quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Uma história de amor, impostos e corrupção no Brasil 
Simon Romero - NYT
Havia caixas de charutos cubanos, que custam cerca de US$ 500 cada (aproximadamente R$ 1.000) em uma loja na Vila Nova Conceição, um dos bairros mais exclusivos de São Paulo, e as garrafas de US$ 2.260 de Vega Sicilia Único, um lendário tinto espanhol. Tinha também um Porsche Cayenne, passeios de lancha para ilhas tropicais, saraus a noite toda com acompanhantes de alto nível. O que era tudo isso?
O estilo de vida pouco provável de um auditor fiscal brasileiro.
Em um dos escândalos de corrupção mais picantes a cativar o Brasil em anos, o governo municipal de São Paulo, a maior cidade do país, está enfrentando revelações de um esquema em que, segundo os investigadores, um grupo de auditores fiscais permitiu que empresas de construção evadissem mais de US$ 200 milhões em impostos em troca de subornos.
"Sempre tivemos jantares maravilhosos, viagens excelentes de avião particular para Angra dos Reis", disse Vanessa Alcântara, 27, ex-companheira de um dos auditores acusados de aceitar propinas, em uma entrevista à televisão, referindo-se à cidade à beira-mar entre o Rio de Janeiro e São Paulo, que é um playground da elite do Brasil.
Os detalhes excitantes do escândalo estão emergindo como um desdobramento de uma batalha de custódia entre Alcântara e Luis Alexandre Cardoso de Magalhães, 41, um burocrata de baixo escalão de São Paulo. Os brasileiros estão absorvendo suas confissões e acusações mútuas, televisionadas nacionalmente, em um caso que mostra como a corrupção política permanece enraizada apesar dos novos esforços para enviar funcionários corruptos para a cadeia.
Até agora, o escândalo danificou a imagem do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e de seu antecessor, Gilberto Kassab. Os investigadores dizem que a maioria dos subornos a Magalhães e seus colegas foram pagos pelas construtoras durante os seis anos o mandato de Kassab, de 2006 a 2012, para conseguir a aprovação de projetos imobiliários.
Interceptações de telefonemas de Magalhães sugerem que ele conheceu Alcântara em 2011 na casa noturna paulista Bamboa, frequentada por prostitutas. Alcântara nega o relato, repetido por Magalhães no final de semana na rede Globo de televisão, e alega que eles se conheceram quando ela tentou vender-lhe um plano de telefone celular.
Mas quando se trata da vida luxuosa de ganhos ilícitos, o casal separado parece concordar com um monte de coisas, oferecendo um vislumbre notável na maneira como funcionários corruptos gastam o dinheiro amealhado.
Magalhães, que optou por cooperar com os investigadores depois de sua prisão, em outubro, descreveu como as empreiteiras entregavam semanalmente em seu gabinete sacos de dinheiro, alguns contendo cerca de US$ 30 mil em reais. O dinheiro era dividido entre quatro funcionários do município, disse ele, que conta como queimava sua partilha, gastando mais de US$ 4.500 por noite com prostitutas.
"Eu gastava porque o dinheiro entrava", disse ele. "Eu queria viver".
Em interceptações telefônicas e entrevistas em jornais, Alcântara disse que ela e Magalhães, que tiveram um filho juntos, contavam o dinheiro em sua sala de estar e que chegaram a encontrar mais de US$ 180 mil em suas mãos. Os promotores estimam a sua fortuna em US$ 8 milhões, valor difícil de conciliar com seu salário anual de cerca de US$ 82 mil.
Alcântara disse que usou parte do dinheiro para decorar seu apartamento, a um custo de US$ 50 mil, e os jornais locais contam que esbanjavam em suítes de US$ 2.200 por noite no Unique, um hotel de designer, e refeições em churrascarias embaladas com garrafas de Charmes-Chambertin Grand Cru, um vinho francês cobiçado de US$ 380.
A vida de luxo aparentemente terminou quando Alcântara ficou furiosa com o que considerou uma pensão mensal reduzida oferecida por Magalhães quando se separaram, levando-a a denunciá-lo aos promotores.
Como acontece frequentemente nos escândalos de corrupção no Brasil, é possível que surjam celebridades da intriga.
Uma aspirante a esse status é Nagila Coelho, 38, personal trainer que hoje é companheira romântica de Magalhães. Ela está planejando lançar sua linha própria de biquínis, de acordo com uma reportagem do jornal brasileiro "Folha de São Paulo". Alcântara, por sua vez, está ponderando uma incursão em outro reino: na política.
Ela disse que ainda não tinha se filiado a nenhum partido, mas que já tem um lema: "Ser ladrão é fácil, eu vou ser honesta em meio a todos os ladrões". 
Tradução: Deborah Weinberg

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