O crédito ainda alimenta o consumo e a alta de preços
O Estado de S.Paulo
Um dia depois de ter anunciado uma nova alta dos juros
básicos para conter a inflação, o Banco Central (BC) divulgou seu novo
relatório mensal de política monetária e operações de crédito do sistema
financeiro. Os dois temas estão relacionados, porque a expansão dos
financiamentos, especialmente às pessoas físicas, tem sido um dos
principais combustíveis do aumento de preços ao consumidor. Em outubro,
segundo o relatório, o estoque total de crédito do sistema financeiro
aumentou 0,5% e chegou a R$ 2,61 bilhões, 55,4% do Produto Interno Bruto
(PIB) estimado. A proporção foi pouco menor que a do mês anterior,
55,5%, mas bem maior que a de um ano antes, 52,4%. O aumento de 1,2% na
carteira de pessoas físicas explica o crescimento do crédito acumulado
nas instituições financeiras.
No mesmo dia, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou os detalhes do
Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) de novembro. O aumento do
indicador geral passou de 0,86%, em outubro, para 0,29%, neste mês,
freado pela menor variação dos preços no atacado (apenas 0,17%, depois
de 1,09% no mês anterior). Mas a alta de preços ao consumidor, também
componente do IGP-M, acelerou-se de 0,43% para 0,65% e acumulou variação
de 5,55% em 12 meses. A maior parte das pesquisas tem apontado
aceleração dos aumentos no varejo.
Parte da explicação da persistente alta de preços ao consumidor está
no crescimento constante do crédito. Além dos dados sobre variação do
estoque acumulado na carteira dos bancos, o BC divulgou também a
evolução mensal das operações. De setembro para outubro o total das
operações aumentou 4,7%.
Os empréstimos às famílias cresceram 5,7%, depois de diminuir 3% no
mês anterior, com variação de 5,6% no crédito pessoal, 5,8% no cartão de
crédito à vista, 14,2% nas compras de veículos, 5,6% nas operações com
imóveis e 4,5% no crédito rural. Os desembolsos para pessoas jurídicas
haviam aumentado 1,5% em setembro e cresceram 3,8% no mês passado.
Embora tenham mostrado maior cautela durante alguns meses, os
consumidores parecem ter recobrado a disposição de se endividar e
gastar. Como a capacidade produtiva da indústria pouco se expandiu neste
ano, por causa da insegurança do ambiente econômico, o descompasso
entre a demanda de consumo e a oferta de bens deve continuar alimentando
a alta de preços ao longo dos próximos meses.
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