de que esse problema pode ser resolvido". Uma declaração que só irritaria Ali Khamenei, mas que também soa como uma ameaça. O presidente na verdade controla o Ministério do Interior, encarregado de organizar as eleições, e poderia mostrar seu poder de dano nas próximas semanas, para vingar a eliminação de Mashaei.
Portanto, na disputa permanecem somente oito candidatos, todos próximos do número um iraniano, com exceção de um reformista sem envergadura, Mohamed-Reza Aref, e de Hassan Rohani, um moderado próximo de Rafsandjani.
"Precisamos parar de acreditar nessa criatura semi-morta que é o regime", exclamava na terça-feira à noite um internauta iraniano no Facebook, após o anúncio das invalidações. "Só falta nos dizerem: 'Você, o povo, não é importante, seu voto não conta. A opinião de um prevalece sobre a de todos os outros".
Tradutor: Lana Lim
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