sábado, 23 de novembro de 2013

Cambistas se queixam da possibilidade de pacto entre EUA e Irã
Thomas Erdbrink - NYT 
Sentado sobre uma estátua de bronze no centro da modesta praça Manoucheri em Teerã, onde um grupo de cambistas ilegais se reúne todos os dias, um homem careca brandiu uma espessa pilha de notas de dólar, como dezenas de outros gritavam números. "Bem-vindo ao casino ao ar livre de Teerã", disse Behzad, 34, um homem sorridente no meio da multidão que se reunia em torno da estátua. "Aqui todo mundo pode ficar muito rico ou perder tudo. Na verdade, a maioria das pessoas aqui perdem tudo."
Durante a maior parte da última década, especialmente desde que as sanções financeiras ocidentais começaram a endurecer nos últimos dois anos, o dólar tem reinado no mercado de câmbio de Teerã. Com as receitas de petróleo do governo caindo e a inflação em alta, a moeda nacional iraniana, o rial, despencou – de 10 mil para o dólar até 40 mil em seu ponto mais baixo. Para a maioria das pessoas, a questão nunca foi se deveriam trocar o rial pelo cólar, mas sim quando.
Mas estes dias, a tendência do mercado de câmbio mudou. Com a perspectiva de um acordo provisório quanto ao programa nuclear do Irã – e o afrouxamento das sanções, o que pode ajudar a reanimar a economia moribunda do Irã – o destino da sofrida moeda iraniana parece mais esperançoso. Algumas pessoas até começaram a pensar que pode fazer sentido agora se livrar dos dólares.
Uma coisa com que todos os comerciantes podem concordar é que as coisas estão lentas no mercado esses dias, sem as oscilações drásticas que fornecem oportunidades de lucro para os cambistas mais experientes. "Se você quer alguém para trabalhar para você, sou a pessoa certa", disse um cambista em tom de brincadeira, citando um preço que chegava a US$ 13 (R$ 26) por dia.
Muitos cambistas falam saudosamente dos tempos de glória durante a presidência de Mahmoud Ahmadinejad. Naquela época, quando o presidente negou o Holocausto e falou sobre varrer Israel do mapa, o rial sofreu perdas pesadas. À medida que as sanções foram estabelecidas, a moeda afundou ainda mais. "Aqueles foram dias fantásticos", lembrou um cambista, que disse que trocava dólares em 10 minutos gerando lucros para exércitos de iranianos de classe média tentando proteger suas economias.
Nem todo mundo era tão pessimista. O negócio de câmbio de dinheiro tinha tornado Behzad rico, disse ele. Vestindo um paletó de grife italiana e botas de couro lustradas, ele se destacava em relação à maioria dos cambistas, que na maioria havia chegado em motocicletas baratas chinesas estacionadas em volta de toda a praça.
"Você acha que estou blefando? Olhe para isso", disse ele, segurando seu iPhone 5 para mostrar uma foto de si mesmo vestido só com shorts a uma mesa de vidro com pilhas enormes de notas de dólares. "Para mim, as sanções realmente funcionaram. Eu só faço câmbio acima de um milhão", disse Behzad . "O que você está vendo aqui é apenas a ponta do iceberg."
Em volta da praça, centenas de cambistas se enfileiravam nas calçadas. Alguns trabalhavam para escritórios oficiais de câmbio, outros operavam em carros e becos.
Durante décadas o governo tem sido o maior jogador, procurando o mercado negro para vender dólares do petróleo em troca de rials para pagar salários e outras despesas domésticas. "Há dias em que eles fecham toda a área com a tropa de choque", disse um comerciante, que está no setor de câmbio desde 1986. Em outubro de 2012, quando o rial estava em sua mais acentuada queda, os cambistas foram detidos, alguns deles presos e seu dinheiro apreendido. Na época, o governo disse que os cambistas estavam manipulando o mercado.
Mas alguns dos comerciantes disseram que na verdade era o governo Ahmadinejad que estava envolvido em manipulações do mercado, tentando faze o dólar subir. "Quando eles trazem as forças de segurança isso significa que querem que o dólar suba, para que possam obter mais rials para seus dólares", disse um comerciante.
Behzad, o jovem cambista, disse não acreditar em conspirações; na verdade ele não acredita em nada que não seja o poder do dólar todo-poderoso. "Nada será resolvido, os líderes da República Islâmica ficarão conversando com os presidentes norte-americanos por décasa e o dinheiro sempre precisará ser trocado", disse.
Ele explicou como ele e outros costumavam comprar dólares no Irã de cidadãos comuns e levár o dinehiro em maletas para Dubai e Turquia, para comprar ouro. "Por causa de diferenças nas taxas, cada viagem rende em torno de US$ 20 mil (R$ 40 mil)", disse ele. "Eu adoro as sanções. Espero que elas nunca sejam removidas."
Tradutor: Eloise De Vylder

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