Khalid Mohammed/AP
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Quando o primeiro-ministro Nouri al-Maliki, do Iraque, visitou pela última vez a Casa Branca, ele e seu anfitrião pintaram um retrato resplandecente sobre a situação Do Iraque após a retirada das forças norte-americanas do país. "O primeiro-ministro está liderando o governo mais inclusivo que já existiu no Iraque", disse o presidente Barack Obama em uma entrevista coletiva conjunta concedida com Al-Maliki em dezembro de 2011. "A violência no país tem se mantido em um nível recorde de baixa".Quase dois anos depois, no entanto, muitos dos avanços políticos e relativos à segurança que Obama aclamou nessa entrevista foram revertidos. Os atentados a bomba aumentaram drasticamente no Iraque. A Al-Qaeda que atua no país se renovou e, agora, o grupo terrorista também se expandiu para a Síria para alimentar a guerra civil do país vizinho.
Quando Al-Maliki se reunir com Obama nesta sexta-feira, ele deverá solicitar a ajuda militar dos EUA na forma de helicópteros de combate Apache, de serviços de inteligência e de outros tipos de apoio para combater o terrorismo. E para conquistar o congresso e o público norte-americano, que tem se mostrado relutante em revisitar o passado dos EUA no Iraque, o primeiro-ministro será ajudado por uma proeminente empresa de lobby de Washington: o Grupo Podesta, para o qual o governo iraquiano está pagando US$ 960 mil por ano. Um funcionário da embaixada iraquiana disse que o grupo prestou consultoria ao Iraque sobre como o país poderia fazer sua mensagem chegar aos ouvidos certos, além de coletar "feedback" sobre em um recente artigo assinado que Al-Maliki escreveu para o The New York Times.
Em suas declarações públicas, Al-Maliki e altos funcionários dos EUA têm retratado o Iraque, em grande parte, como uma vítima das circunstâncias – principalmente dos distúrbios que estão transbordando para a vizinha Síria e dos países cujos governos foram derrubados pelas manifestações da Primavera Árabe.
Certamente muitos dos jihadistas que vieram para a Síria para guerrear contra o governo de Bashar Assad têm sido reaproveitados por filiais regionais da Al Qaeda para servir como homens-bomba no Iraque. Mas especialistas dizem que as políticas ambivalentes de Washington e Bagdá também contribuíram para a rápida deterioração da situação da segurança no país.
Al-Maliki tem se mostrado relutante em pedir abertamente o apoio dos EUA. Uma ex-autoridade dos EUA disse que, em 2012, Al-Maliki estava prestes a pedir para que os Estados Unidos enviassem drones de reconhecimento ao Iraque para ajudar a identificar as crescentes ameaças terroristas, mas recuou no último momento, quando o pedido se tornou público.
Segundo os críticos, a relutância de Al-Maliki em dividir o poder com a minoria sunita e do país e sua inclinação autoritária também proporcionaram um terreno fértil para que a Al Qaeda se tornasse uma opção atraente. "Basicamente, ele isolou a maior parte dos sunitas e permitiu que as autoridades judiciais e policiais agissem sem nenhum controle", disse James Jeffrey, ex-embaixador dos EUA no Iraque durante o governo Obama.
Outro fator em jogo, de acordo com uma análise sigilosa realizada pela CIA, é a corrupção dentro das forças de segurança e do Ministério da Justiça do Iraque. Isso ajudou os agentes da Al-Qaeda a subornarem guardas de postos de controle e a promoverem fugas das prisões do país.
Mas a recusa do governo Obama em ser arrastado para um conflito que declarou publicamente encerrado também tem sido um elemento importante dessa equação. Autoridades do governo dos EUA insistem que os Departamentos de Estado e de Defesa, bem como o vice-presidente, Joe Biden, que era o homem de confiança de Obama no Iraque, não perderam seu foco no país. Mas alguns ex-funcionários disseram que o envolvimento do governo Obama no Iraque tem sido ocasional, na melhor das hipóteses.
"Nós simplesmente não temos nos envolvido com o Iraque em um nível elevado", disse Ryan Crocker, embaixador dos EUA no Iraque durante os governos Bush e Obama. "Kerry fez a uma visita ao país, e essa foi a primeira visita de um secretário de Estado dos EUA em cinco anos – e não houve mais nenhuma outra visita".
