Rafsanjani, influente clérigo, foi barrado pelo órgão que aprova nomes para disputar a Presidência, em 14/6
Outro candidato, ligado ao atual presidente, Ahmadinejad, sofreu o mesmo veto; decisão não foi explicada
SAMY ADGHIRNI - FSPO órgão ideológico que supervisiona eleições no Irã barrou ontem a candidatura à Presidência de um clérigo moderado tido como um dos fundadores da república islâmica e que era considerado um dos favoritos na votação de 14 de junho.
O veto ao ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani compromete ainda mais a credibilidade do sistema eleitoral no Irã, que havia sido questionada após a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.
Anunciada na TV estatal, a lista dos aprovados pelo Conselho de Guardiães da Revolução inclui seis conservadores alinhados ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e apenas dois reformistas sem apelo popular.
O conselho, que analisou 686 candidaturas, a maioria de cidadãos comuns em busca de notoriedade, não deu justificativa para barrar Rafsanjani. Mas o órgão insinuou anteontem que os 78 anos de idade do homem que presidiu o país de 1989 a 1997 o impediam de ter condições físicas para voltar ao cargo.
O veterano clérigo havia entrado na disputa de forma inesperada, registrando sua candidatura quando faltavam cinco minutos para o fim do prazo legal das inscrições, há doze dias.
Sua participação eletrizou o eleitorado jovem e liberal. Milhões de iranianos sentiam-se carentes de alternativas políticas desde que os principais líderes reformistas foram marginalizados da vida pública por incitar manifestações contra supostas fraudes no último pleito presidencial.
Ao apoiar os protestos, Rafsanjani conquistou a simpatia do campo reformista, que havia pedido votação em massa a favor do ex-presidente.
Mas esse alinhamento também lhe custou a hostilidade dos setores mais conservadores do regime, que pressionaram por sua exclusão da disputa.
NACIONALISTA
O conselho também anulou a candidatura do nacionalista Esfandiar Rahim Mashaee, que Ahmadinejad havia designado como sucessor, já que o presidente não pode concorrer devido à limitação de dois mandatos consecutivos.
O veto a Mashaee, mais próximo assessor de Ahmadinejad, era esperado.
O clã presidencial atraiu a fúria do regime nos últimos anos por promover uma agenda não religiosa e desafiar a autoridade do aiatolá Khamenei.
Com a proibição de dois candidatos com agenda liberal e forte potencial de voto, o regime pavimenta o caminho para a eleição de um candidato leal à agenda conservadora do líder supremo.
Entre os favoritos estão o prefeito de Teerã, Mohamad Qalibaf, o assessor de Khamenei para temas internacionais e ex-chanceler Ali Akbar Velayati, e o candidato preferido do líder supremo, o negociador chefe do Irã no dossiê nuclear, Saeed Jalili.
Após o anúncio da lista, Jalili prometeu priorizar o "discurso islâmico revolucionário para fazer evoluir o país", refletindo seu alinhamento à retórica de resistência a pressões externas pregada por Khamenei.
PROGRAMA NUCLEAR
Muitos iranianos dizem que sua principal preocupação é a degradação da situação econômica, causada em grande parte por sanções internacionais contra o programa nuclear de Teerã.
Conselho tem palavra final sobre candidatos
DE TEERÃNos últimos dias, todas as atenções no Irã estavam voltadas para o Conselho de Guardiães da Revolução, uma das entidades mais poderosas no sistema teocrático implementado com a revolução de 1979.
Após muita especulação e boataria, o conselho divulgou ontem a lista dos aprovados para concorrer à Presidência, selecionados entre 686 candidaturas em função de critérios como devoção religiosa e lealdade à ideologia do regime.
Apesar da premissa pela qual todo cidadão iraniano nato, muçulmano, com pós-graduação e sem ficha policial pode entrar na disputa, o conselho é visto como um órgão politizado que filtra candidaturas em função dos interesses do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
Metade dos 12 guardiães que integram o órgão são teólogos apontados pessoalmente por Khamenei. Os outros seis são juristas nomeados e aprovados pelo Parlamento.
Candidatos ao Legislativo e à Assembleia dos Peritos, órgão consultivo, também precisam passar pelo crivo do conselho, cujos membros ficam no cargo por seis anos.
O conselho tem, ainda, o poder de sancionar ou rejeitar projetos de lei aprovados pelo Parlamento.
Quando presidiu o país, o reformista Mohamad Khatami (1997-2005) tentou várias vezes diminuir o poder dos guardiães, em vão.
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