Reinaldo Azevedo - VEJA
É
claro que num país normal, que honra a tradição democrática e a
transparência, José Eduardo Cardozo já não seria mais ministro a partir
de amanhã. Agora está claro por que ele anda tão nervoso.
Há sinais
de que pode ter havido irregularidades na relação entre a Siemens — e,
quem sabe?, outras empresas — e o Metrô e a CPTM. À diferença da prática
corriqueira no petismo, ninguém, no PSDB, classifica a apuração em si
de uma conspiração contra patriotas. O que não é aceitável é que a
investigação obedeça a critérios que são de natureza
político-partidária. E isso, lamento, está mais do que evidenciado pela
sequência dos fatos e pelas decisões e falas de autoridades envolvidas
na investigação. O manda-chuva do Cade é o petista Vinicius Carvalho; o
chefe de Carvalho é José Eduardo Cardozo. Pois é…
Um dos
principais investigados no caso é o empresário Arthur Teixeira, que a
Polícia Federal chama de “lobista”. Eduardo Carnelós, seu advogado,
rechaça a classificação e apresenta evidências de que ele é um consultor
da área e que faz um trabalho legal. Pois é… Em defesa de seu cliente,
Carnelós poderia evocar nada menos, parece-me, do que o testemunho
justamente do ministro. Por quê? Porque Cardozo conhece Arthur. Mais do
que isso: Cardozo esteve ao menos duas vezes com Arthur. Mais do que
isso: Cardozo quis discutir com Arthur temas relativos justamente à área
de transportes. O ministro sabe que os encontros aconteceram. Cardozo,
um homem preocupado, queria debater o fortalecimento da indústria
nacional no setor.
E olhem
que Arthur foi procurado por emissários do petista. Os encontros
aconteceram há coisa de dez anos, talvez um pouco mais. Isso nos remete a
2002, ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez, e
Cardozo, deputado federal. O emissário do companheiro entrou em contato,
na verdade, com Sérgio Meira Teixeira, que morreu em 2011, então sócio
de Arthur.
Indagado a
respeito, Carnelós admite que os encontros, de fato, aconteceram. E
afirma que Sérgio e Arthur não tiveram qualquer conversa com o petista
que implicasse práticas ilegais. E emenda o advogado: “Nem com o agora
ministro nem com as demais autoridades e políticos com os quais meu
ciente se encontrou em razão de suas atividades profissionais regulares e
legais”.
Cardozo, pede pra sair!
Não dá! A Polícia Federal que o senhor Cardozo chefia chama Arthur de lobista. Ele próprio e seu advogado exibem elementos demonstrando que é um consultor da área. O agora ministro tem de dizer se seus encontros foram mantidos com um lobista ou com um consultor. Arthur não mudou de ramo. O petista deve saber por que considerava os dois empresários referências na área.
Não dá! A Polícia Federal que o senhor Cardozo chefia chama Arthur de lobista. Ele próprio e seu advogado exibem elementos demonstrando que é um consultor da área. O agora ministro tem de dizer se seus encontros foram mantidos com um lobista ou com um consultor. Arthur não mudou de ramo. O petista deve saber por que considerava os dois empresários referências na área.
Teixeira,
justa ou injustamente, está no centro da, como chamarei?, “operação
Cade-Polícia Federal”. Cardozo é o chefe dos dois órgãos. Sua relação
pregressa com um investigado dessa importância — e é impossível o
ministro não se lembrar das conversas — não poderia ter sido omitida.
Suponho que nem a presidente Dilma soubesse.
“Ah, o
encontro aconteceu há dez anos…” Certas coisas não morrem nem
envelhecem, não é mesmo? A memória, por exemplo. E Cardozo é um homem de
boa memória. “Encontrar-se com alguém é crime?” Claro que não! Quando,
no entanto, esse encontro aconteceu entre o agora ministro da Justiça, a
quem estão subordinados Cade e Polícia Federal, e um empresário que é
considerado por esses órgãos um elemento essencial da investigação, aí
as coisas se complicam muito. E se complicam ainda mais quando se
examina o papel de Cardozo em todo esse episódio.
Já havia elementos de sobra para o ministro pegar o boné. Apareceu mais um.
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