Albert Gea/ Reuters
Manifestantes fazem protesto contra as medidas de austeridade do governo de Barcelona (Espanha)
Uma parte significativa do governo, à frente da qual se encontra o ministro da Economia, Luis de Guindos, quer utilizar os bancos nacionalizados pela crise (Bankia, Catalunya Banc, Novagalicia Banco) como instrumentos de sua política econômica. Não por acaso, eles atingem cerca de 15% da cota de mercado do sistema financeiro espanhol. Substancialmente, em dois campos: que liderem a recuperação do crédito às empresas e famílias, e que, ao livrar-se de suas participações industriais (sobretudo o Bankia na IAG, Indra ou Iberdrola), não deem lugar nas mesmas a sócios indesejáveis, do tipo fundos abutres. Para isso, a banca nacionalizada deverá se transformar em banca pública, pelo menos enquanto não se iniciar um processo de privatização da mesma, se é que ocorrerá (do que poucos duvidam, pelo menos enquanto o PP governar). Uma banca pública composta por entidades diferentes, sem holding nem fusões, com conselheiros delegados diferentes, limpa de produtos lixo (transferidos para o banco ruim), recapitalizadas com 40 bilhões de euros procedentes de Bruxelas e com boas equipes administrativas (muitos destacam a presença de José Ignacio Goirigolzarri). Portanto, nossas autoridades deverão explicar com profundidade, luz e taquígrafos, em que consistirá essa coordenação de que falam.
Se a mesma for efetiva, não será bem recebida pelo resto do setor financeiro privado, que neste momento não passa por um romance com o governo Rajoy. Foi o que disse há alguns dias o presidente da patronal bancária, Miguel Martín: "A parte saudável do setor está pagando o que o Estado não pode pôr [seguramente se referia aos derrames do Fundo de Garantia de Depósitos para dar liquidez às preferentes, às ajudas ao banco ruim...]. Se é preciso que haja créditos, será necessário cuidar da parte saudável, porque é quem pode atender à economia".
Tampouco parecia estar muito de acordo com a banca pública o subgovernador do Banco da Espanha, Fernando Restoy, que, em um artigo teórico intitulado "A intervenção estatal no setor bancário", dentro de um livro-homenagem ao economista Julio Segura ("Ensayos sobre economía y política económica", Antoni Bosch ed.), escrito muito antes que o governo se pronunciasse sobre o assunto - disse essencialmente que a propriedade pública não é, em geral, um mecanismo eficaz para corrigir as imperfeições do mercado de serviços bancários e, com frequência, tende a acentuá-las.
Depois de uma nacionalização por necessidade, em uma espécie de socialização das perdas, o governo se encontrou com um grupo de entidades bancárias que, no extremo, poderia ser uma espécie de germe da antiga Argentaria. Será preciso ficar atentos a sua hipotética privatização (neste caso também o peixe pequeno comeria o grande, como antes?) e para a extraordinária concentração do setor resultante, muito parecido com um oligopólio.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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