Desde a retirada das tropas norte-americanas do Iraque, a embaixada dos EUA em Bagdá mantém um escritório de cooperação para a área de segurança do país, que tem como missão facilitar a venda de armas e atuar, de forma significativa, como mentora de oficiais iraquianos. Mas, devido às pressões orçamentárias, esse escritório de cooperação terá que reduzir sua equipe dos originais 260 funcionários para 59 até o ano fiscal de 2015.
Um relatório divulgado em setembro passado, confeccionado pelo inspetor-geral do Departamento de Defesa dos EUA, informou que esse escritório de cooperação tem sido atormentado por divergências entre os Departamentos de Estado e de Defesa sobre sua real missão. O documento também questionou se a cooperação para a área de segurança do Iraque pode ser levada a cabo adequadamente com uma equipe de apenas 59 funcionários.
Michael Knights, membro sênior do Instituto Washington para a Política do Oriente Próximo, que retornou recentemente de uma viagem ao Iraque, disse que as condições de segurança se deterioraram seriamente no país. Segundo ele, em 2010 ocorria um episódio sincronizado de atentados a bomba em várias cidades a cada quatro meses. Agora, segundo ele, um episódio como esse ocorre aproximadamente a cada 10 dias.
Segundo Knights, a crescente presença de filiais da Al-Qaeda no oeste do Iraque transforma esses terroristas num alvo convidativo para ataques aéreos com drones por parte dos norte-americanos. Mas qualquer reflexão séria sobre essa opção tem se mostrado impossível, considerando-se a relutância de Al-Maliki em solicitar uma ação militar dos EUA e a relutância do governo norte-americano em voltar a se envolver militarmente no Iraque.
No entanto, a Casa Branca está avaliando os pedidos de Al-Maliki para receber ajuda militar adicional e para combater o terrorismo, num momento em que a Al-Qaeda, que recobrou sua força recentemente, está construindo novos campos, centros de treinamento e áreas de estágio no oeste do Iraque, disseram funcionários do governo norte-americano.
Oficiais das áreas de inteligência e contraterrorismo dos EUA dizem que mapearam efetivamente os locais e as origens dessas novas redes criadas pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante e que estão compartilhando essas informações com os iraquianos.
"Como essa ameaça realmente se acelerou nos últimos, digamos, seis a oito meses, nós estamos tentando trabalhar de maneira ainda mais próxima com os iraquianos para ajuda-los a aprimorar sua visão sobre a situação", disse um alto funcionário do governo norte-americano, sem fornecer mais detalhes.
Com a violência terrorista em ascensão no país, o Iraque também tem intensificado suas encomendas de armamentos dos Estados Unidos, que incluem helicópteros Apache e os mísseis Hellfire que essas aeronaves disparam – armas que, segundo as autoridades norte-americanas, não são eficazes contra insurgentes caso não existam operações de inteligência detalhadas para mapear a localização dos inimigos.
Al-Maliki instou o congresso dos EUA a acelerar a aprovação da venda de várias dessas armas, incluindo os helicópteros Apache. Mas, durante reuniões realizadas no Capitólio esta semana, senadores influentes questionaram o primeiro-ministro iraquiano sobre o que, segundo eles, seria sua incapacidade de incluir adequadamente sunitas e curdos no governo xiita do país. Os senadores também questionaram a permissão concedida por Al-Maliki para que o Irã utilizasse o espaço aéreo do Iraque para transportar armas e suprimentos ao governo sírio.
Uma reunião de uma hora de duração realizada na quarta-feira passada com os dois principais senadores da Comissão de Relações Exteriores acabou mal, e os parlamentares se abstiveram de aprovar a venda dos helicópteros Apache.
"Parecia que nós estávamos falando sobre a mesma coisa, mas, na verdade, estávamos discutindo coisas diferentes", disse o senador Bob Corker, do Tennessee, líder da bancada republicana no painel. "Ele não parecia compreender nenhuma de nossas preocupações e demonstrou não ter muita consideração pelo que estávamos dizendo".
O senador Robert Menendez, democrata de Nova Jersey, que dirige a comissão, disse que ficou "extremamente decepcionado" durante a reunião, e acrescentou: "eu fiquei com a impressão de que não houve o reconhecimento de nenhum dos desafios que a sociedade iraquiana enfrenta hoje em dia".
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