segunda-feira, 27 de maio de 2013

Europa se esforça em vão para salvar geração perdida
Der Spiegel
Stylia Kampani fez tudo certo, e ela ainda não sabe o que o futuro reserva para ela. A jovem de 23 anos de idade estudou relações internacionais na sua Grécia natal e passou um ano na Universidade de Bremen, no norte da Alemanha. Ela fez um estágio no Ministério das Relações Exteriores em Atenas e trabalhou para a Embaixada da Grécia em Berlim. Agora ela está fazendo um estágio não remunerado no prestigioso jornal Kathimerini de Atenas. E o que acontecerá depois disso? "Boa pergunta", diz Kampani. "Eu não sei."
"Nenhum dos meus amigos acredita que teremos um futuro ou que conseguiremos viver uma vida normal", diz Kampani. "Este não era o caso há quatro anos."
Quatro anos atrás foi quando a crise do euro começou. Desde então, o governo grego aprovou uma série de programas de austeridade, o que tem sido especialmente difícil para os jovens. A taxa de desemprego entre os gregos menores de 25 anos está acima de 50% há meses. A situação é igualmente dramática na Espanha, Portugal e Itália. De acordo com o Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia, a taxa de desemprego entre jovens adultos na UE subiu para 23,5%. Uma geração perdida está tomando forma na Europa. E os governos europeus parecem não saber o que fazer quando ouvem as coisas que pessoas como o ateniense Alexandros, formado pela Universidade de Atenas, estão dizendo: "Não queremos deixar a Grécia, mas a incerteza constante nos deixa cansados e deprimidos".
Em vez de lançar programas de educação e formação eficazes para preparar os jovens do sul da Europa para a vida profissional após a crise, as elites políticas do continente preferem travar velhas batalhas ideológicas. Houve apelos crescentes para os tradicionais programas de estímulo econômico na Comissão Europeia, em Bruxelas. Os governos dos países endividados deram mais atenção ao status quo de seus eleitores mais velhos. Enquanto isso, os países credores do norte foram contra qualquer coisa que pudesse custar dinheiro.
Desta forma, a Europa perdeu um tempo valioso, pelo menos até que os governos fossem abalados, no início deste mês, pela notícia de uma taxa muito preocupante: o desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos passou dos 60% na Grécia.
De repente, a Europa está se esforçando para resolver o problema. O desemprego dos jovens estará no topo da agenda de uma reunião de líderes europeus em junho. E o novo primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, está demandando que a luta contra o desemprego dos jovens se torne uma "obsessão" para a UE.

Grandes promessas, resultados escassos

São palavras fortes proferidas pelas capitais europeias, mas elas não foram seguidas por qualquer ação até o momento.
Por exemplo, em fevereiro, o Conselho Europeu votou para destinar mais US$ 7,8 bilhões para combater o desemprego entre os jovens até 2020, atrelando o pacote a uma garantia de emprego altamente simbólica. Mas como os estados-membro ainda estão discutindo sobre como o dinheiro deve ser gasto, o lançamento do pacote teve de ser adiado para 2014.
Um recente esforço franco-alemão continua igualmente nebuloso. Berlim e Paris querem incentivar os empregadores do sul da Europa a contratar e treinar os jovens, fornecendo empréstimos do Banco Europeu de Investimento (BEI). O conceito deve ser apresentado no final de maio. A ministra do trabalho alemã, Ursula von der Leyen, é sua maior defensora.
Em contraste, os esforços alemães para combater a crise têm sido limitados a recrutar trabalhadores qualificados da Grécia, Espanha e Portugal. Mas agora os políticos estão percebendo que a elevada taxa de desemprego em Atenas e Madri é uma ameaça à democracia e pode se tornar o beijo da morte para a zona euro. Talvez seja necessário atingir uma certa idade para reconhecer o problema. "Precisamos de um programa para eliminar o desemprego dos jovens no sul da Europa. [O presidente da Comissão Europeia José Manuel] Barroso não conseguiu fazê-lo", disse o ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, agora com 94 anos. "Isso é um escândalo incomparável."
Os economistas também argumentam que já passou da hora de a Europa fazer alguma coisa em relação ao problema. "As perspectivas de longo prazo para os jovens nos países em crise são extremamente sombrias. Isso aumenta o risco de radicalização de uma geração inteira", adverte Joachim Möller, diretor do Instituto de Pesquisa de Emprego da Alemanha. "Foi um erro dos políticos reconhecerem o problema mas não fazerem nada por tanto tempo", diz Michael Hüther, chefe do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia, estreitamente alinhado com os empregadores.
E Wolfgang Franz, ex-presidente do Conselho Alemão de Especialistas em Economia, diz que "abordagens não convencionais" são necessárias para combater não só o desemprego dos jovens, mas também suas consequências negativas a longo prazo. "Alguém que fica desempregado na juventude vai passar a vida inteira se debatendo com oportunidades de carreira inferiores e salários mais baixos", acrescenta ele.
Em Berlim, o governo alemão está tentando agora criar a impressão de que está fazendo o máximo, enquanto gasta o mínimo possível. A proposta franco-alemã para ajudar os empregadores do sul da Europa é um exemplo ilustrativo. Segundo o plano, os 6 bilhões de euros do programa de assistência à juventude da UE seriam distribuídos para as empresas através do BEI e se multiplicariam, como que por mágica. No final, especulam os proponentes do plano, dez vezes mais dinheiro poderia ser colocado em circulação, pondo um fim à crise de crédito que muitas pequenas empresas do sul da Europa enfrentam.
Mas mesmo o BEI não consegue imaginar como essa abordagem resultaria em 60 bilhões de euros. "Esse número não vem de nós", dizem as autoridades em Luxemburgo. Parece que 20 ou 30 bilhões são um número mais realista para os próximos anos.
Há dúvidas sobre a utilidade de amplas injeções de dinheiro. As primeiras medidas que vieram de Bruxelas foram ineficazes e não deram em nada. No ano passado, a Comissão Europeia prometeu aos países afetados pela crise que eles poderiam usar dinheiro de fundos estruturais para implementar projetos para gerar empregos para os jovens. Cerca de 16 bilhões de euros foram requisitados até o início deste ano, valor destinado a beneficiar 780 mil jovens. Mas as experiências são preocupantes, e os sucessos concretos são poucos.

