Romaria a presídio foi um equívoco, diz Dilma a petistas
Para presidente, privilégios como visita fora de hora de deputados irritam outros presos e prejudicam condenados
Demonstração de tratamento especial é 'tremenda bola fora', diz Dilma ao lembrar experiência na cadeia
NATUZA NERY/VALDO CRUZ - FSP
Apesar de ter determinado silêncio no governo sobre as prisões dos
condenados do mensalão, a presidente Dilma Rousseff reprovou o regime
privilegiado que permitiu visitas fora de hora aos petistas presos no
Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
Ela considerou um erro a romaria de políticos que foi à cadeia visitar
os petistas na primeira semana de detenção. E vê o risco de que outros
presos e seus parentes fiquem revoltados com a situação.
Em viagem a Fortaleza no dia 22, Dilma discorreu sobre os três anos em
que ficou presa durante o regime militar e, diante de ministros e
congressistas, falou sobre o que a experiência lhe ensinou para evitar
problemas na prisão.
Além de auxiliares do primeiro escalão, estavam a bordo do avião
presidencial o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão do
deputado José Genoino (SP), preso na Papuda com o ex-ministro José
Dirceu e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
A romaria de políticos à Papuda reuniu 26 deputados do PT no dia 20 para
ver Dirceu, Delúbio e Genoino --que depois saiu do cárcere para
tratamento médico e aguarda decisão sobre seu destino.
Dilma recomendou aos petistas que as visitas sejam breves para não
irritar os familiares dos demais presos, com acesso mais restrito às
áreas de segurança e sempre submetidos a controle rígido para conseguir
entrar no local.
O mandato assegura aos congressistas visitas fora dos dias
convencionais. Mas a caravana de políticos irritou familiares dos presos
que formam filas nas madrugadas dos dias de visita e gerou críticas.
Para Dilma, episódios assim podem gerar animosidade desnecessária na
Papuda contra os petistas presos.
"Eu estive lá, sei como é", disse a presidente, conforme relatos de
participantes da viagem a Fortaleza, relembrando seus anos na Torre das
Donzelas, apelido da ala onde ficava no antigo presídio Tiradentes de
1971 a 1974.
Dilma afirmou que a regra básica no cárcere é conquistar a confiança dos
outros presos. Também é "fundamental saber cozinhar", aconselhou a
presidente durante a conversa no avião.
Para ela, além de garantir a qualidade da comida, o trabalho na cozinha
ajuda a matar o tempo e pode funcionar como terapia. No regime
semiaberto ao qual estão submetidos os petistas, é possível ser
selecionado para trabalhar na cantina da cadeia.
"Os presos comuns e os carcereiros eram nossos aliados", disse. Na
ditadura, os carcereiros costumavam comprar livros encomendados pelos
presos políticos. Assim como os outros detentos muitas vezes
transportavam bilhetes trocados entre os homens e mulheres detidos por
se opor ao regime militar.
Em seguida, conforme contaram alguns dos presentes durante a viagem a
Fortaleza, Dilma classificou como "tremenda bola fora" a exibição de
tratamento diferenciado.
Apesar das críticas, a presidente manifestou, mais uma vez, preocupação
com a saúde de Genoino. Operado para uma correção na artéria aorta
recentemente, ele teve um pico de pressão e foi hospitalizado. Agora
aguarda decisão sobre seu destino na casa de um parente. Duas juntas
médicas consideraram que seu quadro não é grave.
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