Philippe Mesmer - Le Monde
Ao fundo, o Banco Central do Japão (BOJ), em Tóquio
Volta da inflação e crescimento moderado.Essa foi a constatação feita na quinta-feira (31) pelo Banco do Japão (BoJ) para o exercício de 2013, que se encerra no final de março de 2014. Prevendo uma alta dos preços de 0,6%, o Banco Central parece confirmar em seu relatório semestral que o país está saindo de 15 anos de deflação.
O BoJ continua confiante, ainda que a alta possa não durar em razão do aumento do IVA [imposto sobre valor agregado], de 5% para 8%, em abril de 2014, o que seria um risco para o consumo. No entanto, ele manteve inalterada sua política de aumento da massa monetária "de um montante entre 60 e 70 trilhões de ienes [entre R$1,35 e R$1,58 bilhão] anuais". É uma das principais medidas da "Abenomics", as decisões do governo do primeiro-ministro, Shinzo Abe, para retomar a atividade econômica.
Outra previsão do BoJ: um crescimento de 2,7% do PIB para o exercício de 2013. A instituição avalia que a terceira maior economia do mundo está "em recuperação moderada", um número similar à média dos que foram revelados na quarta-feira (30) pelos principais institutos privados. A atividade deverá se beneficiar de uma demanda interna "ainda firme", que se manteria antes do aumento do IVA.
Esses anúncios coincidem com os resultados em geral positivos dos grupos nipônicos para o primeiro semestre do ano fiscal. As indústrias estão se beneficiando com a fragilidade do iene e as medidas de apoio do governo.
A montadora Mitsubishi anunciou, na terça-feira, lucros líquidos em alta de 55% entre abril e setembro, no total de 46,7 bilhões de ienes, e prevê ganhos recordes para o exercício de 2013. Os da Honda aumentaram 46% no mesmo período. Para todo o exercício, a siderúrgica Nippon Steel & Sumitomo Metal revisou para cima seus lucros brutos, assim como a fabricante de materiais eletrônicos e de informática Toshiba. Até a companhia de eletricidade Tokyo Electric Power deve anunciar lucros na quinta-feira (31), algo que não se via desde o início do desastre nuclear de Fukushima de março de 2011, com 120 bilhões de ienes no primeiro semestre.
Voluntarismo
Nesse contexto, as casas de títulos japonesas Nomura Holdings e Daiwa Securities têm mostrado lucros robustos apesar das incertezas associadas a um eventual endurecimento da política monetária americana.As duas empresas tiveram um aumento sensível de suas atividades de financiamento das empresas japonesas, sobretudo para operações no exterior. "Foi graças à Abenomics que os grupos japoneses se recuperaram", acredita Mikita Komatsu, diretor financeiro da Daiwa.
Prova do voluntarismo demonstrado pelos grupos japoneses é o fato de que a gigante das telecomunicações NTT vai comprar os grupos de informática americanos Virtela Technology e RagingWire Data Centers, bem como o espanhol Everis Group. Essas operações vêm na sequência da compra, em julho, da americana Sprint por parte da operadora de telefonia móvel Softbank. A fabricante de têxteis e de fibras Toray anunciou no final de setembro a aquisição da americana Zoltek.
Os bons resultados das empresas poderiam se traduzir em aumentos de salários, exigidos há meses pelo governo. "Como o clima dos negócios melhorou," declarou, na terça-feira, o presidente da Mitsubishi, Osamu Masuko, "é natural melhorar o nível de vida dos funcionários". O mesmo discurso é mantido pela fabricante de máquinas para construção civil Komatsu ou ainda a gigante da indústria pesada Hitachi.
Essas previsões não bastam para ignorar as persistentes dificuldades de grupos como a Sharp (eletrônicos), cujas perdas no primeiro semestre chegaram a 4,3 bilhões de ienes, ou a Nintendo, cujo novo console Wii U não está tendo o sucesso esperado. A fabricante de aparelhos fotográficos Canon revisou para baixo suas previsões para o exercício de 2013, em razão da desaceleração da atividade na China, na Índia e no Brasil.
Essa situação faz lembrar que o clima econômico mundial continua muito frágil. Segundo o governo, as exportações japonesas recuaram em setembro, em relação a agosto: 5,8% para os Estados Unidos e 1,7% para a Ásia.
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