Brasil ameniza texto contra espionagem
Projeto de resolução na ONU deixa de mencionar diretamente que monitoramento é 'violação' de direitos humanos
Texto falará apenas em impacto negativo sobre direitos; recuo visa obter mais apoio para aprovação na entidade
TAI NALON - FSP
Apresentado no início do mês por Brasil e Alemanha à ONU (Organização
das Nações Unidas), o projeto de resolução que condena práticas de
espionagem perpetradas pelos EUA sofreu alterações nesta semana que
atenuaram o tom das críticas.
Sob o risco de ver seu mais contundente ataque à diplomacia americana
desde o início do governo não produzir efeito e ser rejeitado, a
presidente Dilma Rousseff autorizou, com o governo alemão, mudanças no
documento.
Agora, em vez de propor que a Assembleia-Geral declare estar
"profundamente preocupada com as violações dos direitos humanos"
decorrentes "de qualquer vigilância de comunicação", o projeto dirá que
as nações signatárias estão "profundamente preocupadas com o impacto
negativo que a vigilância (...) pode ter no exercício e desfrute dos
direitos humanos".
Trata-se de um recuo da diplomacia brasileira, que chegou a cancelar
visita de Estado que Dilma faria a Washington em outubro como retaliação
às denúncias de espionagem.
Em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral, em setembro, Dilma
atacou a prática e citou a expressão "direitos humanos" cinco vezes em
20 minutos.
"Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra soberania.
Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido
mediante a violação de direitos humanos e civis fundamentais dos
cidadãos de outro país", disse Dilma na ocasião.
Segundo o Itamaraty, por se tratar de um documento coletivo, adaptações de discurso devem ser feitas.
No entanto, ao retirar a referência direta aos direitos humanos, a
resolução perderia o impacto ao não relacionar privacidade a direitos
fundamentais.
A mudança foi empreitada para angariar mais apoio, para que a moção seja
aprovada pelas 193 nações que compõem a 3ª Comissão da
Assembleia-Geral, que trata de direitos humanos.
Entidades como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, que
manifestaram apoio ao discurso brasileiro na reunião da
Assembleia-Geral, disseram que as modificações manterão o assunto na
pauta da ONU.
O novo texto deverá ser apresentado oficialmente na próxima semana, em
nova reunião da comissão. O projeto já recebeu o apoio de 24 países,
incluindo o México, também vítima de violações do tipo. A ideia, porém, é
que mais nações endossem o documento, copatrocinando-o ou votando a seu
favor.
Resoluções não obrigam os países a adotá-las, ao contrário das decisões
tomadas pelo Conselho de Segurança. Porém, dependendo dos países que a
endossem, esses documentos podem ter peso diplomático considerável.
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