Julia Preston - NYT
Glendy Martínez espera ansiosamente para ver se o Congresso algum dia
aprovará a lei que permitirá a imigrantes como ela, sem documentos,
ficarem no país legalmente. Mas ela diz que francamente não se importa
se isso incluirá a promessa de cidadania.
Com o que ganha trabalhando num salão de cabeleireiro em Houston,
Martínez, 30, sustenta um filho que nasceu no Texas e outros três que
deixou para trás em seu país natal, a Nicarágua.
"Tantas pessoas lá dependem de nós que estamos aqui", disse ela. "Seria uma ajuda muito grande se pudéssemos trabalhar em paz e voltar de vez em quando para ver nossos filhos."
Enquanto o presidente Barack Obama busca uma maneira de salvar uma ampla reforma do sistema de imigração, abriu a porta esta semana para uma série fragmentada de projetos de lei menores como forma de conseguir driblar as objeções da Câmara comandada pelos republicanos, que se recusam a aceitar uma medida abrangente que o Senado aprovou em junho.
Mas no que diz respeito a Martínez e muitos outros imigrantes, uma das mais nítidas discordâncias dos republicanos da Câmara com o Senado e a Casa Branca – sobre o processo de cidadania para os imigrantes ilegais – não deve ser difícil de ser resolvida.
"Para muitas pessoas sem documentos, a cidadania não é uma prioridade", disse Oscar A. Chacon, diretor-executivo da Aliança Nacional de Comunidades Latino-Americanas e Caribenhas, uma rede de organizações de imigrantes que inclui muitos estrangeiros sem documentos. "O que eles realmente querem é uma solução que lhes permita superar suas maiores vulnerabilidades."
O projeto do Senado inclui um processo de 13 anos, para 11,7 milhões de imigrantes ilegais, que culmina com a possibilidade de naturalização. Obama e outros defensores dessa medida insistem que qualquer alternativa diferente criaria uma subclasse desprivilegiada. Muitos republicanos rejeitam o processo proposto pelo Senado dizendo que isso recompensa os imigrantes que quebraram a lei. Mas um número crescente de republicanos dizem que continuam dispostos a trabalhar na questão da imigração e poderiam considerar o projeto de lei se ele não envolvesse qualquer caminho direto para a cidadania.
Para os estrangeiros como Martínez – que não podem obter uma carteira de motorista na maioria dos estados e vivem corroídos pelo medo de serem demitidos ou deportados – isso seria suficiente. Eles aspiram se tornar norte-americanos mas concordariam facilmente com menos se pudessem trabalhar e dirigir legalmente, e visitar parentes fora dos EUA.
Outra mulher de Houston, Elena Sandoval, descreveu um momento doloroso quando seu pai morreu em El Salvador e ela não pôde ir ao enterro sabendo que não conseguiria voltar aos Estados Unidos. Sandoval, 48, é empregada doméstica e envia dinheiro para seus três filhos.
"Eu não posso dizer como é difícil deixar a família", disse Sandoval, com um suspiro. "Tudo o que eu queria era ter permissão para me movimentar livremente", acrescentou. "A cidadania seria apenas uma bênção pela qual rezaríamos."
A maioria dos grupos que trabalham pelos direitos dos imigrantes se opõem a qualquer projeto de lei que negue a milhões de pessoas a oportunidade de plena igualdade.
"Ou temos um caminho para a cidadania ou um caminho para o inferno", disse María Rodriguez, diretora-executiva da Coalizão de Imigrantes da Flórida. "Legalizar as pessoas que moram neste país mas nunca terão uma oportunidade de cidadania cria uma segunda classe. Parece totalmente anti-americano."
Os defensores dizem que o caminho proposto pelo Senado – que requer que os imigrantes ilegais paguem multas e impostos atrasados, estudem inglês, passem por avaliações criminais e esperem na fila depois de estrangeiros que se candidataram legalmente – já é bastante longo e árduo. Este mês, houve manifestações e protestos em todo o país e um jejum no National Mall para pressionar a Câmara a votar a favor de um projeto de lei que inclui a cidadania.
Mas entre os imigrantes não há consenso.
No sul da Flórida, houve discussões angustiadas entre café com leite e empanadas entre os membros do Dreamers' Moms (Mães Sonhadoras), um grupo de mães de jovens imigrantes ativistas que também se juntaram ao movimento.
