quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Paris 'convenceu seus parceiros' a modificarem o acordo de Genebra, diz chanceler
Le Monde 
Jacques Demarthon/AFP
O chanceler francês, Laurent Fabius 
O chanceler francês, Laurent Fabius 
O ministro das Relações Exteriores respondeu, na terça-feira, às perguntas do "Le Monde" e do "France Culture"
Le Monde: Como o senhor descreve o acordo de Genebra?
Laurent Fabius: Eu uso duas palavras para descrever esse acordo e a posição da França: "avanço" e "vigilância". Não se deve usar uma palavra sem a outra. Veremos se esse avanço será algo histórico quando estivermos no final do processo. Mas desde já é um avanço considerável, resumido no preâmbulo. A França conseguiu com que no acordo preliminar fosse dito de forma expressa: uso civil da energia nuclear, sim; uso militar do nuclear, jamais.
Vigilância também. Primeiro porque se trata somente de um primeiro momento, será necessário chegar ao acordo completo. Enquanto tudo não estiver decidido, nada estará decidido. Precisaremos estar vigilantes quanto aos iranianos aplicando suas promessas, e os iranianos estarão vigilantes quanto à retirada parcial das sanções. Há uma primeira série de sanções que deverá ser retirada assim que começar a fiscalização da AIEA. Isso representa cerca de 5% do total das sanções.
Le Monde: Nesta fase, o acordo prevê um congelamento do programa nuclear iraniano. O senhor deseja que ele seja extinto com o tempo?
Fabius: O objetivo buscado é que, em matéria de uso civil do nuclear, o Irã possa trabalhar assim como todos os outros países, mas que em matéria de uso militar, qualquer perspectiva lhe seja barrada. Tudo parte desse princípio. Os iranianos nos dizem: concordamos com esse princípio. Era essa a negociação. Isso significa que Arak, a usina mais proliferante, a que libera mais plutônio, não é necessária para um uso civil. Por outro lado, uma vez que ela entra em funcionamento, não pode mais ser destruída. Agora, tudo foi suspenso, ela não pode mais funcionar. Os iranianos nos dizem que eles precisam dela para pesquisa médica e tratamento de câncer, mas não é algo plausível. Será necessário um estudo sobre o futuro definitivo dessa usina. No acordo de Genebra, está escrito que o urânio não será enriquecido acima de 5% - nesse nível não há perspectiva de uso militar.
Le Monde: O senhor recusou o texto inicial em Genebra no dia 9 de novembro e aceitou no dia 24. O que mudou?
Fabius: Não era o mesmo acordo. Houve evoluções em quatro pontos. O primeiro ponto era Arak, sobre a qual a redação inicial foi muito vaga; só que somos muito específicos e dissemos o que havia a ser dito. Nossos cinco outros colegas do grupo dos Seis o aceitaram já no dia 9 de novembro e, no final de semana passado, os iranianos acabaram o aceitando. Era um ponto importante. O segundo ponto diz respeito ao armazenamento (de urânio enriquecido) a 20%: as coisas não estavam amarradas. Terceiro ponto – sobre a limitação em 5% - , idem. Enfim, nós insistimos em acrescentar de maneira clara ao preâmbulo: uso civil do nuclear, sim; uso militar do nuclear, jamais. No início, não foi o texto que nos foi proposto. Nós dissemos: esse texto, a princípio, não nos serve. Não estamos trabalhando para nenhum país em especial, estamos trabalhando pela paz e pela segurança. Nós convencemos nossos parceiros do grupo dos Seis, viemos todos juntos para apresentar isso aos iranianos, que nos disseram, "não podemos aceitar". Por isso a negociação do dia 9 de novembro foi suspensa, sendo retomada quinze dias depois, e que foi concluída ao final de quatro dias.
Le Monde: Quando o senhor descobriu que os americanos estavam conduzindo negociações secretas com os iranianos desde o mês de março?
Fabius: John Kerry me havia informado que estavam correndo conversas entre os iranianos e os americanos. Fui informado assim que elas começaram, mas não com detalhes. Nós concordamos com John Kerry que havia, de um lado, a negociação dos 5+1, conduzida por Catherine Ashton (a diplomata-chefe da União Europeia), que fez um trabalho excelente. Considerado o fato de que os Estados Unidos estavam na linha de frente, havia também uma conversa entre americanos e iranianos que era secreta. Isso pode acontecer, o essencial é a eficácia.
Le Monde: Também houve negociações secretas com a França?
Fabius: Não, recentemente vi o embaixador do Irã na França, e o presidente François Hollande encontrou o presidente Rowhani. Houve negociações entre os americanos e os iranianos, depois houve as que foram conduzidas em Genebra com os Seis, onde as coisas voltaram a ser colocadas na mesa. Não foi uma fonte de atrito. Era evidente que o texto ao qual os americanos e os iranianos chegaram não era totalmente aceito pelos iranianos e nós, por outro lado, também tínhamos algo a dizer. E isso terminou muito bem.

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