Aliança do Pacífico ganha forma hoje, com projeto de integração que dá as costas para Brasília
Clóvis Rossi - FSP
Não é preciso ser PhD em Harvard para desconfiar que esse novo bloco abre um rombo no projeto prioritário da diplomacia brasileira desde o governo Itamar Franco, reforçado na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, que é o da integração sul-americana, se possível latino-americana, atraindo também o até agora arredio México.
A Aliança do Pacífico não deixa de ser integração entre os três países sul-americanos mais o México, mas ela se fará de costas para Brasília e, como o nome indica, voltada para o outro oceano que banha a América do Sul.
O novo conglomerado tornou-se objeto de desejo de Costa Rica e Panamá, sem contar o de países extracontinentais, como a Espanha, e o Canadá, que já está ligado ao México no Nafta (Área de Livre Comércio Norte-Americana, em sua sigla em inglês).
E o Brasil, enquanto isso? Nada. É verdade que o Itamaraty está terminando a proposta que gostaria de apresentar à União Europeia, no marco da negociação UE/Mercosul. Mas é uma proposta que terá que ser discutida antes com os parceiros do Mercosul, entre os quais há dois (Argentina e Venezuela) que não são exatamente fanáticos pelo livre-comércio.
A eleição de Roberto Azevêdo para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio torna incompreensível a modorra com que se comporta o governo brasileiro nesse capítulo de negociações comerciais. Afinal, Dilma Rousseff fez o maior empenho para eleger Azevêdo, cujo discurso de campanha dizia, com todas as letras, que o livre comércio é ferramenta essencial para o desenvolvimento.
O empresariado industrial brasileiro parece, agora, concordar com ele. Explico o agora: nas negociações tanto UE/Mercosul, como Alca (Área de Livre Comércio das Américas) como Rodada Doha, a indústria resistia a ser a moeda de troca para a abertura dos mercados agrícolas do mundo rico.
Agora, conforme a Folha ouviu na Confederação Nacional da Indústria, há predisposição para uma oferta que cubra 90% de seu volume de comércio, no que coincide, literalmente, com o modelo a ser anunciado hoje pela Aliança do Pacífico.
Duvido que a Argentina concorde com uma proposta desse calibre, mas não dá para o Brasil ficar refém do Mercosul. O bloco está paralisado há muito tempo e sua única chance de ganhar tônus vital seria negociar com gente grande.
Ainda mais agora que surgiu um "new kid" no bloco latino-americano, de tamanho capaz de competir com o Brasil, o gigante adormecido: a população da Aliança do Pacífico é algo maior que a brasileira (209 milhões x 198 milhões) e a economia quase empata (US$ 2,4 trilhões no Brasil, US$ 2 trilhões nos quatro da turma do Pacífico).
Como ensina o grande sociólogo Zé Simão, quem fica parado é poste.
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