"A cidadania é fundamental", insiste Yaquelín López, 46, boliviana que está ilegalmente nos Estados Unidos há uma década. "Do contrário, seremos 11 milhões de pessoas no limbo."
Marcela Espinal concorda.
"Estivemos trabalhando duro para nossas famílias e pagando impostos todos esses anos, e nunca vivemos com recursos do governo", disse Espinal, 35, hondurenha empregada por mais de uma década na construção. "Por que não deveríamos poder votar algum dia?"
Dois dos três filhos de Espinal já são norte-americanos porque nasceram no país. Ela quer a segurança da cidadania, disse ela, depois que seu marido, também de Honduras, conseguiu escapar da deportação este ano quando grupos de imigrantes protestaram por sua libertação.
Alejandra Saucedo, 43, uma mãe da Argentina, entretanto, defende que a estratégia da cidadania pode ser um tiro pela culatra.
"Acho que se defendermos a mensagem de cidadania ou nada, podemos acabar com nada", disse Saucedo.
Na Câmara, várias dúzias de conservadores rejeitam a legalização, chamando-a de anistia para foras-da-lei.
Mas o porta-voz John A. Boehner de Ohio e outros líderes da Câmara continuam a exortar os republicamos a mostrarem que eles podem consertar um sistema de imigração que está ruído. Muitos republicanos dizem que a legalização, junto com uma maior vigilância na fronteira e nos locais de trabalho, é a única forma prática de lidar com os imigrantes ilegais que se estabeleceram no país.
Boehner disse que a Câmara tratará dessas questões no ano que vem em projetos de lei menores baseados nos princípios que estão sendo elaborados pelo presidente do Comitê Judiciário, o deputado Robert W. Goodlatte, da Virgínia. Goodlatte disse que quer "encontrar o estatuto jurídico apropriado para os imigrantes ilegais", mas que não pretende conceder qualquer caminho especial para eles se tornarem norte-americanos. Obama disse na terça-feira ao The Wall Street Journal, numa entrevista realizada diante de executivos, que "se eles quiserem dividir isso em cinco pedaços, desde que os pedaços sejam feitos, não importa a aparência".
Os republicanos apontam para as taxas baixas de naturalização entre alguns imigrantes legais – 36% entre os mexicanos que são elegíveis, de acordo com o Pew Research Center – para dizer que a cidadania não é essencial para esses grupos. Alguns republicanos também temem que, ao oferecer cidadania, eles poderiam criar milhões de futuros eleitores democratas.
Vários republicanos estão tentando chegar a propostas que seus eleitores poderiam aceitar. Goodlatte e o líder da maioria, deputado Eric Cantor, também da Virginia, têm trabalhado num projeto de lei que prevê um processo de obtenção da cidadania limitado apenas a jovens imigrantes sem documentos.
O deputado Darrell Issa, da Califórnia, presidente da poderosa Comissão de Supervisão e Reforma do Governo da Câmara, disse que estava escrevendo um projeto de lei híbrido que daria aos imigrantes ilegais um status provisório de seis anos, permitindo que pessoas com laços familiares nos EUA se naturalizem eventualmente por meio dos canais regulares, e criaria um programa de trabalhador convidado de longo prazo para os outros.
O deputado Mario Diaz-Balart da Flórida propõe a conquista da cidadania para um grupo mais amplo. E três republicanos assinaram um um projeto de lei proposto por democratas da Câmara com um caminho para a cidadania parecido com o do Senado.
Ao falar na terça-feira para evangélicos latino-americanos em Washington, o deputado Luis V. Gutierrez, democrata de Illinois, que é um defensor ardoroso de uma reforma ampla, pediu aos apoiadores que se disponham a fazer concessões para os republicanos e aceitar a legislação apenas para proteger alguns imigrantes da deportação.
Entre os latinos, um eleitorado cada vez maior que ambas as partes querem cortejar, o sentimento é forte. Em uma pesquisa nacional recente feita pelo Instituto de Pesquisa de Religião Pública, 67% dos latinos disseram os imigrantes que estão ilegalmente no país devem ter autorização para se tornar cidadãos, desde que cumpram determinados requisitos, enquanto 17% disseram que eles só devem se tornar residentes legais.
Na Flórida, Saucedo diz que teme uma onda de deportações se o Congresso não aprovar nenhuma lei. Ela sabe como é sentir alívio, porque depois de viver ilegalmente na Flórida por muitos anos, tornou-se uma residente legal depois de se casar com um norte-americano.
