sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Ucrânia negocia entrada na UE sobe pressão dos todos os lados
Christopher Alessi - Der Spiegel          
Gleb Garanich/Reuters
Ativistas do partido nacionalista ucrâniano Svoboda (que significa liberdade) gritam palavras de ordem durante protesto
Ativistas do partido nacionalista ucrâniano Svoboda (que significa liberdade) gritam palavras de ordem durante protesto
Mediadores da União Europeia retornaram à Ucrânia na última terça-feira (29) para negociar a libertação do ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, que está presa. A iniciativa faz parte do último esforço para tentar salvar um acordo de associação entre a UE (União Europeia) e a Ucrânia, que está pendente.
O tratado, previsto para ser assinado durante a Cúpula da Parceria Oriental, que ocorrerá em Vilna, no próximo dia 28 de novembro, inclui um acordo de livre comércio abrangente entre a UE e a Ucrânia. O pacto deve aprofundar o envolvimento da Ucrânia com seus vizinhos ocidentais e, ao mesmo tempo, exacerbar as tensões com a Rússia. Moscou se opôs veementemente à integração econômica da Ucrânia com a União Europeia e tem pressionado para que o país faça parte de um bloco comercial conhecido como União Aduaneira com outras nações que já pertenceram à União Soviética.
Especialistas dizem que o acordo de associação com a UE pode pagar dividendos para a Ucrânia no longo prazo – tanto econômica quanto politicamente, mas alertam que Kiev pode não dispõe de vontade política para implementar as reformas que tornariam tal parceria frutífera.

"Mais normas relacionadas ao estado de direito"

O acordo, que exige da Ucrânia adoção de vários padrões comerciais e de governança da UE, poderia estimular "a implantação de mais normas relacionadas ao estado de direito e fazer a Ucrânia entrar de forma lenta, mas firme, no bloco europeu", disse Georg Zachmann, pesquisador do comitê de especialistas Bruegel. Ou, segundo Zachmann, quando o acordo for fechado, a Ucrânia poderá, finalmente, "perder sua motivação" para implementar ajustes políticos e econômicos dolorosos.
A Ucrânia pode simplesmente considerar o acordo como uma "carta" que poderá jogar em um jogo geopolítico complexo disputado com seu poderoso vizinho oriental, diz Susan Stewart, vice-chefe de pesquisa do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança. "A elite política da Ucrânia pensa apenas no curto prazo, no curtíssimo prazo", acrescentou ela. Stewart sugere que a UE superestimou "o nível de vontade política e a capacidade administrativa" da Ucrânia.
Ainda assim, não ficou claro se os dois lados ao menos conseguirão se sentar à mesa em Vilna no próximo mês. O ponto de discórdia para a UE continua sendo a chamada "justiça seletiva" da Ucrânia, que é impulsionada por um sistema judiciário altamente politizado.

Perdão total

A equipe de mediação da UE – que é liderada há mais de um ano pelo ex-presidente do Parlamento Europeu, Pat Cox, e pelo ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski – solicitou que o presidente ucraniano, Viktor Yankukovich, concedesse um perdão total para Tymoshenko. A líder da oposição foi presa em 2011, depois de ter sido condenada a sete anos de prisão após um julgamento que a UE considerou politicamente motivado. Yankukovich resistiu em anistiar Tymoschenko, mas indicou que ela poderá ser liberada e enviada para a Alemanha por motivos médicos. Os mediadores estão se concentrando em um compromisso segundo o qual Tymoshenko, 52, poderia viajar para a Alemanha para receber tratamento médico para seus problemas de coluna.
"Todos os sinais levam a crer que ela será liberada, mas a capacidade do governo ucraniano de ser derrotado no último segundo é bastante elevada", disse Ian Bond, diretor de política externa do Centro para a Reforma Europeia. Bond acrescenta que ele se mantém "cautelosamente otimista" em relação à situação.
Se a intermediação no caso de Tymoshenko for bem sucedida e o acordo de associação prosseguir, a Rússia provavelmente aumentará a pressão econômica sobre a Ucrânia por meio da imposição de novas tarifas e da proibição de certas exportações, explica Stewart. Se o acordo chegar a um impasse, acrescentou ela, a Rússia poderá aproveitar a oportunidade para obrigar a Ucrânia a se juntar à União Aduaneira.
O Kremlin adotou uma posição segundo a qual "tudo o que leva a Ucrânia para mais longe da órbita de Moscou é ruim para a Rússia", diz Bond.
Assim que Cox e Kwasniewski chegaram a Kiev, a Gazprom, estatal do setor de gás da Rússia, acusou a Ucrânia de não pagar uma conta de 641 milhões de euros que venceu em agosto. A Rússia, país que é o maior fornecedor de energia da Ucrânia, cortou suas exportações para Ucrânia durante os invernos de 2006 e 2009 devido a disputas semelhantes relacionadas aos pagamentos. Esses cortes tiveram efeitos secundários congelantes para a Europa Ocidental.
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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