sexta-feira, 31 de maio de 2013

Tinta dos jornais estudantis nos EUA está acabando, e a culpa é da web
Winnie Hu - NYT   
O jornal, como muitos outros por toda parte, tem se esforçado para se adaptar ao aumento dos custos de impressão, e o Facebook e o Twitter se tornaram os meios de comunicação preferidos das gerações mais jovens.
A diferença é que "The Clinton News" é um jornal escolar, escrito e lido pelos alunos da escola de segundo grau DeWitt Clinton High School. Agora, enquanto comemora seu 100º ano como um dos jornais estudantis mais antigos da cidade de Nova York, "The Clinton News" representa um testemunho de outro legado de papel e tinta que está rapidamente desaparecendo.
Menos de uma em cada oito escolas públicas da cidade relataram ter um jornal ou aula de jornalismo impresso numa pesquisa informal feita este mês por funcionários da secretaria da educação, que não acompanham oficialmente este tipo de informação. Muitos desses jornais foram reduzidos a publicar apenas algumas vezes por ano por causa do corte de funcionários e de orçamento, e de um novo foco nas matérias acadêmicas essenciais. Alguns já não são mais publicados em papel, existindo apenas como jornais online ou blogs de notícias.

Panorama

Se Nova York é a capital de mídia do mundo, "não se diria isso julgando pelas publicações estudantis", disse Edmund J. Sullivan, diretor-executivo da Associação de Imprensa Estudantil de Columbia, que dá prêmios e realiza oficinas para jornalistas do ensino médio. Ele diz que sete das 560 escolas públicas da cidade são integrantes ativos da associação, menos do que as cerca de 85 que faziam parte em 1970. Em comparação, 23 escolas particulares da cidade estão participando.
Nacionalmente, quase dois terços das escolas públicas têm jornais, de acordo com um estudo da mídia feito em 2011 pelo Centro de Jornalismo Estudantil da Universidade Kent State. Mas Mark Goodman, professor de jornalismo que supervisionou o estudo, disse que um número desproporcional das escolas sem jornais eram de áreas urbanas com maiores porcentagens de alunos pertencentes a minorias. "Elas tendem a ter menos recursos", disse ele, acrescentando que essa divisão contribuiu para um problema de longo prazo da baixa representação das minorias nos empregos do setor da mídia.
O jornal estudantil foi por muito tempo uma tradição estimada em muitas das principais escolas secundárias do país, que permitia aos alunos tomarem a iniciativa e aprimorarem suas habilidades de escrita, enquanto absorviam lições de ética e responsabilidade. Ele fornecia um fórum público para discutir educação cívica com inteligência e paixão e, como um bônus, acrescentava pontos acadêmicos nas candidaturas para a faculdade.
Mas o declínio desses jornais nos últimos anos não é uma perda apenas para as escolas, mas também para uma indústria que está lutando pela sobrevivência. É pouco provável que os alunos criados numa dieta de posts de internet e mensagens instantâneas sejam leitores de jornais no futuro.
"Se não temos sequer um jornal neste nível, como eles vão desenvolver uma paixão por isso?", disse Joshua Sipkin, que foi conselheiro de um jornal online, agora extinto, na Information Technology High School, no Queens. "A maioria dos alunos nem sabe dos jornais, a menos que recebam um (jornal) Metro New York gratuito".
Na High School of Telecommunication Arts and Technology no Brooklyn, "não houve um momento de maior orgulho" do que quando o jornal da escola foi publicado, disse David M. De Martini, diretor-assistente. Mas o jornal, The Statement, desapareceu silenciosamente este ano depois de um mal-sucedido experimento online, que reunia alunos de vários anos, destinado a substituir a versão impressa que tinha de ser sustentada, em parte, através de vendas de bolos e subsídios da Associação de Pais e Mestres.
Até a World Journalism Preparatory School, uma escola pública no Queens que ensina seus 600 alunos a usarem as habilidades de jornalismo para explorar o mundo ao seu redor, tem lutado para encontrar uma forma de sustentar o jornal da escola, uma experiência que, segundo a diretora, proporcionou uma valiosa lição do mundo real sobre o setor. Este ano, a escola eliminou o financiamento para o jornal depois de dizer várias vezes aos alunos que ela não podia pagar indefinidamente US$ 10 mil por ano para imprimi-lo. Os alunos, que não conseguiram vender anúncios, optaram por um jornal online.
"É assim que as publicações sobrevivem ou não, e ter responsabilidade pelas receitas que as apoiam é fundamental para entender o negócio", disse Cynthia Schneider, fundadora e diretora da escola. "Eu não quero que eles passem pelo segundo grau pensando que tudo lhes é dado."

