Feridas de Honduras
FSP
O ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya prejudica a frágil democracia
de seu país ao não reconhecer a vitória do governista Juan Orlando
Hernández na eleição presidencial realizada domingo.
Com quase todos os votos apurados, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE)
proclamou o triunfo do candidato apoiado pelo presidente Porfirio Lobo.
Na disputa de apenas um turno, Xiomara Castro, mulher de Zelaya, ficou
em segundo lugar --seu marido, no entanto, a declarou "presidente
eleita".
Não há motivos para levar a sério alguém que em 2009 tentou permanecer
no poder por meio de um golpe plebiscitário de inspiração chavista e
terminou legalmente deposto do cargo e indevidamente expulso de seu
país.
Ainda que não fosse por seu histórico, Zelaya não mostra nenhuma
evidência para comprovar a alegada manipulação de resultados; o
processo, ademais, foi considerado legítimo por diversas missões
internacionais de observação.
Terá havido, sem dúvida, abusos durante a campanha. Essa é a regra em
praticamente toda parte; também o é, e talvez com mais força, num país
onde cerca de 40% da população sobrevive com menos de US$ 1,25 por dia.
Clientelismo e uso da máquina estatal favoreceram Hernández. Sua
legenda, o conservador Partido Nacional, distribuiu benesses --de
cimento a cestas básicas-- às vésperas da eleição e compensou, por um
instante decisivo, a baixa popularidade do governo. Mas isso não se
confunde com suposta fraude comandada pelo TSE.
De resto, a agremiação de Zelaya, o Libre, conseguiu resultado notável.
Fundado há apenas dois anos, rompeu o secular bipartidarismo entre o
Partido Nacional e o Partido Liberal --além da votação expressiva de
Xiomara, deve obter a segunda bancada no Congresso e diversas
prefeituras.
O que interessa aos 8,4 milhões de habitantes a partir de agora é saber
se o novo cenário político ajudará o país a enfrentar seus graves
problemas. Basta dizer que Honduras detém a mais alta taxa de homicídios
do mundo, 86,5 assassinatos por 100 mil (cerca de três vezes maior que a
do Brasil), devido ao narcotráfico internacional e à atuação de gangues
armadas.
O presidente eleito Juan Orlando Hernández promete combater a violência
com o emprego de militares em tarefas policiais de rua. A medida, sempre
temerária, é mais preocupante num país instável, com feridas de 2009
ainda abertas e um ex-presidente destemperado.
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