"Deixem que eles aprovem a legalização", disse Saucedo. "Depois disso, continuaremos lutando até atingirmos nosso sonho de sermos norte-americanos com direito a voto."
Tradutor: Eloise De Vylder
"Tantas pessoas lá dependem de nós que estamos aqui", disse ela. "Seria uma ajuda muito grande se pudéssemos trabalhar em paz e voltar de vez em quando para ver nossos filhos."
Enquanto o presidente Barack Obama busca uma maneira de salvar uma ampla reforma do sistema de imigração, abriu a porta esta semana para uma série fragmentada de projetos de lei menores como forma de conseguir driblar as objeções da Câmara comandada pelos republicanos, que se recusam a aceitar uma medida abrangente que o Senado aprovou em junho.
Mas no que diz respeito a Martínez e muitos outros imigrantes, uma das mais nítidas discordâncias dos republicanos da Câmara com o Senado e a Casa Branca – sobre o processo de cidadania para os imigrantes ilegais – não deve ser difícil de ser resolvida.
"Para muitas pessoas sem documentos, a cidadania não é uma prioridade", disse Oscar A. Chacon, diretor-executivo da Aliança Nacional de Comunidades Latino-Americanas e Caribenhas, uma rede de organizações de imigrantes que inclui muitos estrangeiros sem documentos. "O que eles realmente querem é uma solução que lhes permita superar suas maiores vulnerabilidades."
O projeto do Senado inclui um processo de 13 anos, para 11,7 milhões de imigrantes ilegais, que culmina com a possibilidade de naturalização. Obama e outros defensores dessa medida insistem que qualquer alternativa diferente criaria uma subclasse desprivilegiada. Muitos republicanos rejeitam o processo proposto pelo Senado dizendo que isso recompensa os imigrantes que quebraram a lei. Mas um número crescente de republicanos dizem que continuam dispostos a trabalhar na questão da imigração e poderiam considerar o projeto de lei se ele não envolvesse qualquer caminho direto para a cidadania.
Para os estrangeiros como Martínez – que não podem obter uma carteira de motorista na maioria dos estados e vivem corroídos pelo medo de serem demitidos ou deportados – isso seria suficiente. Eles aspiram se tornar norte-americanos mas concordariam facilmente com menos se pudessem trabalhar e dirigir legalmente, e visitar parentes fora dos EUA.
Outra mulher de Houston, Elena Sandoval, descreveu um momento doloroso quando seu pai morreu em El Salvador e ela não pôde ir ao enterro sabendo que não conseguiria voltar aos Estados Unidos. Sandoval, 48, é empregada doméstica e envia dinheiro para seus três filhos.
"Eu não posso dizer como é difícil deixar a família", disse Sandoval, com um suspiro. "Tudo o que eu queria era ter permissão para me movimentar livremente", acrescentou. "A cidadania seria apenas uma bênção pela qual rezaríamos."
A maioria dos grupos que trabalham pelos direitos dos imigrantes se opõem a qualquer projeto de lei que negue a milhões de pessoas a oportunidade de plena igualdade.
"Ou temos um caminho para a cidadania ou um caminho para o inferno", disse María Rodriguez, diretora-executiva da Coalizão de Imigrantes da Flórida. "Legalizar as pessoas que moram neste país mas nunca terão uma oportunidade de cidadania cria uma segunda classe. Parece totalmente anti-americano."
Os defensores dizem que o caminho proposto pelo Senado – que requer que os imigrantes ilegais paguem multas e impostos atrasados, estudem inglês, passem por avaliações criminais e esperem na fila depois de estrangeiros que se candidataram legalmente – já é bastante longo e árduo. Este mês, houve manifestações e protestos em todo o país e um jejum no National Mall para pressionar a Câmara a votar a favor de um projeto de lei que inclui a cidadania.
Mas entre os imigrantes não há consenso.
No sul da Flórida, houve discussões angustiadas entre café com leite e empanadas entre os membros do Dreamers' Moms (Mães Sonhadoras), um grupo de mães de jovens imigrantes ativistas que também se juntaram ao movimento.
"A cidadania é fundamental", insiste Yaquelín López, 46, boliviana que está ilegalmente nos Estados Unidos há uma década. "Do contrário, seremos 11 milhões de pessoas no limbo."
Marcela Espinal concorda.