Desinteresse

Em muitas escolas, um fator ainda maior para o desaparecimento dos jornais escolares é o menor envolvimento dos alunos. O jornal antes robusto da Francis Lewis School High, The Patriot, tem lutado para continuar como um modesto projeto on-line depois que a escola, em Queens, parou de oferecer uma disciplina de jornalismo que produzia a maior parte das matérias para a edição impressa. John Pagano, o ex-conslheiro, disse que depois que os alunos deixaram de receber notas pelo seu trabalho, "ficou muito difícil conseguir matérias."
"É uma guerra de atrito", disse Rob Schimenz, presidente da Associação de Imprensa Estudantil de Nova York, um grupo de conselheiros de jornais de 45 escolas. A associação parou de enviar informações para cada escola da cidade há alguns anos, porque muito poucas respondiam.
Ainda assim, muitos conselheiros de jornais e acadêmicos de jornalismo alertam contra o fim dos jornais estudantis. Algumas escolas trouxeram de volta seus jornais depois de algum tempo de inatividade. A Boys and Girls High School no Brooklyn lançou não só um, mas dois jornais, pela primeira vez este ano para oferecer aos alunos mais oportunidades de se expressarem.
Katina Paron, diretora da New York City High School Journalism Collaborative no Baruch College, disse ver sinais de que alguns jornais estudantis estão prosperando. Desde 2009, seu programa forneceu desenvolvimento profissional para 146 escolas públicas de segundo grau, pelo menos 60 das quais indicaram estar publicando jornais este ano, disse ela.
No Bronx, The Clinton News foi publicado até durante a Grande Depressão, duas guerras mundiais, cortes no orçamento escolar e durante um período na década de 1990 em que parecia que acabaria. Os alunos da escola têm levantado dezenas de milhares de dólares para ajudar a cobrir os custos de impressão, comprar novos computadores e softwares, e usar cores nas páginas.
"The News faz parte da nossa história e que seria necessário uma briga de punhos para que ele acabasse", disse Gerard Pelisson, ex-professor de estudos sociais que liderou os esforços. Ainda assim, diz Pelisson, os alunos não arrecadaram dinheiro para o jornal para além do ano que vem, porque eles têm se concentrado na sobrevivência da própria escola. A DeWitt Clinton recebeu uma nota F nos últimos dois anos dos funcionários da secretaria da educação, espalhando temores de que ela possa ser fechada.
The News, que imprime 3 mil cópias a cada dois meses, esforça-se para ser um quadro de avisos para uma escola que é tão grande que alunos podem cursar os quatro anos sem se conhecerem. Em suas páginas, os alunos já publicaram sua própria nota para a escola baseados em pesquisas com os estudantes, e divulgaram suas ideias sobre o porte de armas e, em outro artigo, sobre Beyoncé no Super Bowl. Eles criticaram até as roupas que os professores usam nas aulas – manchas nas axilas e calças empoeiradas de giz foram enfaticamente vetadas.
A veterana Rebecca Dwarka, 18, disse que estava orgulhosa do trabalho do jornal e gostaria que mais colegas se interessassem.
"O Facebook é a nova forma de descobrir o que acontece", disse ela. "Ninguém quer sentar e ler um artigo inteiro sobre qualquer coisa."  
Tradutor: Eloise De Vyder

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