A economia do sexo
Os japoneses parecem querer sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de uma relação
Alexandre Vidal Porto - FSP
Acho os meandros do sexo um dos grandes mistérios da sociedade japonesa. Nunca compreendi os caminhos que um casal japonês percorre da formalidade do primeiro contato à espontaneidade da intimidade física.
No Japão, as relações interpessoais obedecem a códigos tão rígidos que
parecem não ter nenhuma possibilidade de acabar em sexo. Claro que
muitas acabam. Eu é que não fico sabendo.
Os japoneses parecem querer sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de uma relação
Alexandre Vidal Porto - FSP
Acho os meandros do sexo um dos grandes mistérios da sociedade japonesa. Nunca compreendi os caminhos que um casal japonês percorre da formalidade do primeiro contato à espontaneidade da intimidade física.
A vida sexual dos japoneses tem sido objeto da curiosidade internacional. O jornal inglês "The Guardian" publicou texto sobre o desinteresse erótico da população local, e a BBC exibiu um documentário cujo título se autoexplica: "No sex please, we're japanese" ("Sem sexo, por favor; somos japoneses").
Para consubstanciar suas alegações, citam estatísticas segundo as quais, por exemplo, cerca de 45% das mulheres e 25% dos homens entre 16 e 24 anos de idade se declaram desinteressados em sexo.
Parece simplista atribuir aos japoneses, de forma genérica, falta de interesse sexual. Afinal, a indústria da pornografia no Japão movimenta bilhões de dólares, e a arte erótica japonesa remonta, pelo menos, ao século 14. Ou seja, interesse por sexo há.
Mas o que os japoneses parecem querer é sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de um relacionamento amoroso. Algo com hora para começar e acabar. Casar para quê? Para perder a liberdade e a autonomia?
Para muitas mulheres japonesas, casar e ter filhos equivale a reduzir-se à dependência econômica do marido. Cerca de 70% deixam o trabalho ao se tornarem mães. Para os homens, por sua vez, casar e ter filhos representa a obrigação de sustentar, sozinho, toda uma família. Na ponta do lápis, tais opções não parecem vantajosas para ninguém.
O vazio emocional é preenchido por hobbies, mundo virtual, animais domésticos. Não é à toa que o país é um dos grandes mercados mundiais de produtos para pets.
O vazio demográfico, no entanto, é mais difícil de compensar.
Desde o último censo, em 2010, a população japonesa reduziu-se em mais de um milhão. Nesse ritmo, até 2060, o Japão perderá um terço de seus habitantes. A relação entre a diminuição no número de casamentos e redução populacional é mais visível no Japão porque, tradicionalmente, os japoneses se casam para ter filhos. Enquanto na Inglaterra 50% das crianças nascem fora do casamento, no Japão são 3%.
As consequências desse fenômeno demográfico podem ser catastróficas para a economia. O governo japonês está atento. No entanto, influenciar por meio de políticas públicas uma decisão tão pessoal quanto ter um filho não é fácil, sobretudo diante dos potenciais custos econômicos e sociais envolvidos.
Esse problema não é exclusivo do Japão. Acontece o mesmo no Brasil, só que em ritmo mais lento. Parece óbvio que, se a maternidade e a paternidade impõem um ônus muito alto, uma parcela da população para de se reproduzir. Portanto, a sociedade tem de incentivar quem se dispõe a dar-lhe essa contribuição. Toda vez que encontrar uma grávida, agradeça o esforço!
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