Yves-Michel Riols - Le Monde
O simbolismo da situação é desconcertante. Se no passado a pequena
República báltica da Lituânia teve seu papel crucial no colapso do
comunismo, ao ser a primeira a ousar proclamar sua independência da
URSS, em 1991, hoje ela assiste de camarote ao retorno maciço da Rússia
para sua antiga zona de influência.
Ainda que o presidente ucraniano, Viktor Yanukovitch, esteja em Vilnius, onde ele encontraria na sexta-feira seus colegas europeus, entre eles François Hollande, parece pouco provável que ele vá voltar atrás nessa decisão, anunciada no dia 21 de novembro, após sofrer pressões de Moscou. Dez mil manifestantes pediram mais uma vez a assinatura do acordo com a UE, na quinta-feira (28) em Kiev.
É um grande revés para a diplomacia europeia, que subestimou o enorme empenho da Rússia em enfraquecer seus vizinhos. A Ucrânia, a menina dos olhos, acabou cedendo às ameaças. Dos cinco outros países inicialmente associados a esse processo (Armênia, Belarus, Moldávia, Geórgia e Azerbaijão), só restaram dois sobreviventes: a Moldávia e a Geórgia, cujos dirigentes deverão assinar na sexta-feira um acordo de associação com a UE. Considerando as ambições iniciais dessa Parceria, que visava atrelar as antigas Repúblicas soviéticas à Europa, é um minguado prêmio de consolação.
Fim da história, então? Não necessariamente. "Ainda que a Ucrânia tenha desistido, o trabalho continua", acredita Nicu Popescu, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS). A linha de frente agora se deslocou para a Moldávia e a Geórgia. E essa batalha ultrapassa de longe o minúsculo peso demográfico desses dois países, povoados com somente 4 milhões de habitantes cada um.
O que está em jogo nessas duas candidaturas é uma "briga de dois titãs", diz Michal Baranowski, diretor do German Marshall Fund, um centro de pesquisas em Varsóvia. "O conflito em torno da Parceria Oriental marca o retorno brutal da rivalidade geopolítica nas fronteiras da Europa, que parecia ser coisa do passado desde que o Muro de Berlim caiu", ele analisa.
Em oposição ao projeto europeu, que pretende estender progressivamente suas normas de direito e de governança em sua vizinhança, Moscou propõe uma União Eurasiana, baseada na coerção e na lealdade. "Com a Ucrânia, o presidente Putin venceu a primeira partida, e ele não pretende parar por aí", prevê Baranowski.
O confronto que se abre em torno da Moldávia e da Geórgia é ainda mais simbólico pelo fato de que se trata dos dois países mais pró-ocidentais da antiga esfera soviética. A Rússia usará todo seu peso para fazê-las cederem. O cronograma lhe oferece uma margem de manobra inesperada.
Os acordos assinados pela Moldávia e pela Geórgia só deverão ser formalmente assinados com a UE no final de 2014. Até lá, ressalta um colaborador do primeiro-ministro moldavo, "é esperada uma ampla campanha de intimidação." Ele prevê que "a Rússia vai tentar derrubar o governo pró-europeu de centro-direita com base na oposição comunista pró-Rússia." As autoridades de Chisinau também temem uma nova tentativa de desestabilização econômica, segundo uma fórmula conhecida: chantagem sobre o preço do gás e embargo comercial.
Já a Geórgia sabe até onde podem ir as represálias de Moscou: os tanques russos não hesitaram em invadir seu território, em 2008, para resolver um conflito de fronteiras, algo que não se via desde a guerra fria. Só não se sabe se o novo presidente georgiano, Giorgi Margvelashvili, partidário de uma relação mais pacífica com Moscou, se mostrará mais conciliador do que seu turbulento antecessor, Mikhail Saakashvili, cujo escritório era decorado por uma bandeira europeia.
Para além da mobilização previsível da Rússia, o que virá depois da cúpula de Vilnius testará sobretudo a determinação dos europeus em defender aquilo que resta da Parceria Oriental. "Eles dispõem de toda uma paleta de ferramentas para conseguir a Moldávia e a Geórgia", acredita Nicu Popescu: "retirada das restrições a vistos, acesso aos mercados da UE para compensar bloqueios russos, liberação de linhas de crédito etc." Senão, já se sabe o que vai acontecer: as declarações de intenções europeias não terão grande peso diante do rolo compressor da Rússia.
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