Imprima sua arma em casa
Pistola sintética produzida por uma impressora 3D pode se tornar uma das maiores ameaças à segurança pública
DONNA, LEINWAND - O Estado de S.Paulo
Quando, em menos de um mês, a lei americana que proíbe
as armas de fogo não detectáveis, em vigor há décadas, expirar, uma arma
sintética criada numa impressora 3D poderá se tornar uma ameaça à
segurança nacional.
A arma produzida em casa, conhecida como Liberator .380, projetada
num computador, modelada numa impressora 3D com resina plástica, poderá
passar pelos equipamentos detectores de metal em tribunais, escolas,
eventos esportivos e edifícios vários sem disparar nenhum sinal de
alarme. Essas armas usam apenas partes mínimas de metal para a munição e
um gatilho do tamanho de um prego.
A Lei de Armas de Fogo Não Detectáveis, aprovada em 1988 e emendada
em 1998 e 2003, expirará à meia-noite do dia 9. A legislação, que previa
que os fabricantes de armas usassem mais plástico à medida que a
tecnologia evoluísse, exige que as armas tenham uma quantidade de aço
suficiente para serem captadas por um detector de metais. "Deixou de ser
apenas teoria", diz Earl Griffith, diretor de tecnologia de armas de
fogo do Departamento federal do Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e
Explosivos (ATF, na sigla em inglês). "Essa lei fazia todo o sentido em
1988, quando já previa o que aconteceria no futuro."
Os senadores Bill Nelson, democrata pela Flórida, e Charles Schumer,
democrata por Nova York, e o deputado Steve Israel, democrata por Nova
York, propuseram uma versão atualizada que proíbe projeto, manufatura,
venda, importação, exportação e posse das armas feitas em impressora 3D.
O novo projeto exige que o receptor, slide e cano sejam feitos de
metal. "Em 1988, a ideia de uma arma de resina modelada em 3D era coisa
de ficção científica", disse Israel. "Agora, daqui a um mês, será uma
realidade".
Os legisladores poderão estender a atual "proibição de armas
invisíveis" ou acabar com a brecha da lei antiga, que permite fabricar
uma arma de resina, perfeitamente legal, utilizando apenas alguma parte
de metal. "Quando a lei caducar, os avanços realizados na modelagem em
3D tornarão o que outrora não passava de uma ameaça hipotética, uma
realidade pavorosa", disse Schumer em um comunicado. "Estamos explorando
todas as opções para aprovar a legislação que eliminará a ameaça de
armas completamente impossíveis de serem detectadas."
A arma, projetada por Cody Wilson, da Defense Distributed, do Texas,
em 2012, e depois postada na internet, foi baixada mais de 100 mil vezes
antes que as autoridades federais bloqueassem o site, em maio, disseram
os senadores em carta endereçada aos colegas. O projeto de Wilson
inclui um bloco de metal inserido na arma, o que a torna legal de acordo
com a lei atual. A arma, porém, pode ser desmontada em várias partes e o
metal retirado, o que a torna ilegal e mais difícil de ser detectada,
mesmo por equipamentos de segurança dotados de raio-X, disse Griffith.
Agentes do ATF criaram e testaram várias armas que utilizam projetos e
qualidades diferentes de resina plástica. Impressoras sofisticadas 3D
levaram de 10 a 18 horas para modelar as peças e materiais utilizados
custaram de US$ 80 a US$ 170, disse Griffith. Uma arma fabricada com
resina de baixa qualidade despedaçou-se depois de disparar um tiro. Uma
segunda arma, feita de um material de melhor qualidade, disparou oito
vezes e ficou intacta.
O tiro de uma arma de plástico provocou quase o mesmo estrago do de
uma arma de metal, penetrando cerca de 27,5 centímetros no material que
se assemelha ao tecido de que é feito o corpo humano. "O fato de que
qualquer pessoa com o equipamento adequado possa fazer em casa uma arma
que funcione plenamente com o simples clicar de um mouse é algo
realmente apavorante", afirmou Nelson. "Armas como essas representam uma
grave ameaça para a segurança nacional e precisamos fazer todo o
possível para impedir que cheguem às ruas."
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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