sábado, 2 de novembro de 2013

Taleban anuncia morte de seu número 1 no Paquistão
Hakimullah Mehsud teria morrido em ataque de avião não tripulado dos EUA
FBI oferecia US$ 5 mi pela captura do líder extremista; governo paquistanês prometia negociar com talebans
FSP
Autoridades do Taleban não identificadas anunciaram que o principal líder do grupo extremista no Paquistão, Hakimullah Mehsud, foi morto por um ataque de drones (aviões não tripulados) dos EUA na região tribal do Waziristão do Norte, que fica no nordeste paquistanês.
A notícia foi divulgada ontem pelas redes BBC e Al Jazeera, que a atribuíram a fontes no Taleban; mais tarde, a agência Associated Press e o "New York Times" disseram tê-la confirmado com autoridades paquistanesas e americanas também anônimas.
Relatos anteriores sobre a morte de Mehsud acabaram se provando falsos, mas dessa vez representantes do próprio grupo fundamentalista confirmaram o fato, o que lhe dá mais credibilidade.
Segundo a BBC, o líder extremista estava 5 km ao norte da principal cidade do Waziristão, Miranshah, quando seu veículo foi atingido por quatro mísseis. Outras quatro pessoas, entre elas dois guarda-costas de Mehsud, teriam morrido no ataque.
Mehsud, de idade estimada em 34 anos, chefiava mais de 30 grupos extremistas que operam no noroeste do Paquistão, na divisa com o Afeganistão, e era acusado por milhares de mortes --o FBI oferecia recompensa de US$ 5 milhões pela sua captura.
Também se suspeita de que Mehsud estivesse por trás da fracassada tentativa de detonação de um carro-bomba na Times Square, um dos principais pontos turísticos de Nova York, em maio de 2010.
Ele assumiu a liderança do Taleban paquistanês em 2009, depois que o fundador do grupo, Baitullah Mehsud, foi morto, também por um drone americano.
Em maio deste ano, o número 2 de Hakimullah Mehsud, Wali-ur Rehman, já morrera em outra ação de avião não tripulado americano.
O ataque ao líder do Taleban aconteceu no mesmo dia em que o governo do Paquistão anunciou que mandaria emissários ao Waziristão do Norte para dar início a negociações de paz com os integrantes do grupo extremista.
O premiê paquistanês, Nawaz Sharif, comprometeu-se a conversar com o Taleban para obter uma trégua nas ações do grupo, que mataram milhares em ataques a bomba e tiroteios por todo o país.
Em uma rara entrevista à BBC, duas semanas atrás, Hakimullah Mehsud disse estar aberto a uma "conversa séria" com o governo do país, mas afirmou que ainda não havia sido abordado. Após sua morte, o futuro da negociação com o grupo é incerto.
Até a conclusão desta edição, a Casa Branca não se manifestou sobre o ataque.

Caso é alento para criticado programa dos EUA
Se confirmada, morte de Mehsud ajuda governo norte-americano a justificar utilização de drones em ações antiterrorismo
Embora tenha tido contatos na origem e siga com conexões esporádicas, o Taleban paquistanês não é ligado ao irmão mais famoso do Afeganistão
IGOR GIELOW - FSP
Se confirmada, a morte de Hakimullah Mehsud é uma notícia e tanto para o criticado programa de ataques com drones dos Estados Unidos.
Há duas semanas, as principais ONGs de direitos humanos do mundo, Anistia Internacional e Human Rights Watch, divulgaram relatórios duros contra mortes de civis causadas por aviões-robôs.
O Paquistão, embora apoiasse tacitamente as ações durante um bom tempo, sempre foi crítico dos tais "danos colaterais". Curiosamente, na quarta-feira passada, o país contabilizou apenas 67 civis mortos desde 2008. ONGs que monitoram o tema falam em mais de 300.
A provável morte de Mehsud reforça os argumentos dos defensores da precisão dos ataques com drones. Ele era um radical temido.
Nascido provavelmente em 1979, Hakimullah é da tribo pashtun Mehsud, influente nas áreas do Waziristão do Sul e do Norte. Replicava o estilo dos pares: cabelos longos e barba à la Che Guevara.
O seu Taleban paquistanês, o TTP (Tehrik-i-Taleban Pakistan, ou Movimento dos Estudantes do Paquistão, entendendo-se aqui que o objeto do estudo é Alcorão), é um grande guarda-chuva para diversos movimentos militantes islâmicos das áreas junto à fronteira afegã.
Embora tenha tido contatos na origem e siga com conexões esporádicas, o TTP não é ligado ao irmão mais famoso do Afeganistão.
O Taleban afegão surgiu com a guerra civil que seguiu o fim da ocupação soviética (1979-89). Com o abandono dos EUA, satisfeitos com a derrota de Moscou, o Paquistão quis ampliar sua influência regional.
Como já fomentava grupos militantes para atacar indiretamente alvos da rival Índia na disputa pela região da Caxemira, engordou o Taleban.
O movimento ganhou solo entre pashtuns do sul e do leste afegão, tomando Cabul em 1996. O resto é história: a criação de um regime medieval islâmico, o abrigo dado à Al Qaeda de Bin Laden, o 11/9/2001 e a queda após retaliação dos EUA.
Já o TTP é a amálgama de grupos apoiados pelos serviços secretos paquistaneses. Reprimidos após o apoio dado por Islamabad à guerra dos EUA, unificaram-se em 2007 sob Baitullah Mehsud, que era próximo, mas não parente de Hakimullah.
Protagonizaram sangrentos atentados, e a vítima mais famosa foi a ex-premiê Benazir Bhutto, morta em 2007. Um drone explodiu Baitullah em 2009. Agora, parece ter sido a vez de seu sucessor.

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