O custo de enterrar a fiação
O Estado de S.Paulo
Desde que foi aprovada, há oito anos, pela Câmara
Municipal a Lei 14.023, que obriga concessionárias, empresas estatais e
operadoras de serviço a enterrar todo o cabeamento instalado no
Município - redes elétrica, telefônica, de TV e assemelhados -, São
Paulo ensaia a execução de planos destinados a tornar isso realidade. A
regulamentação da lei, que data de 2006, estabelece a necessidade de, a
cada ano, transferir 250 quilômetros de cabo dos postes para o subsolo.
Apesar disso, a capital tem hoje somente 7% de mais de 30 mil
quilômetros de fios e cabos enterrados.
O problema é que a lei determina o que fazer, mas não estabelece quem
vai pagar a conta dessa obra que, pelos cálculos da AES Eletropaulo,
chegaria a R$ 100 bilhões - o equivalente a duas vezes o seu patrimônio.
A empresa não quer assumir esse custo - pelo menos não sozinha -,
porque a seu ver estão em jogo principalmente questões de urbanismo.
Mas, para a Prefeitura, quem usa espaço público para explorar uma
atividade comercial lucrativa não pode fugir a essa responsabilidade.
Há exageros de todos os lados. A estimativa da Eletropaulo, de R$ 5,8
milhões por quilômetro de fiação transferida para o subsolo, é
considerada alta demais, uma vez que em outros países, como os Estados
Unidos, o custo foi a metade disso. Ela calcula que somente para
enterrar a fiação do centro expandido seriam gastos R$ 15 bilhões e as
obras durariam no mínimo dez anos.
Pressionada pelos planos divulgados no início do ano pelo prefeito
Fernando Haddad, que anunciou sua intenção de fazer valer a lei, a
Eletropaulo divulgou as conclusões de um estudo feito pela consultoria
McKinsey a respeito. Um dos modelos sugeridos nesse trabalho prevê que
80% dos custos sejam financiados por meio de isenção fiscal sobre
serviços relacionados ao enterramento (ISS) e aos equipamentos (ICMS).
Esse total incluiria também contribuições a serem feitas pelo governo
federal e pelas demais empresas que utilizam a rede aérea. Os 20%
restantes seriam repassados à tarifa paga pelos consumidores, o que
representaria aumento de 5% a 10%.
O reajuste seria gradual, conforme o andamento das obras, por um
prazo de 30 anos, correspondendo ao período de amortização dos
investimentos. Conta de luz de R$ 100,00, por exemplo, aumentaria
progressivamente até atingir R$ 110,00, valor que seria mantido, com os
reajustes normais, por pelo menos três décadas.
O investimento é alto, mas os ganhos por ele proporcionados são
incontestáveis, considerando as questões de urbanismo, segurança e
qualidade do serviço prestado. Dados da Eletropaulo mostram que os
desligamentos na rede aérea são de quatro a cinco vezes mais frequentes
do que na subterrânea. A cada ano, os paulistanos permanecem no escuro
pelo menos dez horas. Esse total seria reduzido para duas horas.
Em seguida ao anúncio feito em janeiro, de que pretende livrar São
Paulo do emaranhado de fios que polui a paisagem urbana, o prefeito
Fernando Haddad criou a Câmara Técnica de Gestão de Redes, que trabalha
no planejamento dessa operação em conjunto com as empresas
concessionárias de energia, telecomunicações, telefonia e dados. Uma das
ideias em discussão, considerando que a maior parte dos custos decorre
da perfuração do subsolo, é entregar o projeto para empreiteiras no
modelo de parceria público-privada. Elas construiriam as galerias para
abrigar os cabos e as alugariam para as companhias que precisam dessas
estruturas. O custo seria dividido, reduzindo o impacto na tarifa para o
consumidor e nos cofres públicos.
A melhoria trazida pelo enterramento das redes vai muito além da
redução do desconforto causado pelos desligamentos frequentes. São Paulo
é uma cidade de serviços e um apagão de uma hora nos eixos comerciais,
onde empresas atuam conectadas a todo o mundo, traz prejuízo
incalculável à economia do País. No trânsito, nas escolas e no comércio,
o impacto é igualmente muito grande. Todos ganharão, portanto, com o
fim das redes aéreas de fiação.
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