"Estivemos trabalhando duro para nossas famílias e pagando impostos todos esses anos, e nunca vivemos com recursos do governo", disse Espinal, 35, hondurenha empregada por mais de uma década na construção. "Por que não deveríamos poder votar algum dia?"
Dois dos três filhos de Espinal já são norte-americanos porque nasceram no país. Ela quer a segurança da cidadania, disse ela, depois que seu marido, também de Honduras, conseguiu escapar da deportação este ano quando grupos de imigrantes protestaram por sua libertação.
Alejandra Saucedo, 43, uma mãe da Argentina, entretanto, defende que a estratégia da cidadania pode ser um tiro pela culatra.
"Acho que se defendermos a mensagem de cidadania ou nada, podemos acabar com nada", disse Saucedo.
Na Câmara, várias dúzias de conservadores rejeitam a legalização, chamando-a de anistia para foras-da-lei.
Mas o porta-voz John A. Boehner de Ohio e outros líderes da Câmara continuam a exortar os republicamos a mostrarem que eles podem consertar um sistema de imigração que está ruído. Muitos republicanos dizem que a legalização, junto com uma maior vigilância na fronteira e nos locais de trabalho, é a única forma prática de lidar com os imigrantes ilegais que se estabeleceram no país.
Boehner disse que a Câmara tratará dessas questões no ano que vem em projetos de lei menores baseados nos princípios que estão sendo elaborados pelo presidente do Comitê Judiciário, o deputado Robert W. Goodlatte, da Virgínia. Goodlatte disse que quer "encontrar o estatuto jurídico apropriado para os imigrantes ilegais", mas que não pretende conceder qualquer caminho especial para eles se tornarem norte-americanos. Obama disse na terça-feira ao The Wall Street Journal, numa entrevista realizada diante de executivos, que "se eles quiserem dividir isso em cinco pedaços, desde que os pedaços sejam feitos, não importa a aparência".
Os republicanos apontam para as taxas baixas de naturalização entre alguns imigrantes legais – 36% entre os mexicanos que são elegíveis, de acordo com o Pew Research Center – para dizer que a cidadania não é essencial para esses grupos. Alguns republicanos também temem que, ao oferecer cidadania, eles poderiam criar milhões de futuros eleitores democratas.
Vários republicanos estão tentando chegar a propostas que seus eleitores poderiam aceitar. Goodlatte e o líder da maioria, deputado Eric Cantor, também da Virginia, têm trabalhado num projeto de lei que prevê um processo de obtenção da cidadania limitado apenas a jovens imigrantes sem documentos.
O deputado Darrell Issa, da Califórnia, presidente da poderosa Comissão de Supervisão e Reforma do Governo da Câmara, disse que estava escrevendo um projeto de lei híbrido que daria aos imigrantes ilegais um status provisório de seis anos, permitindo que pessoas com laços familiares nos EUA se naturalizem eventualmente por meio dos canais regulares, e criaria um programa de trabalhador convidado de longo prazo para os outros.
O deputado Mario Diaz-Balart da Flórida propõe a conquista da cidadania para um grupo mais amplo. E três republicanos assinaram um um projeto de lei proposto por democratas da Câmara com um caminho para a cidadania parecido com o do Senado.
Ao falar na terça-feira para evangélicos latino-americanos em Washington, o deputado Luis V. Gutierrez, democrata de Illinois, que é um defensor ardoroso de uma reforma ampla, pediu aos apoiadores que se disponham a fazer concessões para os republicanos e aceitar a legislação apenas para proteger alguns imigrantes da deportação.
Entre os latinos, um eleitorado cada vez maior que ambas as partes querem cortejar, o sentimento é forte. Em uma pesquisa nacional recente feita pelo Instituto de Pesquisa de Religião Pública, 67% dos latinos disseram os imigrantes que estão ilegalmente no país devem ter autorização para se tornar cidadãos, desde que cumpram determinados requisitos, enquanto 17% disseram que eles só devem se tornar residentes legais.
Na Flórida, Saucedo diz que teme uma onda de deportações se o Congresso não aprovar nenhuma lei. Ela sabe como é sentir alívio, porque depois de viver ilegalmente na Flórida por muitos anos, tornou-se uma residente legal depois de se casar com um norte-americano.
"Deixem que eles aprovem a legalização", disse Saucedo. "Depois disso, continuaremos lutando até atingirmos nosso sonho de sermos norte-americanos com direito a voto."
Tradutor: Eloise De Vylder
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