quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Obama sinaliza volta da diplomacia como peça central da política externa
Mark Landler - NYT
24.nov.2013 - Susan Walsh/AP
O presidente dos EUA, Barack Obama, faz anúncio no domingo (24) depois de o G5+1 chegar a um acordo com o Irã sobre o programa nuclear iraniano 
O presidente dos EUA, Barack Obama, faz anúncio no domingo (24) depois de o G5+1 chegar a um acordo com o Irã sobre o programa nuclear iraniano
O fim de semana passado terminou com o primeiro sinal tangível de um acordo nuclear com o Irã, depois de mais de três décadas de hostilidade. Em seguida, na segunda-feira, veio o anúncio sobre a realização de uma conferência, em janeiro próximo, para tentar mediar o fim da guerra civil na Síria.
O sucesso de ambas as negociações, sucesso que o presidente Barack Obama vem tentando alcançar há muito tempo, dificilmente está assegurado --na verdade, as chances podem estar contra essas conversações. Mas os dois acontecimentos quase simultâneos constituem declarações vigorosas de que a diplomacia, a venerável, mas muitas vezes insatisfatória, arte do compromisso, voltou a ser a peça central da política externa dos Estados Unidos.
Em um certo nível, a intensa atividade diplomática reflete o fim definitivo do mundo pós-11 de setembro, dominado por duas grandes guerras e por uma batalha épica contra o terrorismo islâmico que atraiu os Estados Unidos para o Afeganistão e que ainda mantém os drones Predator norte-americanos voando sobre o Paquistão e o Iêmen.
Mas essa atividade diplomática também reflete uma redução gradual mais ampla do uso da força por parte dos EUA – principalmente no Oriente Médio –, assim como a disposição de lidar com governos estrangeiros como eles são, em vez de fazer pressão para que novos líderes, que encarnam melhor os valores norte-americanos, assumam o poder nesses países. "A mudança de regime" no Irã, ou até mesmo na Síria, está "fora de moda"; já os acordos com antigos adversários está "na moda".
Para Obama, a mudança para a diplomacia cumpre uma promessa de campanha feita em 2008, segundo a qual ele estenderia a mão aos inimigos da América e falaria com quaisquer líderes estrangeiros sem estabelecer pré-condições. Mas essa postura também vai submetê-lo a riscos políticos consideráveis, como atestam os protestos contra o acordo com o Irã por parte do congresso norte-americano e de seus aliados no Oriente Médio.
"Nós estamos testando a diplomacia. Não estamos recorrendo imediatamente ao conflito militar", disse Obama ao defender o acordo com o Irã, firmado na segunda-feira passada em São Francisco. "Conversa dura e arrogância podem ser a coisa fácil a se fazer politicamente, mas não são a coisa certa para a nossa segurança".
Ainda assim, a diplomacia é um negócio demorado e confuso, que geralmente gera resultados inconclusivos. Para um presidente norte-americano é mais difícil obter o apoio do público interno para uma negociação multilateral do que para um ataque com mísseis, embora o profundo cansaço que os norte-americanos sentem em relação às guerras tenha reforçado o instinto de Obama em prol da adoção de acordos negociados, em vez de ações unilaterais.
Muito dessa diplomacia tem sido exposta ao público durante as viagens regadas a muita cafeína realizadas pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que, além de seu trabalho relacionado ao Irã e à Síria, convenceu os israelenses e os palestinos a retomarem suas negociações de paz. Poucas horas depois de selar o acordo nuclear com o Irã, em Genebra, na Suíça, ele voou para Londres para realizar conversações sobre a conferência da Síria.
Mas algumas das negociações cruciais ocorreram às escondidas. Em março passado, segundo autoridades do governo norte-americano, Obama autorizou um pequeno grupo de altos funcionários da Casa Branca e do Departamento de Estado a viajarem secretamente para Omã, o sultanato do Golfo Pérsico, onde se encontraram cara a cara com as autoridades iranianas para explorar a possibilidade de um acordo nuclear.
O sigilo se fazia necessário, disseram as autoridades, pois permitiria que os Estados Unidos e o Irã discutissem as linhas gerais de um acordo nuclear sem medo de que os detalhes vazassem. Deixar os outros de fora eliminou as agendas concorrentes que acompanham os seis parceiros de negociação envolvidos nas conversações formais de Genebra.
Mas a divulgação de que os Estados Unidos e o Irã estavam realizando negociações a portas fechadas irritou França, que deixou registrado seu desagrado há duas semanas, quando avisou que a proposta que estava sendo discutida era muito branda e que não aceitaria um "acordo de otários".
Apesar da ênfase de Obama na diplomacia, os analistas observaram que os Estados Unidos, muitas vezes, dependem de outros para tomar a iniciativa. No caso do Irã, essa pressão externa veio da eleição de Hassan Rowhani como presidente, com sua intenção de buscar um relaxamento nas sanções punitivas contra o país.
No caso da Síria, a pressão externa veio de uma proposta russa para que o presidente Bashar Assad entregasse e destruísse seus arsenais de armas químicas, uma opção que a Casa Branca aproveitou como uma maneira de evitar o ataque militar --que, primeiro, Obama ameaçou realizar, mas do qual desistiu posteriormente.
"O acordo sobre as armas químicas tornou a diplomacia iraniana muito mais viável e atraente para o governo Obama", disse Vali R. Nasr, reitor da Johns Hopkins School of Advanced International Studies e ex-funcionário da administração Obama. Mas ele acrescentou: "Nem na Síria nem no Irã há nenhum tipo de ambição de que seja alcançado algo maior".
Obama pediu que Assad deixasse o poder. Mas os esforços diplomáticos do presidente norte-americano em relação à Síria têm feito pouco para conseguir esse resultado --e a conferência do próximo mês, em Genebra, provavelmente demonstrará que, longe de estar negociando sua saída, Assad está é se se agarrando ainda mais ao poder.
Da mesma maneira, em relação ao Irã o governo dos EUA está convencido de que está negociando o equivalente a um acordo de controle de armas em resposta a uma ameaça específica à segurança. Uma abertura mais ampla para o Irã --que poderia transformar o país em um parceiro em questões regionais como a Síria ou no Afeganistão, ou até mesmo abrir seu sistema político-- parece algo distante.
Para Obama, tudo isso pode importar menos do que resolver a ameaça nuclear do Irã, uma conquista que lhe permitiria reduzir a preocupação dos Estados Unidos com o Oriente Médio e faria com que ele se voltasse para mais uma de suas prioridades em termos de política externa: a Ásia.
"Obama é um presidente que foi eleito com a promessa de encerrar duas guerras de forma responsável", disse Bruce O. Riedel, ex-funcionário do governo dos EUA que atua como membro sênior da Brookings Institution. "Agora ele também pode dizer que evitou uma terceira guerra."
Antes que ele possa ter a certeza sobe isso, no entanto, Obama está diante da traiçoeira tarefa de negociar um acordo final. Desta vez, o governo terá que fazer a negociação com os seus parceiros, e enfrenta o ceticismo veemente de Israel e de membros do congresso.
"As negociações com o Irã são um circo total", disse R. Nicholas Burns, ex-subsecretário de Estado que coordenou a política para o Irã durante o governo Bush. "Esse será um dos casos diplomáticos mais complexos e difíceis de todos os tempos."
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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