sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Redução de danos no caso Eike Batista
O Globo
Guardadas diferenças de dimensões e de época, o empresário Eike Batista repete a trajetória de personagens do mundo dos negócios das décadas de 70 e 80, quando o país ficou conhecido pelo “milagre econômico” e patinou, depois, no terreno de uma hiperinflação atenuada pela correção monetária.
Na essência, Eike já atendeu pelos nomes de José Luís Moreira de Souza (grupo Decred), Lynaldo Uchoa de Medeiros (Lume) e Assis Paim Cunha (Coroa-Brastel).
Cada um tem sua peculiaridade, mas todos repetem a rápida ascensão à glória e um também veloz mergulho rumo à falência. Ou a proximidades dela. No primeiro momento, encantam governantes, ganham trânsito livre em gabinetes de governos e, depois, explodem espalhando prejuízos.
Eike tem particularidades pelo fato de existir como empresário num país diferente daquele de há 30, 40 anos. Há um mercado de capitais mais desenvolvido e uma grande abertura ao exterior em relação àqueles tempos.
O idealizador das “empresas x” pôde captar volumosos recursos privados, internos e externos, por meio do lançamento de ações e bônus. Caso da OGX, cotada ontem a R$ 0,13 ao ser retirada do índice da Bolsa (Ibovespa), 99% abaixo do pico de mais de R$ 23, em outubro de 2010, quando investidores acreditavam nas estimativas de Eike de grandes reservas de petróleo nas áreas em perfuração pela empresa, hoje candidata à recuperação judicial.
Eike tem, ainda, a especificidade de cultivar um discurso pelo empreendedorismo privado —, mas não deixou de contar com o apoio do BNDES, inevitável por se tratar da única fonte de recursos de longo prazo no país. A Caixa Econômica também liberou empréstimo a Eike, para o estaleiro OSX.
Todo esforço deve ser feito para reduzir-se danos da já anunciada maior quebra na América Latina, envolvendo quatro empresas da OGX: R$ 11,2 bilhões em dívidas, inclusive em bônus no exterior. Assim, de sétimo maior bilionário do mundo, Eike Batista também mergulhou neste tipo de ranking.
Os percalços do empresário não podem desmerecer a figura do empreendedor. Deve-se, ainda, reconhecer que, ao contrário de outros, o empresário tem se desfeito de ativos para, com recursos próprios, compensar perdas.
Transparecem nesta desventura empresarial graves falhas na avaliação de risco. A começar pelo próprio empresário; depois, dos investidores privados, nacionais e estrangeiros, e do próprio BNDES, certamente inebriado pela então “estratégia” de criação de “campeões nacionais”, fonte de prejuízos para o banco em outras operações.
É preciso imenso cuidado na proteção ao contribuinte, tradicionalmente lesado em situações como estas. Neste momento de baixa na sua trajetória empresarial, Eike precisa ser coerente com seu discurso pró-capitalismo, regime em que a eficiência é premiada com o lucro e as falhas, com prejuízos, e que devem ser sempre privados.

Nenhum comentário: