Christopher Alessi - Der Spiegel
Gleb Garanich/ReutersAtivistas do partido nacionalista ucrâniano Svoboda (que significa liberdade) gritam palavras de ordem durante protesto
Mediadores da União Europeia retornaram à Ucrânia na última terça-feira (29) para negociar a libertação do ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, que está presa. A iniciativa faz parte do último esforço para tentar salvar um acordo de associação entre a UE (União Europeia) e a Ucrânia, que está pendente.
O tratado, previsto para ser assinado durante a Cúpula da Parceria Oriental, que ocorrerá em Vilna, no próximo dia 28 de novembro, inclui um acordo de livre comércio abrangente entre a UE e a Ucrânia. O pacto deve aprofundar o envolvimento da Ucrânia com seus vizinhos ocidentais e, ao mesmo tempo, exacerbar as tensões com a Rússia. Moscou se opôs veementemente à integração econômica da Ucrânia com a União Europeia e tem pressionado para que o país faça parte de um bloco comercial conhecido como União Aduaneira com outras nações que já pertenceram à União Soviética.
Especialistas dizem que o acordo de associação com a UE pode pagar dividendos para a Ucrânia no longo prazo – tanto econômica quanto politicamente, mas alertam que Kiev pode não dispõe de vontade política para implementar as reformas que tornariam tal parceria frutífera.
"Mais normas relacionadas ao estado de direito"
O acordo, que exige da Ucrânia adoção de vários padrões comerciais e de governança da UE, poderia estimular "a implantação de mais normas relacionadas ao estado de direito e fazer a Ucrânia entrar de forma lenta, mas firme, no bloco europeu", disse Georg Zachmann, pesquisador do comitê de especialistas Bruegel. Ou, segundo Zachmann, quando o acordo for fechado, a Ucrânia poderá, finalmente, "perder sua motivação" para implementar ajustes políticos e econômicos dolorosos.
A Ucrânia pode simplesmente considerar o acordo como uma "carta" que poderá jogar em um jogo geopolítico complexo disputado com seu poderoso vizinho oriental, diz Susan Stewart, vice-chefe de pesquisa do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança. "A elite política da Ucrânia pensa apenas no curto prazo, no curtíssimo prazo", acrescentou ela. Stewart sugere que a UE superestimou "o nível de vontade política e a capacidade administrativa" da Ucrânia.
Ainda assim, não ficou claro se os dois lados ao menos conseguirão se sentar à mesa em Vilna no próximo mês. O ponto de discórdia para a UE continua sendo a chamada "justiça seletiva" da Ucrânia, que é impulsionada por um sistema judiciário altamente politizado.
Perdão total
A equipe de mediação da UE – que é liderada há mais de um ano pelo ex-presidente do Parlamento Europeu, Pat Cox, e pelo ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski – solicitou que o presidente ucraniano, Viktor Yankukovich, concedesse um perdão total para Tymoshenko. A líder da oposição foi presa em 2011, depois de ter sido condenada a sete anos de prisão após um julgamento que a UE considerou politicamente motivado. Yankukovich resistiu em anistiar Tymoschenko, mas indicou que ela poderá ser liberada e enviada para a Alemanha por motivos médicos. Os mediadores estão se concentrando em um compromisso segundo o qual Tymoshenko, 52, poderia viajar para a Alemanha para receber tratamento médico para seus problemas de coluna.
"Todos os sinais levam a crer que ela será liberada, mas a capacidade do governo ucraniano de ser derrotado no último segundo é bastante elevada", disse Ian Bond, diretor de política externa do Centro para a Reforma Europeia. Bond acrescenta que ele se mantém "cautelosamente otimista" em relação à situação.
Se a intermediação no caso de Tymoshenko for bem sucedida e o acordo de associação prosseguir, a Rússia provavelmente aumentará a pressão econômica sobre a Ucrânia por meio da imposição de novas tarifas e da proibição de certas exportações, explica Stewart. Se o acordo chegar a um impasse, acrescentou ela, a Rússia poderá aproveitar a oportunidade para obrigar a Ucrânia a se juntar à União Aduaneira.
O Kremlin adotou uma posição segundo a qual "tudo o que leva a Ucrânia para mais longe da órbita de Moscou é ruim para a Rússia", diz Bond.
Assim que Cox e Kwasniewski chegaram a Kiev, a Gazprom, estatal do setor de gás da Rússia, acusou a Ucrânia de não pagar uma conta de 641 milhões de euros que venceu em agosto. A Rússia, país que é o maior fornecedor de energia da Ucrânia, cortou suas exportações para Ucrânia durante os invernos de 2006 e 2009 devido a disputas semelhantes relacionadas aos pagamentos. Esses cortes tiveram efeitos secundários congelantes para a Europa Ocidental.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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