João Bosco Rabello - OESP
A celebração dos 10 anos do bolsa-família, além de restringir o benefício à era Lula, ignorando sua origem e aplicação anteriores, tem o sentido claro de trazer para a campanha política o tema da inclusão social, em contraponto à economia que os adversários já elegeram como o ponto vulnerável do governo Dilma.
Também responde às críticas feitas à ausência de um sistema de inclusão gradual dos beneficiários no mercado de trabalho, retirando do programa a característica de mesada.
Nesse caso, a fala da presidente já prenuncia o que será o tom na campanha: ao velho estilo do PT, Dilma parte de acusação fictícia para construir a resposta. Assim, afirma que os críticos do programa pedem sua extinção e responde à ficção que ela própria criou.
Deixa sugerido que repetirá a estratégia da privatização de outras campanhas, quando o PT acusou o adversário de privatizar o Banco do Brasil, entre outras instituições. Agora, com o bolsa-família.
Lula, fiel ao seu estilo, entrou na campanha para ficar e, claro, negando que ela esteja em curso e, muito menos, que Dilma nela esteja mergulhada até o pescoço. A ênfase no social sob ameaça da oposição já está desenhado no discurso e nas declarações de Lula e da presidente na cerimônia de hoje. É a resposta às críticas de Aécio Neves e Eduardo Campos à estagnação do programa.
Em sua fala, Dilma disse claramente que os críticos do programa querem acabar com ele, sugestão que nenhum dos seus adversários teve o destemor até agora de pronunciar. “Muitos gostam de dizer que Bolsa Família tem de acabar porque já durou demais. Como é que já durou demais? É possível acabar em uma década uma miséria construída em séculos? O Bolsa Família vai existir enquanto houver uma só família pobre neste País”.
Ao contrário do que sustenta a presidente, uma década é bastante tempo para resultados próximos da erradicação. No caso do bolsa-família, pelo menos, é tempo de sobra para seu aperfeiçoamento e para que uma ponte para a inclusão dos beneficiados no mercado já estivesse construída.
Por trás desse raciocínio, fica a mensagem de que apenas o PT é capaz de garantir que a atual política social será mantida. Um recado direto a um quarto da população brasileira contingente que, segundo dados do próprio governo, se beneficia da assistência.
Dilma e Lula também retomam o velho conceito de que apenas o PT tem sensibilidade com os pobres, reforçando estigma de que o PSDB se preocupa apenas com a economia e os ricos.
“Ninguém que governou de costas para a população tem legitimidade para condenar o combate à desigualdade que fizemos”, disse a presidente. “Dinheiro aplicado em gente não é gasto, é investimento”, reforçou Lula.
Cumprindo o script do seu departamento de marketing, a presidente destacou as iniciativas que complementam o Bolsa Família, como o Pronatec, programa de acesso ao ensino técnico – numa resposta às cobranças por uma porta de saída da dependência do Estado.
“O programa nunca veio para ser o fim do caminho, mas uma ponte. O fim da miséria é só o começo”, disse.
A cerimônia desta quarta-feira mostrou principalmente que a dupla Dilma-Lula e a máquina do governo federal estão mergulhados na campanha eleitoral – ainda falando sozinhos com os adversários concentrados em acertos internos.
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