Reinaldo Azevedo - VEJA
Quanto mais o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tenta se explicar, mais ele se enrola. É um absurdo que ainda não tenha se demitido. É um absurdo maior que ainda não tenha sido demitido. Refiro-me à lambança que hoje une o ministro, o presidente do Cade, Vinícius Carvalho, a Siemens e um ex-diretor da empresa. Cardozo está se candidatando a chefe de um estado policial. É bom que todos ponham as barbas de molho. Se Dilma Rousseff obtiver, e tudo indica que deve ser assim, um segundo mandato, o risco de kirchnerização do país, também no que respeita à política, é real.
Cardozo
veio a público para dizer que cumpriu sua obrigação ao entregar, como
disse ter feito, à Polícia Federal um documento sem assinatura em que
Everton Rheinheimer, ex-diretor da Siemens, acusa secretários do governo
Alckmin e outros políticos de participar de um esquema de propina
ligado à compra de trens. Pois é… Ocorre que, segundo a própria PF, tal
documento fora fornecido pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), presidido por Carvalho, o petista.
Foi uma coisa ou outra? Muito provavelmente, as duas. Explico.
Desde o
começo, sobram evidências de que o acordo de leniência firmado pela
Siemens junto ao Cade tem um endereço certo: o governo de São Paulo.
Esta gigante é uma grande fornecedora de estatais federais, sobretudo no
setor elétrico. Nada de cartel com esses entes subordinados ao governo
do PT? Será que os “companheiros”, que hoje têm um núcleo na Papuda, são
patriotas demais para se entregar a essas práticas?
A
dobradinha entre Carvalho e o deputado licenciado Simão Pedro (PT-SP),
hoje secretário de Fernando Haddad, já ficou mais do que evidente. O
político fez a denúncia; Carvalho, seu ex-funcionário, propôs o acordo;
diretores e ex-diretores da Siemens aceitaram. O Cade se transformou, em
seguida, uma central de vazamentos de informações contra o governo de
São Paulo, “nas gestões Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, todos
do PSDB”, para usar expressão tornada célebre pela TV Globo. UM ENTE DO
ESTADO BRASILEIRO ERA USADO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PARTIDÁRIA COM
O BENEPLÁCITO DE SETORES CONSIDERÁVEIS DA IMPRENSA.
A Siemens,
tudo indica, admitiu a formação de cartel, mas não o pagamento de
propina a autoridades do governo. Ora, isso era pouco para o PT e para a
campanha eleitoral de Alexandre Padilha. Era preciso apimentar a
história. E surge, então, o tal documento em que Everton Rheinheimer,
ex-diretor da Siemens, acusa secretários do governo de envolvimento com
pagamento e recebimento de propina e caixa de campanha. Adicionalmente,
este senhor pede um emprego na Vale e diz contar com o apoio “do
partido” — o “partido”, claro!, é o PT. É simplesmente espantoso.
O
documento saiu do Cade para a Polícia Federal? Muito provavelmente,
sim!, conforme, aliás, memorando da própria PF. Isso evidencia que um
órgão do estado se transformou, sem mais haver chance de dúvida, num
instrumento de luta partidária. Cardozo vem, então, a público para dizer
que não. O texto lhe teria sido entregue por Simão Pedro, e o próprio
ministro teria se encarregado de enviá-lo à polícia.
Se foi
Cardozo a entregar uma denúncia como aquela, que não traz uma só
evidência, além do “ouvi dizer”, já é coisa grave. Ou ele chama a PF
sempre que lhe passam um papel que não tem nem assinatura? Ocorre que o
mais provável é que ele esteja, como direi?, faltando com a verdade e
oferecendo seu nome para lavar a conspirata em curso no Cade, de onde o
papel deve mesmo ter saído. Assim, o ministro teria agido só para
proteger Carvalho, seu subordinado e homem que tem o controle da
operação. Em qualquer das duas hipóteses, o que resta claro é que
Cardozo está acompanhando meticulosamente a coisa. E não só essa. Este
petista dedicado também centraliza as “informações” do caso Alstom — há
gente sua inteiramente dedicada à questão.
Já era evidente
Já era evidente que a investigação sobre a formação de cartel obedecia a uma estratégia político-partidária. O Cade se transformou numa mera franja do PT. Não havia, como não há, evidências de que Mário Covas, Geraldo Alckmin ou José Serra estivessem pessoalmente envolvidos na lambança. Foi preciso, então, politizar um pouco mais a história. Para isso, foi usada a denúncia de Rheinheimer.
Já era evidente que a investigação sobre a formação de cartel obedecia a uma estratégia político-partidária. O Cade se transformou numa mera franja do PT. Não havia, como não há, evidências de que Mário Covas, Geraldo Alckmin ou José Serra estivessem pessoalmente envolvidos na lambança. Foi preciso, então, politizar um pouco mais a história. Para isso, foi usada a denúncia de Rheinheimer.
Foi
Cardozo ou foi Carvalho? A resposta é simples: foi a polícia política do
PT! Se Dilma deixar tudo como está, a decisão vale como uma ameaça.
Afinal, há a possibilidade de um segundo mandato, e operações
politicamente fraudulentas como essa podem se repetir, com mais
intensidade. Não se esqueçam de que o ministro foi um dos três
coordenadores da campanha eleitoral de Dilma — nas suas palavras, era
“um dos Três Porquinhos”.
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