Solução alternativa?

O gabinete alemão está correndo para criar uma solução diferente, de baixo custo. Numa mesa redonda convocada pelo Ministério da Educação há duas semanas, autoridades de nove departamentos e representantes de várias associações discutiram como o modelo duplo de educação profissional e treinamento da Alemanha podem ser exportados para outros países. As empresas vendem as vantagens do sistema alemão, com sua ênfase na aplicação prática, e criticam o sistema excessivamente acadêmico do sul da Europa.
De acordo com o esboço de um documento de posição que o gabinete alemão pretende discutir em junho, a Alemanha quer apoiar os países afetados pela crise "incorporando elementos da educação aliada à formação profissional em seus respectivos sistemas". O governo pretende criar um novo "Escritório Central de Cooperação Educacional Internacional" no Instituto Federal de Educação e Formação Profissional, que poderia enviar assessores aos países afetados pela crise quando necessário. Dez novos cargos já foram aprovados para o novo escritório.
O economista Wolfgang Franz acha que esta é a abordagem correta. "Temos que melhorar a educação e o treinamento, especialmente nos países afetados pela crise", diz ele. Mas há uma coisa que o irrita. "Deveríamos ter começado isso há muito tempo", diz Franz, lembrando que essa crítica também se aplica aos próprios países em dificuldades, que não conseguiram implementar muitas reformas quando eles foram necessárias.
A Espanha, por exemplo, ficou para trás do resto da Europa durante anos no que diz respeito à educação. Ele detém o recorde questionável de ter o maior percentual de abandono escolar na UE: 24,9%. Paradoxalmente, o governo conservador de Espanha cortou 10 bilhões de euros em financiamento da educação em 2012. Eliminou também incentivos fiscais para as empresas que contratam recém-chegados ao mercado de trabalho. A redução do apoio à educação é especialmente notável, uma vez que a maioria dos 6,2 milhões de desempregados do país tem baixa escolaridade e formação precária.
O problema da Espanha é que os trabalhadores são divididos em duas classes. Desde a ditadura de Franco, tem sido praticamente impossível demitir as pessoas que já têm empregos. Os jovens, por outro lado, muitas vezes têm de se contentar com empregos ocasionais, com quase nenhum benefício de seguridade social. Eles foram os primeiros afetados pela crise. Os que tinham empregos os perderam, e os que não tinham não conseguiram encontrar trabalho – mesmo pessoas bem qualificadas como Ignacio Martín, de 25 anos.
Depois de se formar em ciência política e direito pela famosa Universidade Carlos III de Madri, Martín trabalhou sem remuneração como conselheiro legal para imigrantes. Ele e dois amigos passaram a representar um pequeno sindicato de atores, pelo que recebem 950 euros por mês. Martín ganha tão pouco que não consegue alugar um quarto na capital. Em vez disso, ele mora com a mãe desempregada em Aravaca, um subúrbio de Madri.
A chave para o combate ao desemprego juvenil é reformar o mercado de trabalho dividido. Mas, como mostra um relatório interno do governo alemão, os países afetados pela crise quase não fizeram progressos nesta frente. De acordo com o relatório, Portugal tem potencialmente "reservas adicionais de eficiência em seu sistema de ensino", enquanto a Grécia está mostrando apenas alguns sinais de progresso, como um plano para "ajudar as mulheres jovens desempregadas".
Os problemas associados a um mercado de trabalho dividido são particularmente graves na Itália, onde os trabalhadores mais velhos, com contratos de trabalho que são praticamente imunes à demissão, tornam os empregos inacessíveis para os trabalhadores mais jovens. As palavras na camiseta de um manifestante em Nápoles resumiram o clima entre os jovens: "Não quero morrer de incerteza."
Em Atenas, a jovem formada Stylia Kampani está cogitando começar de novo. Ela está pensando em mudar para a Alemanha. E desta vez, ela acrescenta, ela poderia ficar por lá.
Tradução: Eloise De Vylder

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